A Morte do Demônio: A Ascenção, de Lee Cronin | Assista nos Cinemas


Em 1981, o então novato cineasta Sam Raimi presenteou o mundo com uma obra única. Após angariar dinheiro suficiente para realizar uma versão em longa-metragem de seu curta Within the Woods, juntou-se com um grupo de amigos, familiares e um elenco de rostos desconhecidos numa cabana isolada para filmar o que se tornaria um clássico cult instantâneo. Seguindo filmagens caóticas num set que oferecia a equipe e elenco condições de trabalho surrealmente precárias, A Morte do Demônio chamou atenção de distribuidoras e do público devido a sua estética crua e uso chocante de violência gráfica, resultado de um excelente trabalho de maquiagem e efeitos em stop-motion. Também conhecido no Brasil como Uma Noite Alucinante, o longa ganhou entre as décadas de 80 e 90 duas sequências também dirigidas por Raimi, nas quais o teor cômico da franquia foi sendo acentuado na mesma proporção em que o orçamento de produção aumentava. Mesmo com a mudança de tom, fãs abraçaram os filmes do diretor com absoluta adoração. Em 2013, uma re-imaginação da obra original chegou aos cinemas. O novo A Morte do Demônio destoava bastante do clima “trash” da trilogia original. Com Raimi sendo substituído na direção pelo uruguaio Fede Álvarez, a nova versão deixava de lado o humor ácido pra adotar uma proposta muito mais realista e soturna. O gore extremo e tomadas bastante explícitas de mortes e mutilações fizeram com que o filme precisasse ganhar um corte atenuado para ser lançado oficialmente nos cinemas. Conquistou a aprovação do público. Foram cogitadas continuações tanto para a produção dirigida por Álvarez quanto para a trilogia de Raimi, com a intenção de expandir a mitologia e juntar as duas linhas temporais numa história só. Os planos, contudo, nunca foram adiante. Após isso, a franquia fez uma passagem pela TV com as 3 temporadas de Ash vs Evil Dead, tendo como protagonista o “final boy” da trilogia original vivido por Bruce Campbell. Uma considerável e infernal trajetória, mesmo que a saga A Morte do Demônio tenha números até bastante modestos em comparação a outros expoentes do Horror, como as franquias Halloween (com seus 13 filmes), Sexta-Feira 13 (com 12 filmes) e Jogos Mortais (com 9 filmes lançados e uma outra sequência já a caminho).

O legado da trilogia dirigida por Sam Raimi está presente no DNA do Horror moderno e influencia cineastas até hoje, e é inegável como o remake/reboot de Fede Álvarez trouxe um novo respiro para a franquia na tela grande. Sendo assim, qualquer nova entrada da marca seria naturalmente recebida pelo público com grandes expectativas e inevitáveis comparações aos capítulos anteriores. E é com esse misto de empolgação e desconfiança que A Morte do Demônio: A Ascenção chega aos cinemas.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Evil Dead Rise, 2023. Direção: Lee Cronin. Roteiro: Lee Cronin - trama original nos filmes de Sam Saimi. Elenco: Mirabai Pease, Richard Crouchley, Anna-Maree Thomas,  Lily Sullivan, Noah Paul , Alyssa Sutherland, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Nell Fisher, Billy Reynolds-McCarthy, Tai Wano, Mark Mitchinson, Melissa Xao, Jayden Daniels. Gênero: Terror. Nacionalidade: Nova Zelândia, Estados Unidos da América e Irlanda. Trilha Sonora Original: Stephen McKeon. Fotografia: Dave Garbett. Edição: Bryan Shaw. Design de Produção: Nick Bassett. Direção de Arte: Nick Connor. Figurino: Sarah Voon. Produtores Executivos: Sam Raimi, Victoria Palmeri,Romel Adam. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 01h37min. 

Após uma turnê na estrada com sua banda, Beth (Lily Sullivan) resolve passar uma temporada hospedada com sua irmã, sem saber que a vida de Ellie (Alyssa Sutherland) está de ponta-cabeça. Recém-divorciada, a tatuadora vive num prédio condenado acompanhada por seus 3 filhos, Kassie (Nell Fisher), Danny (Morgan Davies) e Bridget (Gabrielle Echols), além da incerteza do futuro da família. Uma fissura no estacionamento subterrâneo causada por um terremoto revela um cofre antigo. Lá, Danny descobre um livro misterioso e um conjunto de vinis. Ao entrar em contato com os itens, ele inadvertidamente desperta um Mal milenar que se apodera de suas vítimas e corrompe suas almas e corpos, se espalhando como uma infecção.

                                                  Créditos: © 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
A produção seria lançada diretamente via streaming (HBOMAX), mas os testes de exibição prévias foram tão bem sucedidos que os realizadores decidiram lançar o filme nos cinemas.


Este novo pesadelo sangrento é comandado pelo cineasta irlandês Lee Cronin e apresenta uma mudança de paisagem: com exceção da ótima cena de abertura, este novo capítulo é inteiramente ambientado em um cenário urbano. Além disso, desta vez temos uma história construída em volta de uma família num cenário doméstico acolhedor, ao invés de uma cabana impessoal e fria, o que aumenta o senso de risco e impacto emocional quando os sinais da carnificina iminente começam a se manifestar. Tais mudanças já são o suficiente para A Ascenção se desvencilhar de qualquer acusação de ser um mero repeteco, optando por essa "atualização" enquanto mantém alguns elementos familiares aos fãs da franquia, como a violência gráfica extrema, possessões demoníacas repugnantes, muita nojeira e incontáveis galões de sangue falso (foram usados 6.500 litros, aliás).

Ainda que o crossover entre as duas gerações da franquia nunca tenha se concretizado, A Morte do Demônio: A Ascenção funciona como um híbrido espiritual destas duas facetas. Ao mesmo tempo que honra as raízes palhaças do lado farofento idealizado por Sam Raimi com escolhas estéticas e narrativas cruelmente imaginativas, abraça a estética hiper-realista e violenta do longa de Fede Alvarez. Infelizmente, o saldo final da obra é prejudicado pela aparente carência de refinamento do roteiro, o que faz a trama empacar em alguns momentos, em especial em seu último ato (que acaba soando um tanto mecânico). Mesmo assim, o filme de Lee Cronin se destaca por seus méritos, como construções de cenas criativas que enriquecem a mitologia da franquia, ótimo uso de efeitos práticos e personagens que soam bem menos arquetípicos e descartáveis do que os dos longas de Raimi, se aproximando mais do drama trágico situacional da versão de 2013.

Fazendo jus às suas origens e acertando ao combinar o Horror físico extremo com o estilo “vídeo nasty”, a produção não reinventa a roda, mas agrada ao oferecer violentas doses daquilo que mantém os fãs desta franquia tão fieis há 4 décadas.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Petterson Costa

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