quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O Porteiro, de Paulo Fontenelle | Assista nos Cinemas



A vida em condomínio depende do auxílio de alguém muito importante para o bem estar da comunidade, o porteiro. Uma figura que é representativa em muitos lares brasileiros e dispensa apresentações. Não é atoa há seis anos uma peça que retrata exatamente esse personagem tão cativante tem ganho o Brasil em ''O Porteiro - A Comédia'', de Paulo Fontenelle. O ator Alexandre Lino é responsável por dar vida ao personagem e já passou por diversos estados, cidades e a capital federal. Assistindo o  sucesso de público na peça, os responsáveis a adaptaram para as telas e o que era um texto emblemático se tornou uma produção cinematográfica mostrando as confusões que aparecem no dia a dia de Waldisney a frente da portaria de um edifício em um bairro carioca.

Nas telas, Alexandre Lino divide as cenas com Mauricio Manfrini, Cacau Protásio, Daniela Fontan, Bruno Ferrari, Aline Campos e muitos outros. Fontenelle é responsável pelo roteiro e pela direção, assim como no teatro. O longa tem produção da Rubi Produtora, coprodução das produtoras Bronze Filmes, Kimonos e Cineteatro. A distribuição ficou por conta da Imagem Filmes

Como forma de apresentar o filme ao público cinéfilo, nas últimas semanas O Porteiro ganhou diversas pré-estreias ao redor do país. Logo, contou com exibição no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Recife e etc. A equipe também fez uma coletiva virtual (disponível aqui) onde falou mais sobre o trabalho e desenvolvimento da película.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e Ano: O Porteiro, 2023. Direção: Paulo Fontenelle. Roteiro Original: Paulo Fontenelle. ElencoAlexandre Lino, Mauricio Manfrini, Cacau Protásio, Daniela Fontan, Bruno Ferrari, Aline Campos, Cesar Boaes, Heitor Martinez, Alana Cabral, Juliana Martins, Raissa Chaddad, Duda Barata, Renato Rabelo, Cristiano Garcia, Zé Wendell, Tom Pires, Andrea Veiga, Adeilson Santos, Francisco Furtado/Seu Chico, Luciana Novak, Alexandre Lino, Theo Noritomi Fontenelle, Helena Noritomi Fontenelle, Lucas Wilman, Zezé Antonio, Deise Lino, Lisa Papageorgiou, José Aldo, Suely Franco, Rosane Gofman. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Juarez Pavelak. Direção de Arte: Fernanda Teixeira. Figurino: Juli Videla. Maquiagem: Carol França. Produção de Elenco: Alexandre Lino, Paulo Fontenelle, Suzana Amancio. Som Direto: Daniel Mello. Música Original: Danilo Moura. Direção de Produção: Vivi Caetano. Produção Executiva: Samantha Queiroz. Produtora: Patricia Chamon. Produção: Rubi Produtora. Coprodução: Bronze Filmes, Kimonos e Cineteatro. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 01h23min
O lugar para encontrar um porteiro certamente é na portaria de um prédio, mas o inicio dessa história nos leva a delegacia onde nosso protagonista está prestando depoimento sobre uma confusão enorme que se deu no seu trabalho. O delegado (Mauricio Manfrini) o informa que ele está ali para responder a queixas de diversas instâncias feitas contra ele e assim sugere que ele conte tudo e não esconda nada. É então que Waldisney (Alexandre Lino) se apresenta e começa o falatório, inclui até um pequeno resumo de sua vida familiar e de como seu irmão Paul Macartiney está perdido pegando ônibus errado. O homem vive no mesmo lugar que trabalha e vez ou outra precisa sair da entrada do edifício para auxiliar algum vizinho ou vizinha. Tem uma filha linda e inteligente chamada Waldisneya (Alana Cabral) com a esposa que é um furação, Laurizete (Daniela Fontan), e vive para o oficio. O novo síndico, Astolfo (Bruno Ferrari), está cobrando cada vez mais que o funcionário faça suas funções e não seja relapso, mas inúmeras situações surgem durante o dia e ele precisa se ausentar, pois é requisitado a resolver tudo. Desde a verificar vizinhos fazendo barulho com a mulher, como o senhor Gustavo (Heitor Martinez), ou fumando ''um'' dentro do apartamento, algo que a Dona Alzira faz bastante, e até dar remédio para o cachorro da Dona Adelaide (Rosane Gofman). Certo dia, Astolfo decide marcar uma reunião para rever alguns problemas do prédio e enquanto todos o aguardam, assaltantes entram no prédio para roubarem os moradores e Waldisney sem saber como salvar a todos, pois tem uma arma apontada para ele, tenta apaziguar a confusão e finge que está tudo bem. O fim dessa bagunça, só assistindo para saber.

                                                                                           Créditos: Imagem Filmes/Laura Campanella
A peça, que é um monologo, reflete um material bem estruturado de pesquisa de Lino e Fontenelle sobre a vida de porteiros em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O longa tem formato de cinema, mas traz elementos muito claros do teatro como o exagero das situações ou os ''silêncios constrangedores'' que vemos nos palcos - momentos estes que os atores consegue tirar muita gargalhada da plateia. A naturalidade do elenco em lidar com a proposta do texto faz do filme um material riquíssimo para performances inusitadas. Situações corriqueiras do dia a dia ganham destaque e trazem ao espectador assimilação da realidade. A diversão é garantida, não tem jeito. Personagens com nomes engraçados, mulheres fortes, e até uma super participação especial de José Aldo são o carro chefe aqui. A atuação de Lino se destaca por não ser caricata, mas pontual. Aliás, a obra, mesmo com exageros, vence preconceitos ligados a personagens nordestinos, mulheres místicas ou homens fortões. Tem se em cena um retrato divertido do Brasil e de vidas particularmente simbólicas como a de profissionais que trabalham em prédios e condomínios. 

