Gerard Butler é um herói. Ou pelo menos é o que Hollywood parece acreditar. Após se tornar conhecido por interpretar o personagem-título da versão de Joel Schumacher de O Fantasma da Ópera e cair nas graças do público como o hiper-torneado Rei Leônidas em 300, de Zack Snyder, atualmente a carreira do ator escocês parece estar concentrada numa proposta com um pouco mais de adrenalina, priorizando papeis de heróis de ação e seguindo um caminho semelhante ao de outros atores que abraçaram o gênero, como Bruce Willis e Liam Neeson.
Em Alerta Máximo, dirigido por Jean-François Richet, Butler interpreta Brodie Torrance, o capitão de um voo comercial que precisa realizar um delicado pouso de emergência após o avião ser atingido por uma tempestade severa. Contudo, o alívio da tripulação e dos passageiros dura pouco ao descobrirem que estão presos num território hostil comandado por uma violenta milícia separatista que acaba por torná-los reféns. Enquanto uma equipe de especialistas em resgate envia mercenários para lidar com a crise, Brodie se une a Louis Gaspare (Mike Colter), um prisioneiro condenado transportado pelo FBI no voo, para resgatar os sobreviventes e fugir antes que seja tarde.
Há décadas o cinema dos Estados Unidos cimenta no imáginário popular o conceito do herói escondido entre civis, um cara simpático e aparentemente comum que em situações de risco se revela um macho alfa, vira o líder de um grupo em perigo e, no fim das contas, salva o dia. Trata-se de um arquétipo de brucutu que pode ter diferentes níveis de testosterona, geralmente tem experiência como militar ou policial (com um passado sombrio opcional, talvez uma tragédia familiar), e sempre que o roteiro precisar vai provar ter grande desenvoltura com armas e habilidades físicas de um lutador de MMA. Alerta Máximo exige de Gerard Butler simpatia para conquistar a confiança e a torcida do público e vigor físico para convencer nas cenas de porradaria pesada. Já tendo experiência em filmes do gênero, não é surpresa que o ator se sai muito bem no posto de herói de Ação e provavelmente consegue garantir sua carreira no gênero ainda por muito tempo. Propostas para viver outros personagens como este certamente não vão faltar.
Créditos: Lionsgate
Gerard Butler é tão dono do filme que foi o ator quem bateu o pé para que o nome do filme se mantivesse como ''Plane'', no original, quando o estúdio queria alterar o mesmo.
O maniqueísmo da construção narrativa já é característico do gênero e Alerta Máximo não falha em honrar esta tradição. Mesmo que o personagem de Mike Colter (um ex-militar da Legião Estrangeira Francesa) apresente alguns resquícios de nuances, o filme deixa claro quem são os reais antagonistas. Estes vilões, milicianos filipinos bárbaros, existem simplesmente para explorar a população local e tirar proveito de reféns estrangeiros que sequestram para extorquir suas famílias em troca de resgate. O roteiro faz questão de estabelecer que eles são os caras maus e que, devido a isso, precisam ser punidos. A consequência disso são cenas de violência gráfica em que homens racializados são brutalmente alvejados e mutilados pelos personagens de Butler e Colter, com a colaboração do time de mercenários contratados para cuidar da situação que o governo dos Estados Unidos não poderia resolver com diplomacia. É curioso (e preocupante) como o discurso violento por trás das escolhas de produções como estas é, consciente ou inconscientemente, contrabandeado para o subconsciente coletivo das pessoas que consomem blockbusters. Provavelmente o público-alvo destes filmes não se incomoda com a forma banalizada como a violência contra populações não-brancas e não-falantes de Inglês é representada, nem se preocupa com as implicações políticas que podem ser acarretadas pela naturalização de intervenções imperialistas de forças militares (oficiais ou não) invadindo outras nações a bel-prazer. Tais questões certamente merecem reflexão.
Alerta Máximo não tenta refletir sobre política ou imperialismo, usando tais elementos simplesmente como pano de fundo para uma história convencional fabricada para entreter seu público. Considerando a superficialidade da proposta que o conduz, o filme acaba por ser bem-sucedido em sua execução, agradando quem estiver procurando um programa com muita ação e pouca necessidade de ponderação. Contudo, quanto mais se contempla sobre as questões secundárias que o filme trata, mas nas quais se recusa a se aprofundar, mais fica evidente a sensação de que certas obras convenientemente abraçam o rótulo de entretenimento para se isentarem de qualquer compromisso com sua própria responsabilidade sobre as histórias que contam. Fora dos filmes, no mundo real, determinar quem é herói e quem é vilão não é tão simples.
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Ficha Técnica
- Título original e ano: Plane, 2023. Direção: Jean-François Richet. Roteiro: Charles Cumming e J.P. Davis. Elenco: Gerard Butler, Daniela Pineda, Tony Goldwyn, Mike Colter, Lilly Kruc, Remi Adeleke, Paul Ben-Victor, Tara Westwood, Kelly Gale, Joey Slotnick, Kate Rachesky, Oliver Trevena. Gênero: Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami e Marco Trumpp. Fotografia: Brendan Galvin. Edição: David Rosenbloom. Design de Produção: Mailara Santana. Figurino: Erinn Knight. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h47m.
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