O conhecido servo do vampiro Conde Drácula, Renfield, é um personagem que aparece em cerca de mais de dezesseis produções televisivas ou cinematográficas e estas são voltadas para contar a jornada sangrenta de seu chefe. Sempre visto como um maníaco que recobra a consciência em alguns momentos e volta a luz, R. M. Renfield ganha agora uma adaptação com muita comédia, mortes espetaculares e um tantinho assim de romance que o traz com um arco mais auto-suficiente. No novo lançamento da Universal Pictures Brasil, o ator britânico Nicholas Hoult vive o protagonista e, saindo do lugar em que negava papéis coadjuvantes, Nicolas Cage dá a vida a Drácula, cumprindo então uma meta conhecida por seus fãs e realizando um sonho, pois ele sempre quis ser nas telas o príncipe da morte.
Com direção de Chris Mckay (Lego Batman), roteiro de Ryan Ridley e argumento original de Robert Kirkman, a trama é moderna, mas não deixa de trazer os personagens criados por Bram Stoker (veja aqui) de forma altamente criativa. Divide a cena com Hoult a atriz sensação Awkfina. A moça vive a policial Rebecca Quincy e se torna em certo momento do filme interesse amoroso de Renfield. Um easter egg muito fácil de pegar sobre a personagem, aliás, é que seu nome é referência para um outro personagem no livro publicado em 1897, Quincey P. Morris.
Mas além das conexões que são feitas a obra literária, Mckay deixa seu filme mais conectado ao clássico longa de 1931, dirigido por Tod Browning, do que exatamente aos longas vampirescos que surgiram depois como ''Dracula de Bram Stoker'', realizado pelo tio de Nick Cage, Francis Ford Coppola. E Renfield consegue ir além do que se propõe como clássico, pois investiga as camadas da relação trabalhista e/ou escravagista (será?) entre Drácula e Renfield. Assim, a vitima narra sua vida e como se ''tocou'' de que talvez estivesse vivendo uma relação tóxica e prisioneira com o chefe sangue-suga literalmente. Também sobem a superfície temáticas sobre corrupção e impunidade.
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Nicholas Hoult e Nicholas Cage trabalham juntos pela segunda vez. Na primeira, em ''The Weather Man'', de 2005, foram pai e filho.
Renfield está acostumado a fazer de um tudo para Dracula. O alimentar, claramente, é uma das principais tarefas. E certo dia perseguindo uma possível vítima, adentra um grupo de auto-ajuda e senta ali para tentar entender o que está rolando. Os relatos dos presentes, contudo, fazem o rapaz cair em si e se identificar com o aprisionamento que vive em sua relação de trabalho. Como o chefe está fraco, aproveita para pensar melhor no que fazer de sua vida, mas o traz vitimas que não vão o deixar extremamente forte. Isto porquê ele procura uma saída e é quando se depara com criminosos que roubaram drogas da família mafiosa Lobo que tudo muda. Os ladrões são todos mortos e levados ao chefe como alimento, que mesmo insatisfeito, consome a vitalidade que vem da corrente sanguínea dos homens.
No mesmo dia, a policial Rebecca Quincy está fazendo seu trabalho pelas ruas da cidade quando Tedward Lobo (Ben Schwartz), chega atordoado e cheio de drogas no carro. É preso, mas solto na sequência, o que deixa ainda mais indignada a moça justiceira que sabe que a família Lobo é perigosa. É muito sequencial que Renfield acabe por acidente defendendo a mesma quando alguns malucos adentram um bar para vingar os ocorridos dos últmos dias. Tedward Lobo, usando dos artifícios mais tecnológicos possíveis, consegue reconhecer Renfield como quem foi o causador de vários problemas e o perseguindo chega até Dracula. Não demora e o herdeiro do império do mal e sua mãe, Bellafranscesca Lobo (Shohreh Aghdashloo), unem forças ao conde.
Dracula fica sabendo que Renfield não tem feito seu trabalho e, não só isso, se desvinculou do mesmo indo atrás de uma vida nova. Algo que o vampirão estiloso não vai deixar rolar facilmente e que movimenta os atos finalísticos do filme de forma comicamente maravilhosa.
