quinta-feira, 29 de junho de 2023

Indiana Jones e a Relíquia do Destino | Assista nos Cinemas


Se aventura tivesse um codinome, ela se chamaria Indiana Jones, não é mesmo? E esta aventura especificamente nos leva diretamente para uma sessão que traz de volta um dos maiores clássicos personagens do cinema nos anos 90, incluindo ainda velhos conhecidos e novos rostinhos que sai sensação na cultura pop. Indiana Jones e a Relíquia do Destino não é a sequência que a gente pediu, mas é talvez, a sequência que precisávamos. Existem alguns passos em falso no meio do caminho, mas é divertido ver o ator Harrison Ford encarnar o arqueologista aventureiro Indy mais uma vez e não só isto, mas reencontrando figuras de seu passado, e lidando com novas ameaças.

O longa de 2023 traz Indy, com seu amado chapéu e o chicote famoso que estão na memória de todo mundo, embarcando em uma jornada atrás de um artefato chamado anticítera, que pertenceu ao matemático Arquimedes. Isso graças ao caos criado por sua afilhada Helena Shaw, vivida por Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), traficante de artefatos históricos. Esse item precioso foi a peça de estudos que levou o pai de Helena à loucura. Basil Shaw (Toby Jones), esteve com Indiana num confronto com os nazistas, em busca da anticítera, e a pedido dele, a metade dessa máquina, que eles haviam encontrado, deveria ser destruída.

Alerta de spoiler: Indiana não a destrói, porque quer conservar a história, e então a mantém escondida sob cuidados dele. Até que anos depois, a afilhada Helena o engana, e rouba dele o artefato. Mas a moça está sendo perseguida por agentes norte-americanos e a equipe do suposto professor Schmidt, que é nada mais nada menos, que o cientista nazista Dr. Voller, interpretado por Mads Mikkelsen (Doutor Estranho, Polar, Rogue One). Ele lutou contra Indy e Basil, pelo objeto, e perdeu. Entretanto, esta era sua obsessão de vida.

Trailer

Ficha Técnica 
Título Original e Ano: Indiana Jones and The Dial of Destiny, 2023. Direção: James Mangold. RoteiroJez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp, James Mangold - baseado nos personagens criados por George Lucas e Philip Kaufman. Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, Karen Allen, John Rhys-Davies, Toby Jones, Madds Mikkelsen, Boyd Holbrook, Shaunette Renée Wilson e Thomas Kretschmann. Gênero: Ação, Aventura. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: John Williams. Fotografia: Phedon Papamichael. Edição: Andrew Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt. Design de Produção: Adam Stockhausen. Direção de Arte: Martin Foley. Figurino: Joanna Johnston. Produção Executiva: George Lucas e Steven Spielberg. Distribuidora: Walt Disney Studios e Lucas Film. Duração: 02hrs24min. 

O filme tem tudo para ser uma experiência ótima para os fãs das aventuras de Jones, mas se perde nos seus longos 154 minutos de duração. A sensação que passa, é que ele poderia se aprofundar no fato de Indy agora ser um professor se aposentando, tendo que lidar com seus dias de glória ficando para trás, e com algumas escolhas dele que vieram o perseguir agora que não está mais por aí se aventurando, lidando então com o fato de que todos nós envelhecemos. Seria ótimo ver uma franquia de tamanha relevância para o cinema, discorrendo sobre o ato de envelhecer. Mas o que recebemos, são piadas sobre o tópico, ou um entendimento raso sobre o fato.

A produção também poderia ter explorado mais a grandiosidade de trazer uma personagem feminina como Helena, que ao ser interpretada por Bridge, é uma personagem mais solta das amarras de personagens femininas que costumávamos ver em filmes como esse. Ela é como vários personagens masculinos que já encontramos, e é gostoso ver o seu desprendimento. Helena é filha de um homem muito inteligente, que enlouqueceu e morreu por causa de um objeto histórico. É afilhada de um professor aventureiro e apaixonado por história. Mas ela demonstra não ter apego a nada daquilo, apesar de um conhecimento imenso sobre todo esse mundo. Para ela, o importante é faturar em cima de objetos históricos.

Claro que tudo isso é fachada, e ela se importa, mas falta um aprofundamento nessa questão. Isto não é uma crítica negativa aos esforços da atriz, que soube trabalhar com o que ganhou. E os fãs de do trabalhado de Bridge podem até simpatizar com Helena, e esperar que esta também quebre a quarta parede, como de praste na série que a levou ao sucesso, mas a personagem percorre outros caminhos, exceto quando ela sussurra para si mesma em uma cena e fica aquela nostalgia de que é a Fleabag por debaixo de Shaw.
                         
                                                                   Créditos: ©2022 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
A Relíquia do Destino levou um período de 15 anos para ser produzido e teve a data de lançamento alterada inúmeras vezes, as últimas delas, devido a pandemia da Covid-19.

Mesmo que a narrativa construida tenha se esforçado e conte com arrependimentos ao longo do caminho, incluindo acontecimentos com o filho do personagem, ainda faltou exercitar mais um desenvolvimento sólido a trama. Depois de plots extensos e um pouco exaustivos que discorrem sobre linhas do tempo - as franquias cinematográficas grandes estão explorando o tópico até a última gota. Aos 45 minutos do segundo tempo, prevemos que a obra finalmente encontrou o tom emocional para o que Indy estava sentindo, quando nos deparamos com o reencontro dele e de Marion (Karen Allen), que ocorre de maneira rápida e poderia ter sido explorado desde o começo do filme.

Ainda que falte profundidade, o filme ainda nos entrega cenas em que Indy demonstra estar dividido entre um passado glorioso e os dias atuais em que ele considera já não ser necessário. Em uma reviravolta, a relíquia tão procurada nesta aventura é encontrada finalmente, porém, o desenrolar da "coisa toda" dá errado. O vilão faz uso do artefato como pretendia, mas acaba que essa máquina que poderia alterar o tempo com a ajuda de cálculos matemáticos, voltou precisamente para o período em que Arquimedes vivia. E embora aqui o roteiro tenha muitos erros, e existam furos na temática de viagem no tempo, conseguimos entender o dilema do envelhecimento de Indiana Jones, que entra em um conflito grande se fica ali com Arquimedes, alterando a história, ou se volta para seu tempo, onde não acredita que existem pessoas esperando por ele. Mas, claro, ele está errado.