                                                                          Créditos: Imagem Filmes/Laura Campanella
Uma mulher brava, uma zeladora tarada e um vizinho com problemas de ''falta de banho'' são alguns do dilemas que O Porteiro precisa lidar no filme.

Singelamente a trama celebra a vida de pessoas que saem de suas casas para seguir a vida na cidade grande e ali construir família e morada. Jornadas que chegam e se instalam para agregar. Pessoas de sangue enérgico e que querem vencer. Talvez nem sempre elas ganhem uma resposta de ''bom dia'', mas continuam a ser quem são e trabalham por dias melhores. É a graça natural de Waldisney que ganha o espectador, mas é também o bom direcionamento Fontenelle de não encaixar pessoas reais em caixas do mais do mesmo. O texto divertidíssimo e super bem representado também é um grande destaque. 

Uma outra personagem que fez muito sucesso nas telas é homenageada e nos faz recordar de bons momentos no cinema (e no teatro) com ela, a Dona Hermínia, eternizada pelo ator Paulo Gustavo, falecido em 2021, em Minha Mãe É Uma Peça (2013 a 2019). O que também nos faz pensar no poder que o teatro tem e que chegando a um público ainda maior como o cinema pode alcançar a todos de forma única. Um casamento que funciona e que pode ter trago ao público a chance de conferir novos personagens em outros espaços e em continuações também. 

O diretor é responsável por inúmeros trabalhos na tv (Se Eu Fosse Você - A Série) e no cinema (Divã 2) e em breve estará envolvido no filme que contará a vida do cantor e músico Lobão na telona.

Avalição: Três ônibus certos para a diversão (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

Toc Toc Toc - Ecos do Além, de Samuel Bodin | Assista nos Cinemas

 
A infância do pequeno Peter (Woody Norman) é marcada pela solidão. Seus dias se resumem à relação com sua família controladora e ao bullying sofrido por ele na escola. O isolamento emocional do garoto é logo notado por sua nova professora, Srta. Devine (Cleopatra Coleman), que passa a interceder por ele. A já complicada vida do garotinho ganha ares de mistério quando batidas vindas do outro lado de uma das paredes de seu quarto o acordam certa noite, causadas por uma entidade chamada Sarah. A presença passa a se comunicar com Peter e conquista sua confiança, revelando que as paredes antigas daquela casa escondem muito mais segredos do que ele imagina.

Em Toc Toc Toc: Ecos do Além, o diretor estreante em longas-metragens Samuel Bodin constrói uma fábula macabra e aterrorizante, cheia de momentos de gelar o sangue e pular da cadeira. Mas não se tratam apenas de sustos vazios: a construção da atmosfera opressiva e do contexto emocional desesperançoso no qual o protagonista está inserido é o segredo para a efetividade da execução desta história. Partindo de medos e inseguranças muito reais, o longa toma o cuidado de desenvolver uma trama bastante palpável antes de levar o público pelos cabelos em direção ao absurdo. Contextualmente, é uma sopa de elementos já familiares do gênero do Horror. Parece um livro de Goosebumps ou um episódio de Clube do Terror, com ares de o Telefone Preto, um pouco de Noites Brutais e uma pitadinha de Skinamarink. Mesmo assim, estabelece uma narrativa honesta que subverte expectativas e, por fim, resulta em algo que cheira e soa como algo próprio, único.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Cobweb, 2023. Direção: Samuel Bodin. Roteiro: Chris Thomas Devlin - levemente inspirado no conto '' O Coração Delator'', de Edgar Alan Poe. Elenco: Lizzy Caplan, Anthony Starr, Woody Norman, Cleopatra Coleman, Luke Busey, Aleksandra Dragova, Jay Rincon, Anton Kottas, Steffanie Sampson. Gênero: Suspense, Terror. Nacionalidade: EUA e Bulgária. Trilha Sonora Original: Drum & Lace. Fotografia: Philip Lozano. Design de Produção: Alan Gilmore. Figurino: Anna Gelinova. Edição: Kevin Greutert e Richard Riffaud. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01hr28min.

Samuel Bodin combina um design de produção competente com uma ótima direção de fotografia (obra do francês Philip Lozano) para trazer um senso inesperado de movimento e profundidade às cenas. Por vezes, as escolhas de ângulos e movimentações de câmera dão um clima de ilustração de livro pop-up, aumentando a aura de conto de fadas sombrio da história. Estas escolhas criativas interessantes fazem Toc Toc Toc se destacar em meio a um mar de obras genéricas que ganham as salas de cinema e infestam os streamings por aí. Mas talvez o maior diferencial do longa de Bodin seja simplesmente o fato de soar genuíno. Por mais que diversas outras histórias compartilhem semelhanças com as desventuras de Peter em sua casa decrépita, Toc Toc Toc não parece se esforçar para se encaixar no que o público espera, permitindo-se abraçar sua própria bizarrice, sem dar muitas explicações ou pedir perdão.

Este sentimento se reflete também nas atuações de Lizzy Caplan e Antony Starr, como a família ameaçadoramente superprotetora do protagonista. Ambos parecem estar num tom ligeiramente acima do resto do elenco, sempre um passo adiante. Quando a insanidade toma conta da trama, Caplan e Starr roubam os holofotes e fazem valer cada segundo que aparecem em tela. Woody Norman também é uma grata surpresa como o protagonista Peter. Sua atuação evita cair em armadilhas maniqueístas esperadas deste tipo de papel e consegue convencer mesmo quando o personagem adota posturas consideradas antagônicas.

                                                                                                                          Créditos: Lionsgate
O longa tem produção de Seth Rogen que se aventura pela primeira vez como produtor.

