“Quando tu concedes esperança a uma pessoa, ela faz qualquer coisa que tu queiras”!
A quantidade de filmes realizados sobre o Holocausto Judeu é infindável. E, ainda assim, volta e meia surgem novos enredos baseados em acontecimentos verídicos, apresentando situações não conhecidas pelo público, que trazem à tona mais componentes da crueldade dos nazistas – sobretudo, no que diz respeito aos traumas incutidos em quem conseguiu sobreviver. É o caso desta coprodução entre Alemanha e israelense, que mostra as ações clandestinas de um grupo que desejava envenenar o reservatório de água da cidade de Nuremberg, imediatamente após a II Guerra Mundial, em 1945…
No início, uma voz em ‘off’ pergunta-nos: “se tu visses toda a sua família morrer, o que tu farias?”. O questionamento direto ao espectador serve para instaurar um potencial de empatia em relação à difícil questão moral associada ao protagonista, Max (August Diehl), obcecado por vingança. Ao longo da trama, ele encontra outros judeus sobreviventes, tão revoltados quanto ele, a ponto de alguém complementar a lei de talião, “olho por olho, dente por dente”, com a seguinte (e chocante) equivalência: “seis milhões por seis milhões”. Mas será que assassinar tantas pessoas ajudaria a expurgar os fantasmas perpétuos da perseguição nazista? Eis algo que assombra o próprio Max, inclusive.
Ao voltar para a sua casa, suspeitando que sua esposa e seu filho foram mortos, Max é recebido com hostilidade por um alemão que invadiu a sua residência e apossou-se dela: “essa propriedade agora é minha!”. Enfraquecido e espancado, ele conhece um idoso, Avraham (Yehuda Almagor), que alega ter aprisionado a morte numa sacola de estopa. Quando eles encontram um grupo de palestinos – antes da criação de Israel, esclarecemos – que colabora com os aliados britânicos no enfrentamento de situações do imediato pós-guerra, passam a perseguir e executar os soldados alemães que se escondiam sob a fachada da vida civil. Os sobreviventes, por sua vez, são enviados para a então Palestina, quando surge uma frase que será repetida ao longo do filme, quase como um mantra: “iniciar uma vida feliz é a melhor das vinganças”…
Créditos: Divulgação
Sem decidir efetivamente entre o drama e o tom de ação, este filme nos oferece um desfecho mui decepcionante, em sua bifurcação da realidade que redunda numa questão ideológica assaz problemática, visto que a migração para a Palestina – e, por extensão, a fundação do Estado israelense – desencadeou uma nova lógica bélica, que faz com que, ainda hoje, alguns militares judeus ajam como vilões, em variegadas perspectivas. Essa confusão é recorrente nas ações e pensamentos de Max, mas aparece de maneira unidimensional à guisa de discurso tramático, não obstante o roteiro propor-nos uma interessante reflexão: todos os alemães são culpados?
Comparar o tipo de interação entre os sobreviventes judeus (que disfarçam as suas práticas religiosas, para não serem hostilizados) e os alemães deste filme com o clássico “Alemanha, Ano Zero” (1947, de Roberto Rossellini) é uma recomendação válida, no sentido de que ambos os filmes demonstram a importância dos mutirões populares na reconstituição da Alemanha, então invadida por várias tropas internacionais, “que dividem a cidade entre eles como se fosse um bolo”, tal qual afirmado por um dos personagens. Dentre os resistentes, destacamos a participação da sofrida Anna (Sylvia Hoeks), que se atormenta ao lembrar do sufocamento de seu filho pequeno, durante uma fuga…
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Plan A, 2021. Direção e Roteiro: Yoav e Doron Paz. Elenco: August Diehl, Sylvia Hoeks, Michael Aloni, Nikolai Kinski, Milton Welsh, Oz Zehavi, Yoel Rozenkier, Ishai Golan. Gênero: Drama, Suspense. Nacionalidade: Alemanha, Israel. Trilha Sonora Orginal: Tal Yardeni. Fotografia: Moshe Mishali. Figurino: Gudrum Leyendecker. Direção de Arte: Inga Skypnyk. Design de Produção: Renate Schmaderer. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 109min.
Os diretores deste filme, Yoav e Doron Paz, são irmãos e “Plano A” (2021) recebeu indicações importantes nalguns festivais. Porém, a indefinição de seu gênero faz com que ele frustre algumas parcelas do público, tanto aqueles que anseiam pela punição dos nazistas, de maneira violenta, quanto os que esperam ficar emocionados perante a descrição da crueldade de práticas ocorridas nos campos de concentração. A confissão de que Max fazia parte dos ‘Sonderkommandos’ acrescenta outro dilema às suas lamentações: vale tudo para sobreviver?
A despeito das questões supracitadas, concernentes às intenções políticas de seus realizadores, percebemo-nos diante de uma produção eficiente, que reitera que ainda temos muito a descobrir sobre esta hecatombe imperdoável, que foi a inoculação do antissemitismo enquanto determinação nacional. Repudiar qualquer faísca de ressurgimento do fascismo é uma obrigação cinéfila, inclusive!
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