Enfim, apesar dos pesares, o longa tem um elenco excelente, que conta com figuras conhecidas dos outros filmes com o personagem, como John Rhys-Davies, interpretando Sallah, e Antonio Banderas, que interpreta o nadador amigo de Indy, Renaldo. Além de Waller-Bridge, o filme tem outras caras novas, como Shaunette Renée Wilson (The Resident), que interpreta a agente Mason, e considera que o longa trouxe pela primeira vez alguém que pessoas como ela podem sentir que estão sendo representadas. E ainda, acostumado a interpretar os vilões mal compreendidos que amamos ver nas telas, Boyd Holbrook (A Hospedeira, Narcos), o capacho do cientista nazista interpretado por Mads. E Ethan Isidore, na pele de Teddy Kumar, o jovem adolescente, parceiro das trambicagens de Helena.

                                                                Créditos: ©2022 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
Em entrevista ao talk show ''The Late Show With Stephen Colbert'', o ator Harrison Ford explicou que as cenas em que aparece rejuvenecido foi feita por captura de imagens e finalizado com inteligência artificial. A AI também utilizou todo o arquivo Indiana Jones que a Lucasfilm possui. Até mesmo videos nunca lançados.

O longa é dirigido e escrito por James Mangold (Logan/ Garota, Interrompida), e produzido por Kathleen Kennedy (E.T), Frank Marshall (Jurassic Park, E.T, Franquia Indiana Jones) e Simon Emanuel (Solo, Rogue One). Com escrita original de George Lucas (Star Wars), que também é produtor executivo do longa, junto de Steven Spielberg (Back To The Future). Este é na verdade, o primeiro longa do arqueólogo Indy, que Steven não assumiu a direção.

É uma despedida que divide opiniões, mas não é uma perda de tempo total de se assistir. O nome e sobrenome da aventura ainda é Indiana Jones. Mas tomara que seja mesmo uma despedida, Indy merece uma aposentadoria tranquila e calma como qualquer outro ser humano. 

Hoje Nos Cinemas

Ruby Marinho - Monstro Adolescente | Assista nos Cinemas


A nova animação da DreamWorks, mesmo responsável pelas franquias Kung Fu Panda, Shrek e Como Treinar Seu Dragão, "Ruby Marinho - Monstro Adolescente" é inspiradora e traz quebras de paradigmas ao público jovem e adulto. Com direção de Kirk DeMicco (Os Croods) e roteiro do trio Pam Brady, Brian C. Brown e Elliott DiGuiseppi, o filme coloca como protagonista uma família de Krakens, ou lulas gigantes, altamente confiáveis e nada aterrorizantes como juravam os contos nórdicos. A matriarca da familia Agatha Marinho (voz de Toni Collette no original e de Adriana Pissardini na dublagem brasileira) se transformou numa baita corretora de imóveis e fugiu de sua vida no oceano para fingir ser uma humana normal, todavia, esconde dos filhos que veio para superfície para protegê-los de um mau secular que está a procura de um item mágico que ela deixou para trás. Sua filha, a adolescente Ruby Marinho (voz de Lana Condor na versão norte americana e de Agatha Paulita na apresentação dublada), tenta a todo custo se enturmar na escola e tem um crush enorme no Skatista Connor (voz de Jaboukie Young-White no original e de Gabriel Santana no formato dublado). Vive combinando mil coisas com os amigos, mas sempre tem que negar qualquer aproximação com o mar, pois sua mãe não permite que ela chegue nem perto da praia. Ruby sequer desconfia que é por conta da ligação dela com a realeza dos mares, os Krakens, e a mãe sempre reforça: "se perguntarem porque somos diferentes, digam que somos do Canadá" (piada engrancadinha sobre a questão do país ser altamente pro-diversidade e outras coisas mais).

Belo dia, Ruby se zanga por mais uma negativa da mãe em deixá-la ir a festa da escola (um baile juvenil), pois o local do evento será numa embarcação em pleno oceano. A jovem já tem até quem chamar e seus amigos mais próximos insistem que ela convide o crush e vá escondido. Conversando então com o menino ali próximo ao deck, acontece um acidente e o garoto cai no mar. Nesse momento de vida ou morte, Ruby decide ajudar Connor e acaba, sem saber, liberando seu DNA Kraken ao entrar na água. O acidente também faz com que a avó (voz de Jane Fonda na versão norte-americana e de Patrícia Scalvi na versão brasileira) dela se reaproxime, bem como o tio todo atrapalhado. A mãe de Ruby e esta última acabam entrando numa baita briga por conta do ocorrido, mas os próximos passos da Kraken adolescente serão ainda mais perigosos do que imagina. Isto se deve ao fato dela iniciar amizade com uma menina nova chamada Chelsea (Annie Murphy/Giovanna Lancelotti), que acabou de chegar na escola, mas na verdade, também vem do fundo do mar e, mesmo se fazendo de boazinha, nao necessariamente é.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Ruby Gillman - Teenage Kraken, 2023. Direção: Kirk DeMicco. Roteiro: Pam Brady, Brian C. brown e Elliott DiGuiseppi.  Vozes Originais: Jane Fonda, Lana Condor, Toni Collette, Colman Domingo, Blue Chapman, Will Forte, Lisa Koshy, Ramona Young, Eduardo Franco, Jaboukie Young-White, Annie Murphy, Sam Richardson. Vozes Nacionais: Giovanna Lancelotti, Gabriel Santana e Agatha Paulita, Patrícia Scalvi, Luiz Carlos de Morais, Lorenzo Galli , Mauro Ramos, Adriana Pissardini, Flora Paulita, Rebeca Zadra, Fábio Lucindo, Raquel Marinho, Matheus Bernardes e Rodrigo Araújo. Diretor de Dublagem: Wendell Bezerra. Gênero: Animação, Aventura e Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da America. Trilha Sonora Original: Stephanie Ecinomou. Fotografia: Jon Gutman. Edição: Michelle Mendenhall. Animador Prashanth Cavale. Design de Produção: Pierre-Olivier Vicent. Duração: 01h30min. 