Toc Toc Toc não parece almejar ser uma unanimidade com o público. A intenção desta narrativa quase infantil que bebe do Gótico é surpreender com a beleza de sua violência ao construir algo original e aterrorizante a partir da familiaridade. O desconhecido é assustador, assim como a violência vinda de lugares que deveriam ser seguros, o trauma não curado. Certos medos não precisam do escuro pra se esconder. Certos medos simplesmente não vão embora.

HOJE NOS CINEMAS

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Gran Turismo: De Jogador a Corredor | Assista nos Cinemas


Gran Turismo: De Jogador a Corredor, longa dirigido por Neil Blomkamp (Distrito 9, Elysium e Chappie)traz a história de um jovem obcecado por videogame, um ex-piloto de corrida e um executivo de marketing automobilístico, o que eles têm em comum? Um sonho um tanto desafiador: arriscar tudo para entrar em um dos maiores esportes de elite do mundo, o automobilismo. O filme é  roteirizado por Jason Hall e Zach Baylin com argumento de Alex Tse e apresenta a história real da incrível trajetória de Jann Mardenborough, um dos pilotos de corrida com um dos sonhos mais improváveis de todos os tempos.

A trama introduz ao público o jovem aficionado por videogames que simulam corridas de automobilismo Jann, papel de Archie Madekwe, e constrói pontos fortes para a análise comportamental do personagem através de seu carisma e também de Jack, vivido por David Harbour. Cada um deles, a seu modo, cativa o espectador com sua história de vida e ações afirmativas ao decorrer do enredo. David Harbour como sempre esbanja simpatia, o seu personagem rouba a cena em alguns momentos de interação com o protagonista e sua função no andar da carruagem é ajudar Jann a cumprir seu objetivo. Archie Madekwe conquista facilmente o público com sua atuação comedida, em que demonstra determinação e coragem. Ele não abaixa a cabeça para os desafios que enfrenta durante a história e é inspirador. Ambos atores conseguem ser grandes destaques, o que gera uma carga bem positiva ao filme.

A história de Jann é envolvente e consegue provocar em quem assiste o sentimento de torcida por sua jornada. Mesmo sendo um sonho com empecilhos no percurso, ele transparece dedicação na força do olhar e também em como reage as situações e conflitos, o que contagia quem está acompanhando a sua história. Um sentimento que passa a ser motivacional e até reflexivo sobre como pessoalmente podemos vencer as adversidades que surgem e atingir aquilo que desejamos.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Gran Turismo, 2023. Direção: Neil Blomkamp. Roteiro: Jason Hall, Zach Baylin e Alex Tse - Baseado no videogame da PLAYSTATION STUDIOS. Elenco: David Harbour, Orlando Bloom, Archie Madekwe, Darren Barnet, Geri Halliwell Horner e Djimon Hounsou. Gênero: Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da America e Japão. Trilha Sonora OriginalLorne Balfe e Andrew Kawczynski. Fotografia Jacques Jouffret. Figurino: Terry Anderson. Produção: Doug Belgrad, Asad Qizilbash, Carter Swan e Dana Brunetti. Produção Executiva: Kazunori Yamauchi, Herman Hulst, Jason Hall, Matthew Hirsch. Distribuição: Sony Pictures Brasil. Duração: 02h15min. DireitosSony Interactive Entertainment Inc.

O filme possui outro aspecto muito intrigante, pois é um típico filme de esporte e também é baseado em uma franquia de videogame. O longa consegue a façanha de honrar os dois lados. Inserindo os desafios existentes no esporte de automobilismo e focando nos obstáculos que um corredor novato pode enfrentar, como lidar com a pressão e ego de outros personagens já consagrados na indústria. Já como adaptação do universo dos games, a produção é inteligente e aposta em detalhes que estão presentes nos jogos como a visão do personagem dentro de um jogo de corrida de simulação. São pequenos detalhes como esse que conseguem ser bastante imersivos para quem está acostumado com o mundo gamer e amplifica aquele sentimento gostoso de nostalgia.

                   Créditos: Sony Pictures Brasil/Divulgação 
O piloto Jan Mardenborough tem sua história contada e também participa do filme como stunt do ator Archie Madekwe

Gran Turismo: De Jogador a Corredor é sagaz em fazer com que o espectador saia da sala de cinema bastante satisfeito, tanto por conta do elenco e sua performance, ou ainda pela história, como também pelas mensagens de superação e esperança. A imersão no mundo do esporte e gamer enfatiza aquele clichê que vale muito a pena ser repetido várias vezes "Nunca desista de você, cultive a esperança, e ela te dará forças para realizar seus sonhos.

Somente nos Cinemas 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Besouro Azul, de Angel Manuel Soto | Assista nos Cinemas

 
Este texto pode conter spoilers 

A diversidade em Hollywood tem sido um tema constante dos grandes filmes lançados ultimamente. Se mulheres e a população negra, ou até mesmo a comunidade LBGTQIA+, não possuíam representatividade o suficiente, a latina é que não aparecia de forma alguma. E quando aparecia eram exibidos como estereótipos de si mesmo e com um super tom ''amarelo'' nos filtros cinematográficos. No leque de filmes de heróis, a primeira grande personagem que vimos foi a incrível ''X-23'' que joga no time Marvel e é um clone ferrenho de Wolwerine (leia resenha de Logan aqui). No Universo DC, talvez os latinos tenham ganho algum tipo de sub-representação nos ''anti-heróis'' apresentados em ''Esquadrão Suicida'' (2016) com ''El Diablo'' e etc. Todavia, uma trama especificamente voltada a apresentar um herói com raízes na América Latina, não havia sido vista ainda nas telas.

