“Confrontar o demônio diretamente é a maneira mais eficaz de enfraquecer o seu poder”…
Montado de maneira apressada, como se fosse o ‘making-of’ de algum episódio abortado de seriado de TV, este filme nos apresenta a uma protagonista desenxabida, de nome Grace, interpretada por Jena Malone. Caraterizada de maneira insistente como uma mulher cética, Grace trabalha como oftalmologista, e refuta terminantemente a possibilidade de que seus pacientes sejam curados através da fé. Quando algum deles menciona que um milagre pode acontecer, ela apressa-se em dizer que “o que proporciona alívio para as doenças são as injeções e as cirurgias”. Não há lugar para Deus em sua vida!
Na narração de abertura, ela instiga-nos a imaginar o porquê disso: enquanto passeia pela rua, sua voz em ‘off’ comenta que, desde criança, seu irmão dizia que ela era protegida por um anjo da guarda, algo em que ela nunca acreditara, até então. Uma freira aparece repentinamente e aponta-lhe uma arma. Por quê? É o que descobriremos a seguir…
Depois de ser notificada que seu irmão Miguel (Steffan Cennydd) morrera em condições misteriosas, Grace viaja para um convento isolado, num rincão escocês. É lá que Miguel convivia, escondendo-se entre freiras e padres que demonstram um comportamento fanático, no que tange às interpretações apocalíptico-paranóicas dos textos bíblicos. O investigador (Thoren Ferguson) que está buscando explicações para as mortes ocorridas neste convento reforça, para Grace, o caráter fanático da seita da qual Miguel participava. E, aparentemente, ele havia assassinado um padre, antes de se suicidar. Grace não acredita nessa(s) possibilidades(s): “ele jamais faria isso”!
Créditos: Divulgação
Chegando ao convento destacado no título brasileiro – o original é “Consecration” (“Consagração”), mais adequado –, Grace desmaia ao ter visões recorrentes de pessoas pulando de um penhasco. Estranha as condições em que encontra o cadáver de seu irmão e passa a reagir com com hostilidade às tentativas de aproximação das habitantes do local, com destaque para a Madre Superiora, vivida por Janet Suzman. Quanto mais as freiras insistem em ajudá-la, mais Grace reage com afirmação raivosa, no sentido de que acha improvável que, nalgum momento, venha a acreditar em Deus. Através de diálogos caricatos, Grace professa reiteradamente o seu ateísmo, o que chama particularmente a atenção pela simbologia concernente ao seu nome, com evidente etimologia religiosa. É tudo muito exagerado no filme, mas não a tempo de nos envolvermos psicologicamente com aquelas pessoas, caricaturais em suas encarnações personalísticas.
À medida que a trama avança, Grace passa a ser atormentada por memórias infantis, provenientes de, no mínimo, duas épocas distintas: numa delas, Grace aparece com uma máscara pagã, prestes a ser sacrificada num ritual do Século XII, no local onde, futuramente, será construído aquele convento; na outra, Grace é mostrada aprisionada em celas apertadas, junto ao seu irmão Miguel, em cômodos de sua residência, e acompanha o evento traumático em que seu pai (Ian Pirie) esfaqueia a esposa até a morte. Mais uma vez, as perguntas acumulam-se: por que isso está acontecendo? O que há de tão misterioso na origem de Grace, visto que sabemos que ela foi adotada? As menções a uma estranha relíquia, supostamente demoníaca, parece explicar as intervenções atemorizantes que instalam-se no convento. Mas o enredo não consegue alinhavar adequadamente as múltiplas pontas soltas que o diretor (em associação com a co-roteirista Laurie Cook, parceira habitual do realizador) dispara em ‘flashbacks’ estereotipados em seu pretenso clima de terror. Até mesmo uma improvável visita ao pai de Grace, na cadeia, acontece!
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A coprodução estreou nos Estados Unidos em Fevereiro deste ano e já rodou mais novo países. A Imagem Filmes é responsável pela distribuição do filme no Brasil.
Ao final, “O Convento” não soluciona as indagações que acumula ao longo de seus noventa e um minutos de duração. Danny Huston tem uma participação pouco relevante como o padre que tenta ajudar – ou encarcerar – Grace, quando ela começa a confrontar a sua falta de fé. Será que ela é efetivamente amaldiçoada ou abençoada? O entrecho leva-a a questionar isso o tempo inteiro, mas as situações, demarcadas por ameaças e sanguinolência, soam pouco verossímeis – mesmo em relação à diegese demoníaca do filme – e estéreis, no que diz respeito aos sustos que tentam incutir na platéia. Ao final, voltamos à mesma seqüência da abertura e parece que nada realmente aconteceu: é como se testemunhássemos um arremedo de pesadelo vivido pela protagonista, tão incoeso quanto a sua própria caracterização. Aguardemos esperançosamente os próximos projetos do diretor, visto que, aqui, ele é prejudicado pelo automatismo formulaico e inexpressivo.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Consecration, 2023. Direção: Christopher Smith. Roteiro: Christopher Smith, Laurie Cook. Elenco: Jena Malone, Danny Huston, Janet Suzman, Ian Pirie, Steffan Cennydd, Victoria Donovan. Gênero: Terror, Suspense. Nacionalidade: Reino Unido, Estados Unidos. Direção de Fotografia: Rob Hart, Shaun Mone. Direção de Arte: Elizabeth El-Kadhi. Trilha Sonora Original: Nathan Halpern. Montagem: Arthur Davis. Produção: Laurie Cook, Casey Herbert, Xavier Marchand, Jason Newmark. Distribuidora: Imagem Filmes. Duração: 90 minutos. Classificação Indicativa: 16 anos
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