Para os leigos de plantão, os Krakens são tidos como criaturas lulescas enormes e os contos nórdicos diziam que os ferozes animais marítimos atacavam as embarcações e devoravam as tripulações. Já foram referidos também na bíblia como "Leviatãs" e também nas ideias filosóficas de Thomas Hobbes de forma simbólica. Porém no contexto do filme o texto tenta abordar um viés diferente. Diz-se destes como "protetores dos mares" e, principalmente, que não são monstros, apensar da sua magnitude. O que vem como forma de desconstruir vilões e humanizar seres gigantes. Tal proposta até nos faz lembrar da animação "O Touro Ferdinando" [2017, Carlos Saldanha] que apresentava um touro apaixonado por rosas e que de assustador não tinha nada. 

Ruby, ao se descobrir uma Kraken, ganha um super tamanho e um que os homens da família não tem, mas por ser do sexo feminino e ter sangue real, se faz valer. Justo ela que se fazia invisível na escola e tentava não se destacar. Com a avó inicia um treinamento para aprender a ser uma Kraken e deixa a mãe super irritada. O irmão pequeno é um fanfarrãozinho e vive zoando tudo e o pai não tem tanta força quanto a mãe da garota na hora de tomar decisões. Super nerd e dedicada, Ruby tem um estilo único. Tanto ela quanto seu Sua timidez o crush são tímidos e se enrolam quando ambos tentam falar sobre sentimentos ou um possível encontro entre eles, o que deixa tudo ainda mais engraçadinho. 

     Créditos:© 2023 DreamWorks Animation. All Rights Reserved.
Ruby Marinho: Monstro Adolescente é o 44° filme da Dreamworks a chegar aos cinemas e a 45° produção do estúdio.

A trama traz diversidade em todos os sentidos aliás, quando apresenta personagens com características diferentes do padrão. Os amigos de Ruby mesmo não são todos brancos, a grande maioria tem o cabelo colorido e diferenciado e o seu crush Connor, apresenta uma lindo afro roxo. O traço da animação respeita tanto a beleza dos humanos como seres marítimos e outra referência cinemática que temos aqui é que a personagem Chelsea, que tem um índole pra lá de desconcertante, é inspirada na Princesa Ariel do desenho Disney "A Pequena Sereia" [1989, John Musker e Ron Clements] e vem com um super cabelo ruivo e uma beleza sobrehumana.

A trilha sonora original da produção é  assinada por Stephanie Economou (escute aqui) e traz ainda uma canção temática  por Mimi Webb titulada "This Moment". Ao final da animação também ouvimos a revestida "Prasing You", canção que Rita Ora traz de volta o clássico dos anos 90 "Praise You", do renomado DJ Norman Quentin Cook, ou melhor, Fatboy Slim, com uma vibe mais eletrônica e bem distinta da original.  

Este é o quarto longa de Kirk DeMicco como diretor no campo da animação. Ele também é roteirista e produtor e rcebeu indicação ao Oscar por seu trabalho em "Os Croods" (2014), filme por qual  tem mais outras sete nomeações em premiações diversas.

"Ruby Marinho - Mostro Adolescente" é um filme cheio de cor, comédia e aventura e leva o espectador a passar uma hora e meia na sala de cinema sem nem perceber. Traz boas reflexões sobre laços entre mães e filhos, sobre a adolescência, sobre o primeiro crush e ainda desenvolve bem a ideia de que o diferente e grande pode não ser uma ameaça e sim somente um característica positiva.

Avaliação: Três tridentes mágicos. (3/5)

Visite também o site oficial (clique aqui).

HOJE NOS CINEMAS

A Sindicalista, de Jean-Paul Salomé | Assista nos Cinemas


Quando duas mulheres trabalham juntas, além de fazerem o seu trabalho, elas se solidarizam entre si?”

A leitura da sinopse de “A Sindicalista” (2022, de Jean-Paul Salomé) imediatamente remete a dois cultuados filmes hollywoodianos, “Norma Rae” (1979, de Martin Ritt) e “Silkwood – O Retrato de uma Coragem” (1983, de Mike Nichols). Tal como esses dois filmes, uma grande estrela protagoniza uma trama relacionada à justiça empregatícia, com intentado pendor feminista. No primeiro caso, Sally Field foi oscarizada; no segundo, Meryl Streep foi bastante elogiada; no terceiro, Isabelle Huppert demonstra, mais uma vez, seu talento e versatilidade.

A despeito das similaridades temáticas, “A Sindicalista” segue um percurso distinto: parte de uma personagem real para um exercício de gênero, o que é prenunciado internamente, visto que, desde o início, a biografada Maureen Kearney é mostrada como uma leitora obsessiva de romances policiais, chegando a destacar com marcadores as suas passagens favoritas. Isso, a posteriori, fará com que, numa investigação, ela passe de vítima a suspeita, permitindo que a extraordinária atriz francesa reaproveite, em chave invertida, alguns recursos expressivos de sua atuação em “Elle” (2016, de Paul Verhoeven).

Especializado em tramas criminais, o diretor Jean-Paul Salomé conduz este filme de maneira um tanto burocrática, fazendo com que, em seu terço inicial, o espectador fique enfadado frente ao ritmo quase telejornalístico. Até então, a protagonista Maureen é mostrada como uma funcionária maquínica, dedicada em tempo integral ao trabalho, visto que foi eleita para o sexto mandato como representante sindical de uma importante indústria nuclear francesa. As informações sobre conspirações reais são tão aceleradas que o interesse fica disperso, sendo difícil extrair alguma dramaticidade legítima de sua rotina exaustiva. Até que, em dezembro de 2012, ela é encontrada encapuzada, amarrada e com uma faca enfiada em sua vagina. E, pasmem, é acusada de ter infligido isso contra si mesma!

