quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Os Bravos Nunca Se Calam, Márcio Schoenardie


“Cada vez mais, é difícil reunir as pessoas”… 


Se fôssemos encaixar “Os Bravos Nunca Se Calam” (2019), primeiro longa-metragem do diretor gaúcho Márcio Schoenardie, numa espécie de subgênero do cinema brasileiro, a associação imediata é com o filme “O Escaravelho do Diabo” (2016, de Carlo Milani), já que ambos se passam em cidades interioranas e apresentam investigações realizadas por jovens comuns, depois que alguém próximo a eles é assassinado. Tanto num como noutro, apesar da sinopse fazer pensar numa trama de suspense ou policial, a abordagem é bem-humorada, e tem como motivação principal fazer com que os personagens conheçam melhor a si mesmos… 

De fato, é o que ocorre aqui: apesar de serem irmãos, Manoela (Duda Meneghetti) e Caio (Edu Mendas) praticamente não conversam. Ela estuda Jornalismo, numa faculdade na capital, enquanto ele passa os dias inteiros enfurnado em seu quarto, treinando para um campeonato de jogos eletrônicos. Até que são obrigados a conviver por alguns dias, depois que o pai deles, o também jornalista Joaquim (José Rubens Chachá), morre num incêndio, com fortes suspeitas de que trata-se de um ato criminoso. Motivo: ele estava denunciando, num livro prestes a ser lançado, um caso de corrupção envolvendo o prefeito da cidade (Adriano Basegio). Segundo a investigação de Rubens, uma fábrica que empregava muitos cidadãos foi fechada para ser vendida a uma empresa que tem o intuito de construir um cassino no local. Será que ele tinha razão? 

No início, as interações entre Manoela e Caio são atribuladas, sobretudo porque ela não tem sequer um bom relacionamento com a sua mãe (Mirna Spritzer), mas, quando eles percebem que precisarão descobrir quem está por trás do assassinato de seu pai, farão as pazes com as suas atribulações cotidianas. Caio, por exemplo, nunca trabalhou e sequer sabe cozinhar, enquanto Manoela trata as pessoas de maneira arredia e impaciente. Para piorar, ela recebe a notícia da morte de seu pai justamente quando se preparava para uma entrevista de estágio, naquele que seria o emprego de seus sonhos. Vale a pena desistir do sucesso profissional para ajudar a família? 


Trailer



Ficha Técnica

Título original e ano: Os Bravos Nunca Se Calam, 2019. DireçãoMárcio Schoenardie. Roteiro: Tiago Rezende, Gabriel Faccini e Tomás Fleck. Elenco: Edu Mendas, Diogo Verardi, e Duda Menegheti. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora: Renan Franzen. Direção de Produção: Martina Zanetello. Direção de Fotografia: Alberto La Salvia. Direção de Arte: Martino Piccinini. Desenho de Som: Gabriela Bervian. Montagem: Raoni Ceccin e Alfredo Barros. Produção: Verte Filmes. Produção Executiva: Clarissa Milford e Isadora Pillar. Distribuição: Lança Filmes. Duração: 103min.


Essa última pergunta faz com que, de maneira sutil, o filme supere as limitações de seu enredo, associando-se ao tipo de humor e situação dramática que o realizador levou a cabo em incursões televisivas, como em sua colaboração no roteiro de “Amor de Mãe” ou na co-direção de episódios em “As Aventuras da Família Brasil”, “Mulher de Fases” e “Vida de República”. Ainda que irritemo-nos com o tom caricato da interpretação de Edu Mendas e com os arroubos de raiva de Duda Meneghetti, os encontros que eles perpetuam são divertidos, sobretudo quando encontram o estagiário Pachequinho (Diogo Verardi) ou um informante que é membro de uma sociedade terraplanista. Não são suficientes para consertar as firulas do roteiro, mas levam-nos a querer acompanhar a estória até o fim e descobrir quem são os culpados… 


O título do filme – que é também do livro que Rubens escreve – é válido em seu tom afirmativo e em sua necessária exortação do compromisso jornalístico com a verdade, já que são perigosos que sejam os procedimentos que conduzem a ela. No desfecho, uma revelação permanece em aberto, fazendo-nos pensar se diretor e roteiristas têm interesse em dar continuidade a essa trama. Em sua modéstia de execução, talvez seja um filme que não alcance todos os públicos, mas, para quem apreciou a obra infanto-juvenil mencionada no primeiro parágrafo, é um complemento bem-intencionado. Merece uma chance, ao menos.

 
17 DE NOVEMBRO NOS CINEMAS

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