Em 2010, falou-se em uma possível série de tevê para o membro dos ''Novos Titãs'' da DC, ''Besouro Azul''. Mas a ideia ficou no papel e só foi sair dele quando o esgotamento do gênero foi ficando cada vez mais óbvio. Para assumir então as rédeas de um projeto voltado para contar uma história com essência latina Angel Manuel Soto, diretor porto-riquenho que possui dezesseis trabalhos prévios e cerca de onze prêmios, foi chamado. O roteiro é assinado por Gareth Dunnet-Alcocer (Miss Bala) e apresenta a terceira versão de Blue Beetle, pois antes de Jaime Reyes ser possuído pelo escaravelho, e introduzido ao público em ''Crise Infinita'' N⁰ #3, o manto foi de Dan Garrett e Ted Kord. Garrett foi conhecido na revista N⁰ #1, quando ainda pertencia a Fox Comics, e Kord, pupilo de Ted, em ''Capitão Átomo N⁰ #83' , publicado pela Charlton Comics que teve seus direitos adquiridos pela DC nos anos 80. A repaginada do herói foi dada por Steve Ditko (Homem Aranha) e Gary Friedrich e sua versão latina é do trio  Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner. Os criadores de Blue Beetle, no caso, foram Joe Gill e Bill Fraccio.

Na primeira versão dos quadrinhos, e que não é exibida em detalhes no filme, Dan tomava uma vitamina que o dava poderes e quando vai ao Egito encontra um escaravelho que ao gritar ''Khaji Da'' virava um super traje. Seu pupilo, o engenheiro Ted Kord, se une a ele para enfrentar Jarvis Kord que quer criar um super exercito e com a morte de Dan, Ted se torna então o Besouro. Reyes também chega na parada bem depois e, se no quadrinho ele encontra o escaravelho e até tem contato com Ted, no filme a trama de apresentação do herói latino toma outros rumos. Jaime Reyes (Xolo Madureña) está  retornado para casa, em Palmeira City e não no El Paso, como nos quadrinhos, e tem um dia de reencontro com a irmã Milagro (Belissa Escobedo), a mãe Rocio (Elpidia Carrillo), o pai Alberto (Damian Alcázar), o tio Rudy (George Lopez) e avó Nana (Adriana Barraza). A irmã do jovem solta de cara que eles estão em apuros e o pai não está trabalhando, pois sofreu um ataque cardíaco. Assim, podem perder a casa a qualquer momento. Jaime se compromete e ajudar a família e a irmã consegue um trabalho para ele de serviços gerais na mansão da ricaça Victoria Kord (Susan Sarandon). Algo dá errado e os dois perdem o emprego durante uma visita da sobrinha de Victoria, Jenny (Bruna Marquezine). A garota é simpática a Jaime por de alguma forma ter atrapalhado o dia de trabalho e dá à ele seu telefone e pede que o procure nas Indústrias Kord. Dias depois, Jaime vai ao local para falar com ela e a filha de Ted Kord o entrega uma caixa. A moça solicita ao garoto que guarde aquilo com sua vida e não abra. Porém, claro, por uma provocação da irmã, Jaime abre a caixa e o objeto em formato de Besouro pula nele e se acopla ao seu corpo. Minutos depois ele ganha um traje estranho e sai voando dali.

                                                                        Créditos: © 2023 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

Em inicio de conversa, o filme seria produzido para ir direto para o streaming da HBOMAX, que em breve se tornará apenas MAX, mas ganhou força para ser lançado nos cinemas.

Ao passo que Jaime se torna o besouro e entende que a ''Khaji Da'' pode dá-lo qualquer arma e o auxiliar a usar a armadura, a tia de Jenny fica possessa. Na verdade, a mulher estava a procura do escaravelho junto ao Dr. Sanchez (Harvey Guillén) e ao seu capataz ''Carapax'' (Rauol Max Trujillo), pois está desenvolvendo um projeto de ''soldado'' do futuro. O escaravelho, na verdade, seria a energia essencial para ativar tais soldados. Carapax é sua primeira tentativa, mas ainda não foi efetivada. Assim, logo que ela entende que o escaravelho achou seu hospedeiro, o rapta para sugar o que precisa e concluir seu projeto bilionário. Jaime ainda está aprendendo a lidar com a força que possui e acaba não resistindo. Mas o que Victoria não esperava era que Jenny e a família Reyes se unissem para salvar Jaime e não deixar que os planos da mulher se tornem reais, pois pode acabar matando o garoto.

                                                            Créditos: © 2023 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

A produção tem suas filmagens entre maio e julho de 2022 e foi rodada em Porto Rico, na Califórnia e na Geórgia.

O roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer equilibra bem as referências aos quadrinhos. Jenny Kord, o personagem da atriz brasileira Bruna Marquezine, foi criado para o filme, pois não existe na HQ. Já que o Besouro que chega a ser pai é Dan e o nome de sua filha é Danielle. Outra interessante alteração que ele fez foi mudar o sexo do vilão e vemos então Victoria, a irmã de Ted, guiar os conflitos. Nos quadrinhos, é Jarvis Kord, tio de Ted que tenta criar um exército de soldados robóticos. Inclusive, em certa cena que Jenny e Jaime vão ao laboratório Kord escondido em uma mansão velha, o público vai conseguir visualizar os primeiros uniformes do Besouro e inúmeros artefatos construídos por ele. Saindo dessa parte que se refere especificamente a adaptação, o texto de Alcocer é altamente preciso em introduzir latinos. Temos referências ao universo pop que só latinos conhecem como ''Chapolin Colorado'' e etc. Aliás, se prepare para ouvir repetitivamente Thalia e sua canção tema da novela mexicana ''Maria do Bairro'' meio a piadinhas familiares dos Reyes. Também vemos críticas ao imperialismo e evidências claras de como os latinos são unidos e permanecem unidos em qualquer momento. O matriarcado e toda sua potência tem vez com a super performance da atriz Adriana Barraza. Tio Rudy, personagem do ator e apresentador George Lopez, é o engraçadão do grupo e apaixonado por carros gigantescos que auxilia com tecnologia. 

