“Às vezes, penso que eu deveria ser uma juíza que nem a minha mãe: ela era durona!”
Para quem ainda não assistiu à trilogia polonesa “365 Dias”, co-dirigida por Tomasz Mandes entre 2020 e 2022 – defenestrada pela crítica e rechaçada por parte do púbico, em razão de sua misoginia aviltante –, o novo trabalho deste diretor talvez não pareça tão ofensivo. A sinopse assemelhada à série literária “50 Tons de Cinza”, escrita pela autora E. L. James e posteriormente adaptada para o cinema, demarca o seu nicho de interesse: quem aprecia as dificuldades enredísticas do entrosamento classista entre uma mulher madura e um jovem praiano encontrará aqui um exemplar sobremaneira genérico. Mas que, ao menos, não irrita tanto: sabemos o que iremos encontrar na trama, afinal!
Em “Desejo Proibido” (2023), a competente Magdalena Boczarska interpreta Olga, uma juíza reclusa, que, após a morte do marido, não se relacionou com nenhum homem. Em seu aniversário, ela ganha um vibrador de presente, mas não recebe sequer uma ligação de sua filha Maja (Katarzyna Sawczuk), que estuda em Londres. Contrariando a tradição das mulheres de sua família, ela não seguiu carreira no Direito, mas prefere pesquisar questões de gênero, o que irrita a sua conservadora avó Hanna (Elzbieta Jarosik)…
Numa espécie de surpresa organizada por suas amigas, Olga é levada a um local onde pratica-se saltos de paraquedas e ela apaixona-se à primeira vista por Max (Simone Susinna), um italiano que planeja viajar para o Brasil, depois que um processo trabalhista de seu melhor amigo Kamil (Sebastian Fabijanski) for julgado. Não por acaso, Olga é justamente a responsável por este trâmite, de modo que a aproximação inicial com ela, por parte de Max, é interesseira. Mas ele também apaixona-se por ela.
Trailer
Ficha Técnica
Título original: Heaven in Hell, 2023. Direção: Tomasz Mandes. Roteiro: Tomasz Mandes e Mojca Tirs. Elenco: Magdalena Boczarska, Simone Susinna, Katarzyna Sawczuk, Janusz Chabior, Sebastian Fabijanski, Elzbieta Jarosik, Katarzyna Kwiatkowska, Monika Fraczek, Borys Jaznicki, Marta Dobecka, Tomasz Mandes, Stanislaw Banasiuk, Dorota Klebkowska, Andrzej Dutkiewicz, Andrzej Bakowski. Gênero: Drama, Romance. Nacionalidade: Polônia. Fotografia: Bartek Cierlica. Departamento de Som: Katarzyna Jastrzebska. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 2hrs.
Como sói acontecer, nesse tipo de enredo, surgem outros elementos complicadores: Max tem um caso com Maja, sem saber que ela é filha de Olga e, além disso, ele é quinze anos mais jovem que a juíza, o que ocasiona alguns desentendimentos sociais, visto que ela é acusada de estar envolvendo-se com um gigolô e de estar comportando-se de maneira parcial em relação a um processo tão delicado. É quando Maja descobre o relacionamento entre eles e a relação entre céu e inferno estabelecida no título em inglês é desencadeada: as brigas abundam, daí por diante, e Ivo (Janusz Chabior), um colega de profissão de Olga, é o único que apoiará a relação entre o casal. Mesmo que ele desperdice suas tardes com futilidades elitistas, como cogitar a possibilidade de um garçom ser perpetuamente aprisionado por colocar os tomates em cima dos picles, nos pratos que serve em seu restaurante!
Se Magdalena Boczarska, conforme foi dito, confere alguma dignidade actancial à sua personagem, os demais participantes do elenco não têm muito a fazer com papéis tão rasos e diálogos tão óbvios: num instante, alguém conversa com alguém e declara seu afeto. Cinco minutos depois, eles brigam, de maneira aparentemente definitiva. Mais cinco minutos após esta reconciliação, brigam novamente. Depois, conversam como se nada tivesse acontecido. E assim sucessivamente, como se a trama fosse escrita por um aplicativo metronômico e sem qualquer acesso à criatividade. Culpa do próprio diretor e da co-roteirista Mojca Tirs!
Créditos: Divulgação
Desejo Proibido [Heaven In Hell] foi lançado em Fevereiro deste ano na Polônia e tem produção da Ekipa e Monolith Films.
“Desejo Proibido” é um filme desagradável? Sim, ele é. Porém, ao menos, não é enfadonho ou irremediavelmente machista, como as produções anteriores de seu realizador. Em seu despejo de clichês e em seu acúmulo de equívocos emocionais (vide o forçado acerto de contas entre Maja e Olga, aos berros, numa viagem de barco), as ações precipitadas fazem com que as duas horas de projeção sejam minimamente entretenedoras. Sabemos como tudo vai terminar, mas, enquanto as ações estão sendo desenroladas, cotejamos o que vemos no filme com frustrações de nossas próprias vidas, o que caracteriza esse tipo de produção, em que a diversão constante dos aquisitivamente bem-sucedidos é ofertada como projeção desejosa para as carências da platéia. É ideologicamente pernicioso, mas não desonesto em sua proposta mercadológica: quem viu o ‘trailer’, não duvida do que encontrará – e está tudo lá, sem receio da exposição vantajosa ao ridículo!
SESSÕES ANTECIPADAS A PARTIR DE 07 DE ABRIL!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)