                                                                                                Créditos: © 2022 Guy Ferrandis - Le Bureau Films
 Maureen Kear­ney, personagem real no qual o filme é baseado, ao lado da atriz Isabelle Huppert

Quando tenta exortar a sororidade, o diretor – que dedica este filme à sua irmã – soa caricatural, ao mostrar os superiores hierárquicos de Maureen revirando os olhos quando ela reclama da dominação empresarial masculina ou quando uma policial ainda inexperiente (Aloïse Sauvage) encontra os registros que engendrarão a reviravolta do desfecho. Porém, à medida que o cineasta – que já trabalhara anteriormente com essa brilhante atriz – possibilita que Isabelle Huppert complexifique a sua personagem, ele faz com que a agilidade do enredo sirva tanto enquanto entretenimento cinematográfico como enquanto denúncia advocatícia. Sendo assim, a segunda metade do filme tem muito a ver com os méritos genéricos de obras como “Erin Brokovich – Uma Mulher de Talento” (2000, de Steven Soderbergh).

Pouco a pouco, as pistas (verdadeiras ou falsas) despejadas pelo roteiro – escrito pelo próprio realizador, em colaboração com Fadette Drouard, com base em livro-reportagem de Caroline Michel-Aguirre – deixam o espectador tão estupefato quanto desconfiado, seja quando a ex-chefa de Maureen, Anne Lauvergeon (Marina Foïs), declara suspeitosamente que a relação entre elas era “estritamente profissional”, seja quando o estouvado homem de negócios Luc Oursel (Yvan Attal) morre subitamente. Já que os culpados do crime verídico ainda permanecem não desvendados, os roteiristas manipulam com habilidade as ações culposas de seus personagens.

Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: La Syndicaliste ,2022. Direção: Jean Paul Salomé. Roteiro: Fadette Drouard e Jean Paul Salomé - baseado no livro de Caroline Michel-Aguirre (veja aqui). Elenco: Isabelle Huppert, Grégory Gadebois, Pierre Deladomchamps, François-Xavier Demaison, Giles Cohen, Alexandra Maria Lara, Aloïse Sauvage, Mara Taquin, Yvan Attal, Marina Foïs. Gênero: Drama, Thriller. Nacionalidade: França e Alemanha. Trilha Sonora Original: Bruno Coulais. Fotografia: Julien Hirsch. Edição: Valérie Deseine e Aïn Varet. Design de Produção: Françoise Dupertuis. Figurino: Marité Coutard. Distribuição: Synapse Distribution .Duração:02h01min.  

Malgrado a sua longa duração (duas horas e dois minutos) e superado o enfado inicial, “A Sindicalista” revela-se um ‘thriller’ investigativo muito interessante que, obviamente, chama a atenção para as injustiças estruturalmente cometidas contra as mulheres, independentemente de elas possuírem cargos sobremaneira remunerados. Por conseguinte, as questões envolvendo a reiteração perturbadora das “condições atenuantes” que fazem com que estupradores sejam inocentados (o comportamento previamente lascivo das estupradas, por exemplo) tornam este filme assaz válido em suas proposições julgamentais. Ao final, desconfiamos que quase todos os agentes legislativos que circundam Maureen – inclusive a implacável juíza interpretada por Andréa Bescond – estão vinculados ao conchavo nuclear chinês denunciado nos letreiros próximos ao desfecho.

                                                                                                      Créditos: © 2022 Guy Ferrandis - Le Bureau Films
''A Sindicalista'' passou pelo Festival de Veneza em 2022 e recebeu indicação na categoria de ''Melhor Filme'' na premiação.

Além da condução eficaz da trilha musical composta por Bruno Coulais, responsável pela manutenção perene da tensão, deve-se destacar as ótimas contribuições interpretativas de Grégory Gadebois, como Gilles Hugo, o esposo benevolente da personagem titular, e de Pierre Deladonchamps, como o investigador que duvida da inocência de Maureen, a ponto de convertê-la em ré. Em mais de um sentido, “A Sindicalista” é um filme equivocado (vide a santificação profissional de Maureen, durante a intervenção solidária às funcionárias demitidas numa usina húngara, numa seqüência exordial), mas, quando adere ostensivamente às convenções de gênero, torna-se um mui recomendado estudo de personagem e um entrecho que merece ser debatido por organizações feministas e de valorização dos direitos sindicais.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Elementos, de Peter Sohn | Assista nos Cinemas

 
Para aqueles que eram baixinhos nos anos 90 é fácil lembrar dos quatro elementos clássicos que se tem na natureza por conta do desenho norte-americano ''Capitão Planeta'' criado por Barbara Pyle e Ted Turner. No show citado, adolescentes com poderes que remetem ao fogo, terra, ar, água unem forças para combater aqueles que destroem a natureza. Agora chega aos cinemas a belíssima animação Disney Pixar ''Elementos'' que joga luz a outra temática muito relevante ao mundo atual: o respeito ao diferente, ou até mesmo, aos imigrantes, e traz as nações da água, fogo, ar e terra como protagonistas.

Na trama escrita a três mãos (John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh), e com argumento também do diretor Peter Sohn (parte da sua história de vida como imigrante está mesclada ao roteiro), conhecemos a cidade Elemento onde vive o povo do fogo, da água, do ar e da terra. Cada um em um bairro especifico. Brasa (voz de Andre Mattos) e Cinder (voz de Marisa Orth) chegam ao lugar, após fugir de sua terra natal. Brasa vem com gás para construir sua loja e manter a família, pois Cinder acaba tendo um bebê, a energética Faísca (voz de Luiza Porto). A família se estabelece e a menina foguinho acaba ficando muito ligada ao pai e aos negócios que ele constrói. Uma loja com tudo voltado para o mundo do fogo. Quando Faísca cresce, o pai e a mãe já estão mais velhos e a cada dia que passa mais fracos e próximos da aposentadoria. Ela então toma pra si a responsabilidade de assumir a loja, assim que seu pai passar o bastão. Contudo, um belo dia chega ali um fiscal da prefeitura chamado Gota (voz de Dláigelles Silva) que vê sérios problemas na estrutura do lugar e multa o Sr. Brasa. Faísca tenta esconder do pai a penalidade para resolver o assunto sem causar problemas. Assim, decide ir atrás do fiscal e pede para que ele não os multe, pois o pai dela pode perder tudo. Ele fica comovido e tenta ajudar, mas o assunto chega a superiores. Os dois juntos embarcam então numa grande aventura para salvar o trabalho de uma vida do Sr. Brasa e um sentimento incomum nasce entre os dois elementos.