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Na ordem de aparição, Bella Lugosi em ''Dracula'', de Tod Browning, Carlos Villaria em ''Dracula'', de George Melford e Nick Cage em ''Renfield'', de Chris Mckay.
O filme usa cenas originais do Dracula clássico lançado pelo estúdio nos anos 30 e insere nas cenas os atores Nick Cage e Nicholas Hoult usando técnicas avançadas de edição. Consegue envolver o espectador que leu o livro com seus inúmeros easter eggs que conecta a trama ao livro, bem como dar as mãos com os fãs da sétima arte e do gênero dual de 'comédia com terror'.
Tem um texto que insere falas que remetem tanto ao longa de Tod Browning como ao de Coppola e trabalha o visual gótico/emo elucidativamente bem. Este último, é percebido ainda mais quando é entregue a mudança de Renfield de um figurino e cabelos desarrumados para um colorido por completo. Não apresenta zoeira com as técnicas de autoajuda para livrar as pessoas de uma vida de abusos, mas soa engraçadíssimo como tudo é montado nas cenas. Repare nos detalhes e vai ser ainda mais ''mindblowing'' do que pode imaginar.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Renfield, 2023. Direção: Chris Mckay. Roteiro: Ryan Ridley - argumento original por Robert Kirkman, baseado nos personagens criados por Bram Stoker. Elenco: Nicolas Cage, Nicholas Hoult, Awkwafina, Ben Schwartz, Shohreh Aghdashloo, Brandon Scott Jones, Adrian Martinez, Camille Chen, Bess Rous, James Moses Black. Gênero: Comédia, Terror. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami. Fotografia: Mitchell Amundsen. Edição: Zene Baker, Ryan Folsey e Giancarlo Gianziano. Direção de Arte: Chris Craine. Figurino: Lisa Loovas. Distribuidora: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h33min.
Há uma brincadeira jocosa com gêneros musicais. Critica-se o ''Ska'', ritmo sempre feliz e permeado de instrumentos de sopro que surgiu ao fim dos anos 50 e teve um grande boom nos anos 90 (a banda ''No Doubt'' mesmo misturava muito o rock pop deles com o Ska, por exemplo). E se a película sonorizada por Marco Beltrami entrega blues, rock e até opera, se prepare para ter ótimos momentos por conta da trilha.
Maquiagem, figurino, ambientação e todo o design são emblemáticos e fazem o conjunto da obra ser alinhado. O estilo de Cage para o filme o faz lembrar bastante Bella Lugosi, mas também traz um certo exagero de cor em ternos que remetem o Drácula de Gary Oldman. É ainda maravilhoso em sua performance irônica e vilanesca. Convencendo muito que nasceu para interpretar Dracula. Aliás porquê demorou tanto?
Nick Cage é considerado um vampiro na internet por ter verosimillhança fisica com pessoas do passado. O ator também possui inúmeros castelos.
Se Nicolas Hoult foi um namorado zumbi (leia texto aqui) cheio de confiança, um rei russo sem escrúpulos, um maluco suicida em Mad Max: Estrada Para Fúria (texto disponível aqui) e tem se ligado a projetos fodastikos, aqui nos entrega um Renfield muito consciente de si, como vitima, ou culpado de seus crimes, que se atem aos detalhes do personagem original e que se fortalece ao ingerir insetos e depende do sangue de Dracula para se curar. Aliás, na psicologia, a idolatria real do personagem por seu chefe fez a área estudar o vampirismo e estabelecer que a ''síndrome de Renfield'' fala da obsessão por sangue. Algo que o personagem demonstra ter mais no livro que neste filme.
Fechando a roda de conversa sobre o glorioso lançamento, vale lembrar que Mckay extrai o melhor dos personagens e ironiza o que pode na tela. Não é atoa estamos ansiosos por seu segundo Batman Lego.
Avaliação: Cinco bolsas de sangue O+ (5/5)
See Ya!
B-
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