A estética do filme é moderna, mas com diversos elementos dos anos 80 e 90, como o figurino e a trilha sonora. Apesar da aventura se dar em duas horas, ela está tão bem costurada que aparenta ser menor. A edição consegue ser enxuta e não se tem tempo de tela para respirar. O tom de comédia vem em muitos momentos e é maravilhoso ver os latinos ganhando representatividade com tanta perspicácia. Se para tirar ''The Flash'' dos quadrinhos e o introduzir como foi feito no inicio do ano, tendo que ligar sua trama a outros personagens que já tem inúmeros filmes, Besouro Azul, que também está ligado ao universo de Batman, mostra que não há tal necessidade quando a narrativa tem a intenção de dar tempo ao personagem e o desenvolver. Uma baita vitória da equipe de Blue Beetle.

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Blue Beetle, 2023. Direção: Angel Manuel Soto. Roteiro:  Gareth Dunnet-Alcocer - personagem criado por Charles Nicholas Wojtkowski e repaginado por Steeve Ditko, Gary Fredich, Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner. Elenco: Xolo Madureña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Adriana Barraza, Damián Alcázar, George Lopez, Becky G, Harvey Guillén, Raoul Max Trujillo. Gênero: Ação, Nacionalidade: Méxooco e Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: The Haxan Cloak. Fotografia: Pawel Pogorzelski. Edição: Craig Alpert. Design de Produção: Jon Billington. Figurino: Mayes C. Rubeo. Direção de Arte: Jay Pelissier. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02hr07min. 

Bruna Marquezine, aliás, deu muita sorte em ter sido escolhida para este projeto e não ter passado  nos testes do tenebroso The Flash. A atriz cabe na história perfeitamente, pois se constrói que a personagem tem origem brasileira e sim ela fala português em uma super cena do filme. Dá aquele orgulho de ver o Brasil ali se unindo aos hermanos mexicanos e porto-riquenhos, justamente o país que não fala espanhol, mas que tem inúmeras similaridades culturais para poder se identificar. Marquezine aliás contracena com ninguém mais, ninguém menos, que Susan Sarandon. E, apesar de uma ou outra cara de perdida, se sai bem, ou melhor, arrasa. Principalmente por ser uma entrada em Hollywood com tanta credibilidade e espaço. 

Se Xolo Madureña vai ou não viver Besouro Azul em uma nova aventura após o filme ser ou não sucesso, não sabemos. Com a repaginada que o universo DC está ganhando depois da contratação de James Gunn para o reboot das jornadas dos heróis na companhia tudo é um mistério e o próprio já disse que Blue Beetle já estava em produção quando tudo começou a ser repensado e ele não está conectado as novas propostas, mas pode ser que tenha espaço para ele (torcemos para que isso se valide, aliás). Xolo está perfeito no papel e tem uma carreira em construção que é de dar inveja. Fez parte de séries como ''Parenthood'' (2010-2015) e ''Cobra Kai'' (2018-atual) e tem potencial para emplacar uma série de filmes.

A direção de Blue Beetle foi muito certeira. Angel Manuel Soto não deixa o personagem cair em armadilhas e entrega um herói divertido e consciente. Como ele mesmo disse em entrevistas, temos aqui um ''David Cronenberg para crianças e adolescentes'' - referência ao clássico do diretor ''A Mosca'', de 1986. E não ele não soa pretensioso, o filme conquista por toda força latina que exibe e, por ter uma janela enorme com a distribuição Warner Bros Pictures, fará os latinos serem vistos no mundo todo e se sentirem bem consigo mesmos.

Ps: fique até o final dos créditos.

Avaliação: Três gerações de muito poder (3/5).


SOMENTE NOS CINEMAS

Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança, de Marcos Bernstein | Assista nos Cinemas

 
“É sobre isso que eu queria falar: viver, depois que uma pessoa que amamos vira apenas um número”!

Conhecido sobretudo como roteirista – inclusive, do já clássico “Central do Brasil” (1998, de Walter Salles) -, o carioca Marcos Bernstein possui alguns interessantes títulos em seu currículo como diretor, todos eles demarcados pela ternura, a exemplo de “O Outro Lado da Rua” (2004), a regravação de “Meu Pé de Laranja Lima” (2012) e a comédia romântica “O Amor Dá Voltas” (2019). Como tal, causa estranhamento a sua associação directiva a um projeto tão violento e repleto de cacoetes televisivos policialescos. Se pudéssemos realizar uma comparação imediata quanto aos seus caracteres tramáticos, o projeto audiovisual que guarda mais semelhanças com este filme seria a telessérie “A Justiceira”, exibida na TV Globo em 1997, sob direção de Daniel Filho.

Diferentemente daquele projeto, em que o roteiro enfatizava a composição dramática da personagem titular – enquanto as situações que ela enfrentava eram meros ‘macguffins’–,“Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança” (2023) não tem tempo de delinear psicologicamente a protagonista Carla, vivida de maneira afoita por Cláudia Abreu: na primeira seqüência, conhecemo-la desesperada, num instante de desespero, em direção a um hospital, depois que sua filha foi baleada num assalto urbano. A pretendida empatia em relação a ela não é construída a partir de elementos pessoais, mas do simples fato de que a personagem é uma mãe que se sente injustiçada, o que é despejado enquanto insuficiente motivação ideológica, não sendo gratuita a cena em que a psicóloga Natália (interpretada por Júlia Lemmertz) tacha essa mulher de fascista!