A produção tem como referências cinematográficas os filmes ''Amélie'' (2001) e também os longas ''Moonstruck'' (1987) e o oscarizado ''Who's Coming For Dinner'' (1967) e constrói bem a questão de ''amor entre dois diferentes'' para deixar o espectador pensar nas múltiplas temáticas que a narrativa quer apresentar. 

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Elemental, 2023. Direção: Peter Sohn. Roteiro: John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh - com argumento original de Peter Sohn, John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh. Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Shila Ommi, Ronnie Del Carmen, Wendi McLendon-Covey, Catherine O'Hara, Mason Wertheimer, Ronobir Lahiri, Wilma Bonet, Joe Pera. Dubladores: Luiza Porto. Dláigelles Silva, Giovanna Antonelli, Marisa Orth, Cacau Protásio, Andre Mattos. Tradução: Paula Abritta. Produção: Amanda Biscola, Pâmela Brito e Fernanda Tavares. Coordenadora de Produção: Melka Baltieri. Técnicos de Captação: José Arthur Jr., Lucas Gandelini, Thiago Costa, Carlos Henrique Salles, Edu Miglioranci e Carol Fagundes. Edição de dublagem: Ricardo Fuji e Marcos Alves (Tato). Direção de Dublagem e Audiodescrição: Diego Lima. Gerente Criativa - Disney: Vânia Mendes. Diretora Geral - Tv Group: Maria Inês Moane. Gênero: Animação, Aventura, Romance. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Thomas Newman. Fotografia: DAvid Juan Bianchi e Jean-Claude Kalache. Edição: Stephen Schaffer. Design de ProduçãoDon Shank. Direção de Arte: Jennifer Chang. Distribuição: Walt Disney Studios Brasil. Duração: 01h49min. 
Como o primeiro filme Pixar pós pandemia, Elementos é introduzido por um curta com o conhecido velhinho de Up - Altas Aventuras (2009), Carl. Faceta que não acontecia desde "Os Incríveis 2" (apresentação de um curta antes do filme). Assim em "O Encontro de Carl" (assista ao trailer aqui), o espectador encontrará o quase simpático velhinho tendo um ataque de pânico após ser convidado por uma vizinha para sair. Ele que ficou viúvo e sempre respeitou o sentimento que alimentou em um vida inteira pela esposa, agora só tem um cachorro falante de companhia e não necessariamente havia pensado na hipótese de sair novamente e conhecer novas pessoas. Assim, já de cara, a experiência cinemática ganha um quê de quero mais e a criança ou o cinéfilo mais grandinho vai se entusiasmar com esse filminho cheio de coração e senso de humor. 

Partindo então para a super experiência sentimental que Elementos evoca, tendo o laço familiar como o princípio de tudo e partindo para o crescimento dos personagens e suas novas relações. Faísca, nossa protagonista, é uma jovem intensa e cheia de vida. Seu pai tenta a muito custo fazer com que ela não esquente a cabeça e equilibre o que sente para assim poder administrar os negócios, mas seu ''eu adolescente'' ainda está se descobrindo, e mesmo que ela respeite muito os pais, também não sabe se quer seguir os planos que eles fizeram para ela. No entanto, abraça de corpo e alma os ideais do pai, pois sabe do esforço que este fez para trazê-la a cidade e a proporcionar uma vida melhor. A jovem também sempre escutou que os elementos não se misturam e, ainda que não tenha pensado em namoro, sabe que os pais esperam que ela encontre um igual para se relacionar. 

                                                                 Créditos:  © 2023 Disney/Pixar. All Rights Reserved.

O diretor Peter Sohn usou sua história como ponta pé para a trama. Ele também é um imigrante e seus pais abriram uma loja quando se mudaram para os Estados Unidos, assim como a personagem central, Faisca. De origem asiática, Peter coloca na tela um pouco dessa sua experiência como imigrante e transforma preconceitos em momentos de reflexão ao espectador. A nação do fogo, por exemplo, ganha uma leve co-relação com o mundo Árabe que é tão perseguido desde o atentado as Torres Gêmeas. Também passa ótimas mensagens como trabalho em equipe e seu colorido e preenchimento de personagens diversos implantam a ideia de que o mundo moderno não pode excluir mais os diferentes. 

Pôsteres nacionais 





Com uma trilha sonora envolvente e com assinatura do renomado Thomas Newman , um traço arrojado na animação e muita diversidade na tela, Elementos é sim uma ótima oportunidade do Estúdio retornar aos cinemas. Não vemos aqui lacração, mas um trabalho preocupado em  conversar com a sociedade. Talvez até deixando tudo muito sucinto e sem espírito de pedantismo.

Hoje nos Cinemas

quinta-feira, 15 de junho de 2023

The Flash, de Andy Muschietti | Assista nos Cinemas


The Flash é o mais novo e ambicioso longa que leva o selo DC Comics e dá sequência aos eventos de Liga da Justiça. O heroflick mantem a excelência que foi apresentada nas ultimas produções do universo DC, seja Aquaman ou ainda The Batman. Mais uma prova de que Andy Muschietti,  diretor e produtor do filme, sabe como contar uma boa história ao público, independente do seu gênero, o prendendo do começo ao fim, assim como foi em ''It - A coisa'' e ''Mama''.

Aqui o público vai conferir e conhecer um pouco da história de Barry Allen (Ezra Miller), o velocista escarlate, que vive traumatizado após perder sua mãe ainda em sua infância, mas agora com seus novos poderes tudo parece ser possível, inclusive retroceder o tempo e impedir que esse trágico evento aconteça. Contudo nada é tão simples na vida de Barry Allen e o que parecia ser uma mudança mínima acaba por mudar toda a realidade, o que coloca o herói junto de personagens icônicos em uma aventura para consertar todo esse estrago. Todo o roteiro adaptado para o filme vem dos eventos da HQ de 2012 ''Flashpoint ''(veja aqui) que conta com escrita de Geoff Johns e ilustrações de Andy Kubert.

