A Primeira Comunhão, de Víctor García | Assista nos Cinemas


“No amor e na guerra é uma coisa; na balada e na diversão é outra”!

Uma das características que tornam o gênero terror político por excelência está na maneira como estes enredos apresentam os personagens em situações limítrofes, em que a experiência do medo faz com que eles repensem as relações que desenvolvem com outras pessoas. Infelizmente, o oportunismo comercial atrelado a esse mesmo gênero faz com que, anualmente, dezenas de filmes arregimentados por sustos e clichês sejam exibidos de maneira espalhafatosa nas salas de cinema. O diretor espanhol Víctor Garcia é acostumado a esta segunda categoria, tendo realizado fracas continuações de algumas cinesséries. Como tal, recai em vícios sobremaneira preguiçosos nesta sua mais recente produção...

Situado em meados da década de 1980, numa cidade interiorana e pouco povoada, “A Primeira Comunhão” (2022) apresenta-nos à família de Sara (Carla Campra), uma jovem recém-chegada a um local demarcado pelas tradições religiosas e, por conseguinte, pelas maldições atreladas a elas. Seus pais mudaram-se para esta cidade pois precisavam de trabalho, e encontram emprego apenas no matadouro gerenciado por sua arrogante tia Teresa (Mercé Llorens). Este seria um ótimo ponto de partida para uma abordagem política do terror, caso o diretor desenvolvesse com seriedade o contexto social de seu argumento…

Ao invés disso, ele prefere investir nos sustos programados e automatizados: na primeira seqüência, a irmã pequena de Sara, Judit (Olimpia Roch), participa da cerimônia católica de primeira comunhão, mas constatamos que ela está chateada, pois seus pais não puderam lhe presentear com uma boneca, como é costume na região. Ao invés disso, ela recebe um terço, e apressa-se em jogá-lo numa lata de lixo, até ser flagrada por sua irmã mais velha, que a repreende. Percebemos que a relação entre elas é atravessada por muitas mentiras e chantagens emocionais!

Trailer

Ficha Técnica

Titulo original e ano: La Niña de La Comunión, 2022. Direção: Victor Garcia. Roteiro: Guillem Cua, Victor Garcia e Alberto Marini. Elenco: carla Campra, Aina Quiçnones, Marc Soler, Carlos Oviedo, Olimpia Roch, Maria Molins, Xavi Lite, Anna Alarcón, Victor Solé, Sara Roch, Daniel Rived, Jacob Torres, Manel Barceló, Mercé Llorens, ClaudiaRiera, Mariona Lucas, Andrea Carrión, María Fontcuberta. Gênero: Terror. Nacionaldiade: Espanha. Trilha Sonora Original: Marc Timón. Fotografia: José Luis Bernal. Edição: Clara Martínez Malagelada. Direção de Arte: Clara Álvarez. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 0138mmin.

Depois de assegurar aos seus pais que chegaria em casa num determinado momento da madrugada, Sara encontra a sua amiga Rebeca (Aina Quiñones), considerada pária por seus vizinhos, por causa de seu visual ‘punk’. Ambas conseguem uma carona, a fim de dançarem numa boate afastada, mas, ao ingerirem meio comprimido de ‘ecstasy’, cada uma, passam a delirar e a serem perseguidas por paranóias. É quando uma menina fantasmagórica aparece, requerendo uma boneca que ficou abandonada numa floresta.

De maneira pouco inspirada, Sara, Rebeca e mais dois rapazes que as acompanham passam a ser perseguidos por visões violentas desta menina, que já aparecera no prólogo do filme, ocasionando o suicídio de uma moça. A partir daí, o enredo começa a explicar (de maneira precária) quem é essa garotinha e preparar o terreno para alucinações e assassinatos mal elaborados em suas conseqüências. Afinal, mesmo habitando numa cidade pequena, em que todos se conhecem, os moradores não ficam alarmados quando um padre aparece decapitado, quando um jovem traficante de drogas é empalado num carro ou quando um bêbado é esfaqueado por sua filha. E pior: a maldição que atormenta aquele lugar, por mais de cinco anos, só começa a repercutir efetivamente depois que Sara começa a pesquisar sobre ela!

                                                                                                                               Créditos: Divulgação
O filme estreou na Espanha em Fevereiro deste ano

Depois que o delinqüente Chivo (Carlos Oviedo) é morto, o gracioso Pedro (Marc Soler) une-se às duas jovens, para descobrir o porquê de a garotinha fantasmagórica estar perseguindo-as, através de pesadelos induzidos, em que elas se imaginam presas no fundo de um poço cheio d’água. Tudo leva a crer que isso tem a ver com o desparecimento da filha de Remédios (Anna Alarcón), uma mulher que vive afastada e é considerada louca pelos habitantes da cidadela. Como os demais personagens, ela é interpretada de maneia caricata e exagerada. Nada parece funcionar neste filme, cujo roteiro parece escrito de maneira randômica, visto que os eventos não se concatenam entre si, exceto quando visam aos chavões de suspense, parcamente orquestrados.

A despeito de suas falhas abundantes e da ausência de novidades em seu desenvolvimento, “A Primeira Comunhão” talvez encontre um público cativo, em razão de ele manipular, de maneira perniciosa, as associações imediatistas entre religiosidade e sobrenaturalidade, não obstante a obsessão pelos pormenores do fato traumático que engendrou aquela maldição desperdiçar até mesmo este aspecto. A conclusão absurda do filme – em sua acepção literal, a de não fazer nenhum sentido – encerra de maneira tétrica um filme que poderia tecer interessantes elucubrações secundárias sobre a hostilidade de alguns ambientes ermos e sobre a crise econômica na Espanha, mas que desencadeia pouco mais que ruídos dissonantes, com vistas à perturbação somática dos espectadores. É difícil defender algo aqui, mas, como toda e qualquer obra, este filme merece ser visto. Nem que seja enquanto diagnóstico renitente da decadência contemporânea de um tipo de produção, lançada aos borbotões, que se beneficia da própria indução tramática ao esquecimento. Urgh!

Hoje Nos Cinemas

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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