A partir daí, instauram-se as contradições inaceitáveis do roteiro, que parte de um argumento do próprio diretor: no letreiro inicial, surge um dado estatístico, indicando que as mortes causadas pela posse de armas de fogo aumentaram bastante nos últimos anos, o que parecia anunciar uma tônica antibolsonarista no enredo. Porém, à medida que a trama avança, o filme opta por referendar os atos estouvados de Carla, no sentido de que a perspectiva ficcional a converte numa espécie de anti-heroína, que, surpreendentemente, consegue aprisionar um traficante de drogas, um policial corrupto, um investigador federal e até mesmo o assassino idoso do pai de outra pessoa, num crime ocorrido há muitos anos!

Tal qual comentado anteriormente, conhecemos os detalhes familiares e profissionais de Carla através de ‘flashbacks’: em seu afã por instituir a ação frenética, a montagem do filme – a cargo de três editores diferentes! – demonstra-se francamente precipitada, repetindo lembranças e estraçalhando seqüências, que são picotadas de maneira exagerada, ostentando a inabilidade do diretor ao lidar com esse tipo de material. O que fica mais delicado justamente por conta da ambivalência (a/i)moral do enredo, que atinge o ápice no clímax “terapêutico” do subtítulo.

                                                                                                   Créditos: Paris Filmes/Divulgação
Longa conta com produção da Passaro Films, Hungry Man e Neanthertal MB e distribuição da Paris Filmes

Sinopticamente, o filme é oportunista em sua apresentação factual: depois que a advogada Carla testemunha um assalto e sua filha é baleada, ela torna-se uma “justiceira”, indo em busca do assaltante, mas insistindo em identificar também o responsável pela arma que ele utilizou, o que a leva a desvendar esquemas correlacionados de corrupção. Sem conseguir lidar com a dor repentina de perder uma filha, Carla conhece Natália numa terapia de grupo, onde descobre que os pais da psicóloga foram assassinados de maneira violenta, na infância da mesma, o que será determinante para um reencontro entre as duas profissionais, no desfecho pouco credível do filme.

Em âmbito rítmico/lingüístico, o filme tenta impingir o mesmo frenesi associado aos seriados policiais de TV. Porém, as elipses narrativas são estilisticamente confusas: vide os já mencionados ‘flashbacks’, introduzidos à guisa de chantagem emocional, ou a facilidade com que Carla encontra o paradeiro do bandido Beicinho (Kikito Junqueira). Além disso, a crise relacional entre esta última e o seu esposo (César Mello), que é médico, é abordada de maneira descuidada, o mesmo ocorrendo com a dúbia relação entre Carla e seu colega advocatício – e mal intencionado – Miranda (Alexandre Borges). Idem para o lapso de um ano que ocorre depois que a mulher dá um tiro em si mesma, o que engendra um mote espalhafatoso sobre esquecimento, visto que a possibilidade de uma cirurgia neurológica poderia provocar a perda total de memória, eliminando de Carla a responsabilidade ética por suas atitudes criminais.

Em avaliação geral,“Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança” é um filme que promete bastante – desde o seu título pretensioso, que insinua a possibilidade de trilogia –, mas que chafurda no automatismo de suas fórmulas acionais, importadas de modelos estrangeiros. As firulas do roteiro tornam-se ainda mais prejudiciais quando a inverossimilhança instaura-se definitivamente, do meio para o final, de modo que o acerto de contas definitivo vai negativamente de encontro ao letreiro de abertura: ao invés de refutar o impacto nocivo da proliferação de armas na sociedade, corrobora a sede de vingança de uma mãe desolada, que torna-se inimputável ao externar a sua fúria. Um contrassenso em todos os sentidos, portanto: trata-se de um filme perigosíssimo, que inverte a “moral da história” que Hollywood denunciou em filmes eficientes como “Olho por Olho” (1996, de John Schlesinger) e “Valente” (2007, de Neil Jordan)!

Trailer




Ficha Técnica

Título original e anoTempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança, 2023. Direção: Marcos Bernstein. Roteiro: Marcos Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas. Elenco: Cláudia Abreu, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, César Melo, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima. Gênero: Suspense. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Gustavo Hadba. Direção de Arte: Tiago Marques. Montagem: Tainá Diniz, Danilo Lemos e Marcelo Moraes. Trilha Sonora Original: Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Rogério da Costa Jr. Som direto: Jorge Saldanha. Edição de Som: Beto Ferraz. Produção de Elenco: Marcela Altberg. Figurino: Valeria Stefani. Caracterização: Auri Mota. Produção: Katia Machado, Alex Mehedff, Gualter Pupo, Luis Vidal e Marcos Bernstein. Empresas Produtoras: Hungry Man, Pássaro Films e NeanderthalMB. Coprodução: Globo Filmes. Produtor associado: Fernando Meireles. Produção Executiva: Carolina Aledi, UPEX e Mário Diamante.  Distribuição: Paris Filmes. Duração:

HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Fale Comigo, de Danny & Michael Philippou | Assista nos Cinemas


A Austrália não é exatamente conhecida por sua tradição no Cinema de Horror. Com exceção a coproduções com os Estados Unidos, como A Casa de Cera e O Homem Invisível, e a adaptação do videogame Silent Hill, os únicos sucessos genuinamente australianos no gênero que alcançaram alguma notoriedade ao redor do mundo foram Wolf Creek e O Babadook. Grandes filmes, mas nenhum potencial fenômeno que rivalizasse em pé de igualdade com franquias estadunidenses milionárias. Até que os gêmeos Danny e Michael Philippou resolverem mudar o jogo. Conhecidos por seu canal no YouTube (Therackaracka), no qual misturam Horror e Comédia, a dupla de irmãos ganhou diversos prêmios devido a suas criações para a Internet. Com sua crescente influência online e a experiência de quase uma década produzindo conteúdo em seu canal, migrar para a tela grande parecia uma evolução natural na carreira dos Philippou. E esta estreia não poderia ser mais estrondosa. Após uma proveitosa passagem por diversos festivais, Danny e Michael surpreendem o mundo com um dos filmes de Horror mais aguardados e promissores do ano.