O enredo do filme acaba por entrar na temática de ''viagem no tempo'' e os possíveis efeitos que ela pode trazer para os envolvidos. Logo, por mais incrível que este direcionamento seja, os rumos da narrativa se estabelecem de forma simples, ainda que únicos. É maravilhoso como Muschietti não permite que a trama perca tempo para assim focar no que realmente interessa para o público que é  conhecer esse novo e caótico universo.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: The Flash, 2023. Direção: Andy Muschietti. Roteiro: Christina Hodson e Joby Harold. Elenco: Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Keaton, Michael Shannon, Ben Affleck, Jeremy Irons, Kiersey Clemons, Temuera Morrison, Nicholas Cage, Maribel Verdú. Gênero: Ação, Aventura. Nacionalidade: EUA, Canada, Australia e Nova Zelândia. Trilha Sonora Original: Benjamin Wallfisch. Fotografia: Henry Braham. Edição: Jason Ballantine e Paul Machliss. Direção de arte: Jason Knox-Johnston. Figurino: Alexandra Byrne e Bob Ringwood. Distribuidora: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h24min.
A trilha sonora original, assinada por Benjamin Wallfisch, é algo que difere e muito com o que o público da série ou dos filmes DC estão acostumados, contudo, combina com o personagem e se valida, principalmente, nos momentos de alívio cômico - para aqueles que conhecem Barry Allen/Flash já esperam que o jovem seja aquele que salva o dia enquanto zomba da cara do vilão da semana - e a sonoridade consegue ir além do tom esperado, trazendo assim reais nuances e se fundindo ao estilo do personagem.

The Flash traz universos e mais universos com ''Batmans'' e a atuação dos atores que vestem a manta do morcegão sempre foi algo muito questionado. O icônico Michael Keaton retorna a pele do cruzado encapuzado e rouba toda a atenção sempre aparece. A construção do personagem consegue ser respeitosa ao que fora apresentado por Tim Burton, mas esquece os eventos de Batman Para Sempre (1995) ou Batman & Robin (1997) e entrega novas perspectivas que preenchem bem o contexto. Diferentemente de outras vezes em que apareceu como Batman, Ben Affleck, disse em entrevista que conseguiu se divertir e talvez esta seja sua última aparição usando o costume do vigilante de Gotham já que veem um reboot do universo por ai. Também temos a aparição da supergirl Kara, papel que é de Sasha Calle, mas quase foi das atrizes brasileiras Bruna Marquezine e Isis Valverde, pois ambas fizeram screen teste, do implacável General Zod, marcando retorno de Michael Shannon aos filmes de heróis. Alfred, o famoso e querido mordomo de Batman, também dá as caras pela interpretação de Jeremy Irons. Além das muitas surpresas que farão a cabeça dos fãs.

                                                                Créditos: © 2023 Warner Bros. Ent. All Rights Reserved. TM & © DC
A produção teve anúncio lá em 2014 e está sendo lançada em 2023. O personagem ganhou série de TV no mesmo ano e que também se finaliza em 2023.

O estúdio tem incluso seus trabalhos cada vez mais profissionais exemplares para realizar a fotografia dos filmes de boneco e The Flash é mais um grande exemplo dessa mão de primor na técnica. E esta se alinha ainda aos ótimos efeitos visuais que amplificam a maravilha das sequências em que temos nosso velocista fazendo aquilo que faz de melhor. Meio a isso, se destacam as cores extremamente vibrantes, o contraste impecável do personagem posto lado a lado com a “força de aceleração” que somados ao plano de fundo, de onde ele se move, é simplesmente magnífico. Inclusive, é bom frisar que desde as cenas do Mercúrio na franquia da Marvel ''X-MEN'' o cinema não é agraciado com planos sequenciais tão originais e belamente orquestrados para destacar alguém em super velocidade.

Em suma, The Flash é um filme que vai além do esperado e é demasiado maravilhoso. Garante o entretenimento do público para o qual é direcionado e também deve agradar gregos e troianos já que é uma produção que faz a escolha de não se levar a sério demais buscando honrar a mitologia e a essência do personagem.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Transformers : O Despertar das Feras| Assista nos Cinemas


Transformers nunca foi uma franquia muito preocupada em construir coerência ou complexidade narrativa a partir de sua cronologia. E talvez este seja um dos principais segredos de sua longevidade no Cinema. Filme após filme, plots semelhantes são reciclados sem o menor pudor e a prioridade parece ser a criação de cenas de destruição explosivas e barulhentas nas quais as duas facções rivais de Transformers, os benevolentes Autobots e os ameaçadores Decepticons, se engalfinham por mais de duas horas. Premissas simples e maniqueístas misturam os impressionantes efeitos visuais com o âmago desta franquia multibilionária baseada numa linha de brinquedos: a diversão. No decorrer das sequências, novos ingredientes foram sendo adicionados à receita: novos protagonistas humanos, novas raças de robôs, novos vilões e tramas que revelam que a relação entre humanos e Transformers remonta ao período das lendas arturianas. Mesmo com tantos elementos, a franquia Transformers nunca se tornou exatamente proibitiva ao público. O temor de expectadores “civis” de precisar assistir dúzias de filmes e séries da Marvel antes de comprar o ingresso do próximo filme dos Vingadores, por exemplo, não se aplica aqui: toda nova aventura dos robôs de Cybertron soa como um soft-reboot, uma ligeira reinvenção que apresenta seus próprios conceitos e regras, mas sem deixar de fazer menção à mitologia desenvolvida nos capítulos anteriores. Esse desprendimento narrativo, infelizmente, acabou afetando diretamente a construção e o desenvolvimento dos protagonistas humanos deste universo. Por 10 anos, a franquia foi protagonizada por personagens de papelão que eram basicamente arquétipos que beiravam o estereótipo. Foi só em 2018, com a fofíssima aventura de amadurecimento Bumblee, que um roteiro de Transformers se preocupou não apenas em desenvolver uma protagonista com um arco dramático genuinamente interessante, mas também em construir uma relação de amizade convincente entre ela e o ser metálico com quem contracena, neste caso o adorável robô-fusquinha amarelo que fala através de gravações do rádio. O spin-off ambientado nos anos 1980 foi tão bem-recebido pelo público e pela crítica (ao menos em comparação às sequências anteriores) que o mais recente capítulo da franquia, Transformers: O Despertar das Feras, pegou emprestado dele um pouco de sua alma.

