Endeusado por uns e odiado por outros, Christopher Nolan trás em Oppenheimer a sua primeira grande obra desde A Origem (2010) - também é a primeira que chega aos cinéfilos com distribuição da Universal Pictures. Para contar a história da criação da bomba atômica e do que aconteceu com a vida pública de seu criador nos anos posteriores, o diretor acompanha linearmente a vida do físico teórico Robert Oppenheimer (Cillian Murphy, Peaky Blinders) desde a sua emigração para estudar na Europa até sua saída do Projeto Manhattan.
Concomitantemente, o filme também aborda a perseguição política que o personagem sofre por se mostrar reticente ao uso de energia nuclear após o fim da 2ª Guerra Mundial. As cenas desta segunda trama são intercaladas com a história do cientista e mostram como ele teve que defender todas as suas atitudes já tomadas para tentar escapar de acusações de comunismo e tentar manter suas credenciais de cientista na Comissão de Energia Atômica dos EUA.
Esse processo político deixa claro que não são somente os artistas famosos que provam o gostinho do que é ser ordenhado, moído, mastigado e então cuspido pelo sistema/país que tanto se aproveitou do que se tinha para oferecer. O capitalismo e militarismo aos quais Oppenheimer serviu, mesmo que apenas por não ter outra alternativa, o descartaram no instante em que ele não era mais conveniente. Não que o personagem seja apenas uma vítima. O filme trabalha bem as obscuridades de seu caráter e os diferentes motivos que o levaram a fazer o que fez - embora de sua boca saia apenas uma única explicação.
Créditos: © Universal Pictures. All Rights Reserved.
Com um elenco de peso, Oppenheimer é estrelado por Cillian Murphy. Este é o primeiro protagonista do ator em um trabalho com Christopher Nolan, com quem trabalha pela sexta vez.
O que o marketing da obra alardeou sobre o impacto da cena da explosão fazer a audiência se sentir como quem de fato presencia uma explosão atômica parece um tanto exagerado. Pelo menos para quem não tem a oportunidade de assistir em Imax. Ainda assim, o trabalho de edição de som é primoroso - talvez como não víamos na tela grande desde Gravidade (Alfonso Cuarón, 2013). E a direção de fotografia de Hoyte Van Hoytema, aliada à decupagem do diretor deixam grandiosas as cores da bomba, a beleza das paisagens do deserto do Novo México e até cenas de pessoas de terno conversando sentadas.
Nolan continua Nolan. Os defeitos que seus críticos costumeiramente apontam estão presentes novamente neste filme, como a mania de explicar o óbvio para o espectador e a construção superficial de personagens femininas. No entanto, aqui, este que é um diretor tido como técnico demais, esteticamente conservador e sem alma poética mostra muitos traços de transgressão em relação ao que vem sendo feito na Hollywood dos últimos três anos.
Enquanto diretores autorais - por mais quadrados que sejam - seguem perdendo espaço para aqueles que apenas obedecem os grandes estúdios nessa fase atual e pasteurizada do cinema norte-americano, Nolan mostra que ainda consegue fazer um blockbuster com cenas de sexo e nudez (que, aliás, são as primeiras de sua carreira e vêm sendo condenadas pela geração tiktok), longa duração, estética própria, diferentes razões de aspecto, cenas em preto e branco, muito diálogo e a profundidade de um drama que não se rende a alívios cômicos.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Oppenheimer, 2023. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Christopher Nolan - baseado no livro de Kai ird e Martin Sherwin. Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr. Emily Blunt, Matt Damon, Alden Ehrenreich, Kenneth Branagh, James D'Arcy, JAson Clarke, Florence Pugh, Dane Dehaan, Casey Affleck, Rami Malek, Michael Angarano, Gary Oldman, Josh Hartnett, Ale Wolff, Scott Grimes, Macon Blair, John Gowans e Tony Goldwins. Gênero: Guerra, Drama. Nacionalidade: Estados Unidos da América e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Ludwig Göransson. Fotografia: Hoyte Van Hoytema. Edição: Jennifer Lame. Figurino: Ellen Mirojnick. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração:
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