O enredo de Fale Comigo pode soar simples, mas as camadas apresentadas em suas especificidades trazem um frescor criativo e original. No longa, um grupo de jovens descobre um meio de entrar em contato com o sobrenatural. A ferramenta necessária para tal é um objeto no mínimo singular: uma misteriosa mão decepada embalsamada, supostamente atribuída a uma vidente. Diante de uma vela acesa, uma pessoa voluntária dá um aperto de mão no membro decepado e diz duas palavras: “fale comigo”. Isso é o suficiente para um espírito errante surgir. Em seguida, outras palavras igualmente convidativas são proferidas: “eu te deixo entrar”. Prontamente, a alma manifestada é canalizada através da pessoa, possuindo-a para deleite das demais presentes. Dentro do intervalo máximo de 90 segundos (não mais do que isso), deve-se soltar o instrumento desconhecido e apagar a vela, fechando o portal espiritual com o oculto. Os rituais são filmados e compartilhados pela Internet, onde olhos curiosos assistem cada encontro do grupo através de telas. A protagonista da história, Mia (Sophie Wilde), visita um destes encontros acompanhada por sua melhor amiga, Jade (Alexandra Jensen), e o irmão dela, Riley (Joe Bird). Após se oferecer para uma demonstração e acidentalmente passar alguns segundos além do tempo estipulado pelas regras, Mia começa a ter visões sobrenaturais, inclusive vislumbres do espírito de sua mãe falecida dois anos antes.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: Talk To Me, 2023. Direção: Danny & Michael Philippou. Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman - caseado no conceito original de Daley Pearson. Elenco: Ari McCarthy, Hamish Phillips, Kit Erhart-Bruce, Sarah Brokensha, Jayden Davison, Sunny Johnson, Sophie Wilde, Marcus Johnson, Kidaan Zelleke, James Oliver, Joe Bird, Jett Gazley. Gênero: Terror, Horror. Nacionalidade: Australia e Reino Unido. Fotografia: Aaron McLisky. Trilha Sonora Original: Cornel Wilczek. Edição: Geoff Lamb. Design de Produção: Bethany Ryan. Direção de Arte: Gareth Wilkes. Figurino: Anna Cahill.  Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h35min.  
A forma como a mitologia da trama é desenvolvida através da perspectiva de jovens ainda sem muita noção da vida, cegos tanto por sua insegurança quanto por sua inconsequência, traz muita credibilidade à história. Isso é exatamente o que se esperaria de um grupo de adolescentes diante de um poder inexplorado e potencialmente perigoso, assim como divertido. Mia e suas amizades se colocam em posição de vulnerabilidade não apenas em relação aos fantasmas que invocam, mas também às lentes dos celulares que filmam as possessões, transformando os efeitos grotescos da violação espiritual em entretenimento nas redes sociais. O próprio caráter ritualístico dos encontros da turma traz uma camada a mais, funcionando como uma metáfora para o uso recreativo de drogas. Além da perda do controle corporal, que se torna uma marionete nesta roleta-russa sobrenatural, a possessão traz com ela uma espécie de adrenalina, um frisson incontrolável. Um “barato” que faz todos no grupo repetirem a cerimônia diversas vezes, ignorando os possíveis perigos do ato. A ingenuidade genuína dos personagens combinada aos diálogos que soam orgânicos e sinceros já garante incontáveis pontos positivos a Fale Comigo.

Os aspectos técnicos são outro ponto forte da estreia dos irmãos Philippou na tela do cinema. Os excelentes efeitos práticos expandem o leque de possibilidades narrativas na caixa de brinquedos dos diretores. Algo que o esquema de produção em massa de Hollywood tem diluído em boa parte dos filmes de estúdio é o senso físico de peso e textura em suas produções. Muito da percepção que fazem histórias ficcionais soarem reais na cabeça do público tem se perdido com o uso indiscriminado e por vezes injustificável de efeitos digitais no Cinema. Fale Comigo se beneficia de suas próprias limitações orçamentárias que combina direitinho com a criatividade de seus diretores. O resultado disso são cenas de violência gráfica brutais e surpreendentemente efetivas, agravadas pelo ótimo trabalho de som do filme. A atmosfera aterrorizante do filme vai muito além dos sustos baratos pasteurizados: a construção do suspense consegue segurar a atenção do público abusando da técnica competente de sua equipe para elevar o nível da história sendo contada. Para cineastas de 1ª viagem, os irmãos Philippou têm um admirável senso cinematográfico. Ainda que de forma discreta devido à modesta escala do filme, eles parecem entender muito bem como funciona o conceito de Audiovisual. Os dois, aliás, deixaram de estrear na direção de um filme do DCEU para debutar com esta produção.
        
                                                                                    Créditos: Diamond Films Brasil/Divulgação
O longa teve suporte financeiro da SAFC (South Australian Film Corporation) em parceria com a Screen Australia, Adelaide Film Festival, Gold Standard e KOJO Studios.

A cereja do bolo do longa é seu elenco. Os destaques são Sophie Wilde e Joe Bird. Wilde carrega o filme, sendo a personagem com mais camadas e melhor desenvolvida pelo roteiro, costurando as demais subtramas e trazendo muita verdade aos traumas de sua protagonista. Boa parte da atuação de Wilde se resume a expressar o desconforto emocional de Mia, enquanto a personagem tenta viver sua vida e se relacionar com suas amizades, além de lidar com sua relação delicada com o pai, Max (Marcus Johnson), enquanto fica presa ao passado pela perda da mãe. A visceral performance de Joe Bird, por sua vez, vale menção devido à fisicalidade que o ator traz ao filme. O personagem poderia ser apenas o irmão da amiga da protagonista, mas a atuação de Bird mostra camadas inesperadas entre a criança vulnerável que quer desesperadamente fazer parte de algo e a persona agressiva e descontrolada manifestada quando o Mal despertado pelo grupo se recusa violentamente a abandonar seu corpo. As cenas protagonizadas por ele são dignas dos piores pesadelos.