Conceitualmente, este 7º filme da saga pode soar como mais do mesmo. “Transformers e humanos formam uma aliança para combater uma ameaça que busca um artefato antigo que pode causar a destruição da Terra, mas que também é a chave dos Autobots de volta pro seu planeta-natal.” Esta descrição básica poderia se referir perfeitamente ao live-action original de 2007 dirigido por Michael Bay. Mas O Despertar das Feras se destaca por injetar uma dose extra de humanidade numa trama que, sem ela, poderia soar engessada e batida. Em 1994, Noah Diaz (Anthony Ramos) é um jovem ex-soldado especialista em Tecnologia que vive na correria do Brooklyn. Filho de família de descendência latina, ele procura um emprego para ajudar sua mãe (Luna Lauren Vélez) com as despesas de casa e, principalmente, pagar o tratamento médico de seu irmão Kris (Dean Scott Vazquez), que sofre de anemia falciforme. Confrontado pela situação de sua família, ele relutantemente aceita participar do furto de um Porsche pra ganhar algum dinheiro, alheio ao fato de que o veículo é, na verdade, o disfarce de um Autobot chamado Mirage (dublado por Pete Davidson). Paralelamente a isso, a genial e esforçada pesquisadora estagiária Elena (Dominique Fishback), vive frustrada pelos créditos das descobertas que faz no museu onde trabalha serem frequentemente usurpados por sua chefe. Ao analisar uma escultura de origem desconhecida, Elena acaba por descobrir dentro da peça o fragmento de uma chave Transwap, artefato capaz de abrir portais para outras dimensões. O sinal emitido pela chave chama a atenção de Optimus Prime (dublado pelo veterano Peter Cullen), mas também atrai os Terrorcons, os novos vilões-robôs da vez. Enquanto os Autobots querem a chave Transwap para retornar a seu planeta de origem, após 7 anos presos na Terra, os Terrorcons buscam pelo caos: são lacaios de uma entidade de proporções colossais devoradora de planetas chamada Unicron. É aí que entram em cena os Maximals (as feras do subtítulo). Eles são animais robóticos cujo planeta de origem foi destruído por Unicron e que se abrigaram na Terra, escondendo os dois fragmentos da chave Transwap para evitar que caiam em mão erradas. Noah e Elena se juntam aos Autobots e os Maximals e usam suas habilidades para tentar impedir a destruição da Terra.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano:  Transformers - The Rise of the Beast, 2023. Direção:  Steven Caple Jr. Roteiro: Joby Harold, Darnell Metayer, Josh Peters, Erich Hoeber e Jon Hoeber - Argumento original de Jobu Harold. Baseado nos bonecos Transformers da Hasbro. Elenco: Anthony Ramos, Dominique Fishback, Tobe Nwigwe, Peter Cullen, Ron Perlman, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, Liza Koshy, John DiMaggio, David Sobolov, Michaela Jae Rodriguez, Pete Davidson, Cristo Fernández. Gênero: Aventura, Ação. Trilha Sonora Original: Jongnic Bontemps. Fotografia: Enrique Chediak.  Figurino: Ciara Whaley. Edição: William Goldenberg e Joel Negron.  Distribuidora: Paramount Pictures Brasil. Duração: 02h07

Dirigido por Steven Caple Jr., mais conhecido pela direção de Creed II, O Despertar das Feras apresenta uma atmosfera um pouco diferente dos filmes da franquia dirigidos por Michael Bay. Enquanto o diretor veterano responsável por Armageddon, Pearl Harbor e o recente Ambulância imprimia os vícios de sua já conhecida identidade visual nos filmes de Transformers com flares, o frequente uso do ângulo holandês, closes dramáticos na bandeira dos Estados Unidos e pores do sol hipersaturados, Caple Jr. traz pra O Despertar das Feras, seu 3º crédito de direção no Cinema, um olhar muito mais sóbrio e bem menos estilizado. Ao invés de priorizar closes com intenções quase inexplicavelmente eróticas mas superfícies brilhantes de carros e caminhões de marcas caras, como se fosse um showroom de exposição automotiva, Caple foca em elementos mais corriqueiros. O 1º ato inteiro do filme é no Brooklin noventista, mostrando o cotidiano nada glamuroso, mas cheio de vida de Noah e sua família. A falta de uma identidade visual estabelecida do diretor resulta em cenas que talvez possam ser consideradas um tanto genéricas, em especial as cenas de ação com muitos efeitos visuais. Mas ninguém pode negar que Caple Jr. faz um excelente trabalho dirigindo seu elenco.

                                                                                                                  Créditos: Divulgação 
Parte da trama é inspirada em "Beast Wars: Guerreiros Virtuais (1996)", os Maximals aparecem e podem se transformar em animais e ainda viajar pelo tempo


O elemento humano é muito bem explorado neste início, apresentando uma realidade que faz o protagonista não ver um futuro muito brilhante adiante. Apesar de querer se sacrificar pela família, ser otimista pra ele soa quase infantil. "A vida não é um gibi", diz o Noah de Anthony Ramos ao irmão antes de se arrepender quase que imediatamente, com medo de matar as esperanças do garoto. Ainda que não seja lá muito profundo, é um oceano sem fim comparado as atrocidades que Michael Bay fazia o público engolir com os protagonistas vividos por Shia LaBeouf e Mark Wahlberg. Essa descrença de que heróis surgirão para salvar sua família que o motiva a embarcar na aventura ao lado dos Transformers. Ele resolve ser seu próprio herói. Elena, vivida por Dominique Fishback, não se deixa abalar pelas adversidades. Enfrentando seus medos com muito carisma, a personagem parece sempre disposta a encontrar uma saída, mesmo quando os problemas parecem insolúveis. Pena que sua personagem, tão vital em descobrir pontos-chave da trama e guiar o time mocinho até o Peru, acabe sendo deixada de lado no último ato, quando a inteligência já não é mais necessária e a força bruta se torna palavra de ordem. São estes protagonistas que encabeçam um elenco de rostos desconhecidos, mas com estrelas emprestando suas vozes para os personagens digitais. Além de Pete Davidson, temos também Ron Perlman, Michelle Yeoh e Peter Dinklage na dublagem.

