O Homem Cordial, de Iberê Carvalho | Assista nos Cinemas

 
Iberê Carvalho é figurinha carimbada no cenário brasiliense, apesar de ter dirigido apenas dois longas. É natural, então, que estejam todos atentos à estreia de seu novo lançamento - O Homem Cordial. Pegando emprestado o termo cunhado por Sérgio Buarque de Holanda, o filme ainda chama atenção por ser protagonizado por Paulo Miklos e filmado em São Paulo, embora a produção seja local.

Aurélio, uma espécie de alter ego de Miklos - um roqueiro de sucesso que está de volta com sua banda depois de anos aposentado dos palcos - foi julgado e condenado pelos tribunais digitais das redes sociais. Seu crime foi defender uma criança negra acusada de roubar um aparelho celular em um bairro nobre. Acontece que, horas após Aurélio ajudar a criança a fugir de um possível linchamento, o policial envolvido na situação aparece morto.

Isso é o suficiente para que Aurélio seja perseguido na rua, receba manifestações agressivas na frente de sua residência, seja tratado com hostilidade por prestadores de serviços e tenha seu show interrompido por gritos de “assassino”. Mas enquanto sua preocupação é voltar a ter paz e a de seus companheiros é a reputação da banda, há outros personagens nessa história com preocupações mais sérias.

Procurado por uma jornalista negra empenhada em escavar o outro lado da história, Aurélio entra em contato com a família do garoto que defendeu. Para a sua surpresa, este está desaparecido e ameaçado de morte. A culpa branca leva o protagonista a embarcar em uma jornada de busca madrugada adentro. Acompanhado dos jovens jornalistas Helena e Rudah e de Marina - a irmã mais velha do desaparecido - o protagonista irá tentar descobrir a verdade por si só, uma vez que a polícia tem um conflito de interesses com o caso. Bestia também compõem o grupo. Negro, o ex companheiro de banda do roqueiro menciona que foi gradualmente empurrado para fora do grupo conforme a gravadora apelava por algo mais palatável. Atualmente o homem possui um bar na periferia que é um refúgio para artistas iniciantes e amadores de hip hop.

                                                                                                                                                           Créditos: Divulgação
''O Homem Cordial'' contou com mega pré estréia no Cine Brasília na última semana. Equipe e elenco estavam presentes.

Conforme Aurélio se distancia de seu bairro centralizado e dos restaurantes refinados que frequenta, a trilha do filme se afasta do rock para cair no rap que questiona com mais proximidade a questão da violência policial. Essa construção de mudança de atmosfera é, juntamente com a fotografia, o elemento de maior destaque na estética da obra. A câmera na mão colada no rosto de Miklos a todo o instante transfere ao espectador a sensação de perseguição e encurralamento.

A uma primeira olhada, o filme pode soar clichê, repetitivo e pode até mesmo ser acusado de pregar para convertidos. Isto porque em 2023 já estamos saturados de determinados temas pela própria insistência com que a realidade política do Brasil martelou em nossas cabeças. Mas se pararmos para pensar que O Homem Cordial estava sendo desenvolvido em 2018, percebemos que Iberê e sua equipe tiveram o timing perfeito. Se em alguns momentos ele ecoa como mais do mesmo, é apenas pelo atraso em seu lançamento, por percalços tão característicos do sofrido cinema nacional.

A obra esbarra em alguns personagens caricatos e perde força ao fazer questão de explicar tim-tim-por-tim-tim o ocorrido. Mas sua cena final é de uma potência tão arrebatadora, que todo o resto é esquecido. Enquanto os pobres pagam o preço de terem nascido com a cor de pele errada, no local errado, ao fim do dia, a burguesia se reinventa, se levanta e reassume seu lugar na fila.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: O Homem Cordial, 2019. Direção: Iberê Carvalho. Roteiro: Pablo Stoll e Iberê Carvalho. Elenco: Paulo Miklos, Thaíde, Dandara de Morais, Thalles Cabral, Theo Werneck, Fernanda Rocha, Bruno Torres, Murilo Grossi, Mauro Shames, Felipe Kenji, Tamirys O’Hanna, André Deca. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Drama, Suspense. Fotografia: Pablo Baião. Direção de Arte: Maíra Carvalho. Montagem: Nina Galanternick. Produção: Quartinho Direções Artísticas, Pavirada Filmes, Acere e Momento Filmes . Distribuição: O2 Play Filmes. Duração: 83 minutos.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Luana Rosa

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