                                                                                                                                         Créditos: Divulgação 
A ganhadora do Oscar deste ano na categoria de melhor atriz, Michelle Yeoh dubla Airazor, fazendo dela mais um oscarizado a dar voz a um Transformer, depois do cineasta Orson Welles ter aparecido como Unicron em Transformers: O Filme (1986). 

O último ato do longa acaba sendo bem menos empolgante, se resumindo a lutas convencionais feitas em computação gráfica, com direito a entradas triunfais, discursos motivacionais inspiradores e uma conclusão bastante previsível. Se passando mais de 10 anos antes do 1º filme, O Despertar das Feras se apoia demais no senso de perigo sofrido por seus personagens digitais, risco que é totalmente diluído já é sabido que estavam vivos nos filmes que cronologicamente se passa depois desse aqui.

Mesmo com alguns deméritos, muitos deles diretamente ligados a obrigatoriedades narrativas de uma obra conectada a uma franquia e que precisa se adaptar às demandas de um universo expandido (e que aparentemente não pretende se encerrar nem tão cedo), O Despertar das Feras se beneficia de sua trama bem estabelecida e de seus personagens bem-construídos, se firma como um dos melhores capítulos da saga.

Hoje nos Cinemas 

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso | Assista nos Cinemas



A animação que continua a ambiciosa história do Aranhaverso, que foi apresentada ao mundo geek em meados de 2018 (leia texto aqui), novamente coloca Miles Morales, o homem-aranha desse universo, aos holofotes. O garotão, aliás, aparece de uma maneira que o personagem jamais esteve nas telas. Para aqueles que não conhecem a nova imersão do aranhamen, ele apareceu pela primeira vez em 2011, assumindo o manto de spider-man algum tempo após a morte do Peter Parker nos quadrinhos da era do universo Ultimate e o que era para ser algo temporário acabou sendo permanente com Miles ganhando cada vez mais fãs já que o levou também a sair dos quadrinhos e adentrar o mundo dos jogos, desenhos e agora uma trilogia de longas animados onde ele é o foco da trama.

É um fato que quando Aranhaverso estreou nos cinemas em 2018 parte do público ficou cético devido as animações que vinham sendo apresentadas em anos passados, contudo quando a produção estreou aclamada e revolucionou o universo cinematográfico que envolve a presença dos animadores e superou qualquer expectativa ou possível hate que o filme poderia ter. Logo, para esta continuação o público pode esperar que ela facilmente consegue transcender o que já havia sido apresentado em seu antecessor.

A história do filme se inicia com um pequeno salto temporal onde o espectador pode ver não só como Miles evoluiu em todo o tempo em que assumiu o manto de homem aranha, mas como alguns dos arranhas do filme anterior estão agora, o que garante uma conexão a mais com esses personagens e claro que descobrir como eles lidam com toda a “responsabilidade” que acompanha esse poder. Diferente de seu antecessor que é rico em cenas ação de tirar o fôlego, aqui elas se fazem presentes talvez ainda mais grandiosas contudo em menor quantidade já que o foco desta vez está nas relações familiares, tanto de Miles como de seus colegas aranhas principalmente com a Gwen.

                                                                                   Créditos: Sony Pictures
O mais longo filme animado dos últimos tempos, pois conta com 02:20 minutos. Além disso, a produção contou com o trabalho de 1000 animadores que trabalhado em 240 personagens para os seis multiversos apresentados.

O vilão “mancha” é de longe uma das melhores apresentações dentro da animação, aquele que certamente rouba a cena em todas as suas aparições, aliás, em parte por ser um personagem extremamente engraçado e carismático, parte também por receber a voz de Jason Schwartzmann (Scott Pilgrim) e o principal motivo, e o melhor de todos, é a experiência do espectador em acompanhar um alivio cômico se tornar uma ameaça multiversal que coloca não só a vida da família de Miles em risco, mas todo o tecido da realidade. É excepcional a maneira que o enredo trabalha  as facetas deste vilão da semana para futuro armageddon.

A trilha sonora original (escute aqui) já era algo que beirava a perfeição e continua tão boa, senão superior a de Arahaverso, combinando perfeitamente com todo o espírito do filme que desta vez se aproxima ao máximo do lado humano dos personagens; que têm suas vozes originais impecáveis principalmente com o oscarizado Daniel Kaluuya (Corra! e Judas e o Messias Negro) que vive o Spider-Punk e Oscar Isaac (Moon Knight) que empresta sua voz a Miguel O'Hara, o Homem aranha 2099.

Em suma, Através do Aranhaverso é uma das, se não a melhor, obra que os diretores Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers já produziram. Um épico que homenageia tudo aquilo que representa o cabeça de teia em todos os anos de existência do personagem. É um filme que merece ser apreciado em uma super sala, inclusive, para uma super experiência cinematográfica.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Spider-Man : Across The Spider-Verse, 2023. Direção: Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers. Roteiro: Phill Lord, Christopher Miller, Dave Callaham - baseados nos personagens criados pelo saudoso Stan Lee. Vozes originais de: Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Oscar Isaac, Jake Johnsonm Issa Rae, Brian Tyree Henry, Luna Lauren Velez, Rachel Dratch, Daniel Kaluuya, Taran Killam, Jason Schwartzman, Amandla Stenberg, Michael Rianda, Shea Whigham, Jorma Taccone, Karan Soni. Gênero: Animação, Aventura, Ação. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Daniel Pemberton. Edição: Mike Andrews. Direção de Arte: Araiz Khalid. Figurino: Brooklyn El-Omar. Distribuição: Sony Pictures Brasil. Duração:  02h20min.
 
HOJE NOS CINEMAS