A estreia dos Philippou no Cinema opta por abrir mão de um final sangrento para construir uma conclusão simples e efetiva, mas devastadora. Fale Comigo é uma grande surpresa no gênero do Horror, evitando atalhos fáceis para construir uma obra atmosférica que reflete sobre a vulnerabilidade da juventude e os impactos emocionais do luto. Mas sem abrir mão da diversão.

17 de Agosto Nos Cinemas

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Gatos no Museu | Assista nos Cinemas


Você sabia que existe um projeto denominado “Gatos do Museu”, formado por um grupo de voluntários independentes, que visa melhorar a qualidade de vida e proporcionar novos lares aos quase 50 gatos que vivem nas dependências do Museu do Ipiranga, em São Paulo? E que o nome do projeto foi inspirado nos famosos gatinhos que prestam o nobre serviço de guardar o edifício que abriga o mais famoso museu russo, o Hermitage? 

E esse conto russo real é bem antigo. Ainda hoje, inclusive, um conhecido gato e seus colegas guardam as preciosas relíquias do Museu contra o ataque de ratos. Essa prática vem desde o reinado da Imperatriz Petrovna, que em 1745 emitiu um decreto ordenando que trinta e sete felinos fossem trazidos de Kazan para Leningrado (atual São Petersburgo) para caçar os roedores e impedir que as obras fossem danificadas. Os gatos tiveram, e ainda tem, um papel tão importante na conservação do Museu que foram homenageados com estátuas e os moradores de São Petersburgo celebram o Dia do Gato com a abertura dos portões do Museu e um convite à população e visitantes a conhecer os gatos que lá vivem.

                                                                                                                Créditos Divulgação
Gatos no Museu foi lançado na Russia em março deste ano e chega agora ao país com distribuição da Imagem Filmes.

A animação russa “Os Gatos no Museu” (Koty Ermitazha), dirigida por Vasiliy Rovenskiy, que também divide o roteiro com Elvira Bushtets e Fyodor Derevyanskiy é inspirado na incrível história desses felinos. A trama, voltada para o público infantil, traz um lindo gatinho laranja sem nome, que após ficar órfão, passa a viver uma vidinha bem tranquila em uma mansão numa ilha deserta. Seu único vizinho é um cachorro bem trapalhão. Tudo corria bem até que o destino lhe prega uma peça e ele vai parar num museu do outro lado do mundo. Na travessia, ele conhece o ratinho Maurice, agora seu único e peculiar amigo. O roedor é um grande conhecedor das artes e se gaba de já ter provado várias obras famosas, sabendo distinguir as genuínas das falsas. Ele é tão culto, aliás, que batiza o amigo felino com o nome de Vincent em homenagem ao pintor holandês Van Gogh. O que eles ainda não sabiam é que estavam no mais famoso museu do mundo, o Hermitage, na Rússia. E juntos terão que enfrentar desafios e colocar toda coragem à prova quando o Museu recebe um tesouro de valor inestimável, a Monalisa. 

Maurice logo decide que precisa degustar a obra de arte e seu amigo Vincent fica dividido entre a amizade ou o dever de preservar o quadro junto com um batalhão de gatos que prestam serviços no local. E para completar ainda aparece uma linda fêmea persa de nome Cleópatra para mexer com o coração do felino e um fantasma que assombra os corredores do Museu.

Trailer



Ficha Técnica

Título original e ano: Koty Ermitzha, 2023. Direção: Vasiliy Rovenskiy. Roteiro: Elvira Bushtets, Fyodor Derevyanskiy, Vasiliy Rovenskiy, Gerry Swallow. Dublagem Brasileira: Bruno Casemiro, Danilo Diniz,Francisco Jr, Ramon Campos, Renato Marcio, Rodrigo Araújo, Henrique Canales, Guilherme Conradi, Fernando Ferraz, Henrique Reis, Luciana Barolli, Raquel Marinho, Enrico Espada, Luiz Motta, Stela Sayuri. Gênero: Animação, Comédia, Aventura: Nacionalidade: Russia. Trilha Sonora Original: Anton Gryzlov. Edição: Eduard Nuritdinov, Maksim Mironenko, Vasiliy Rovenskiy. Produção: Roman Borisevich, Vasiliy Rovenskiy, Maxim Rogalskiy. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 01h23min.
O diretor Vasiliy Rovenskiy chega aos cinemas pela sétima vez conduzindo uma animação. Antes desta também foi responsável por Big Trip 1 e 2 (2019 e 2022) , Pinocchio - O Menino de Madeira (2021), Animais em Apuros (2018). Como roteirista e produtor, tem mais de 16 títulos no currículo e está em fase de produção mais um trabalho. A animação tem produção da Licensing Brands e na Rússia foi distribuída pela Nashe Kino e a CTB Film Company.

“Gatos no Museu” é uma história divertida, colorida, com ótimas referências a pinturas famosas, que fala sobre lealdade, amizade sincera, respeito e preservação do patrimônio histórico. Os pequenos vão se divertir!

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Disco Boy: Choque Entre Mundos, de Giacomo Abbruzzese | Assista nos Cinemas


Disco Boy: Choque Entre Mundos, estreia desta semana nos cinemas, é uma mixórdia de temas que não dá liga. Com premissa interessante, atores excelentes, fotografia tecnicamente brilhante e ganhadora do prêmio de contribuição artística no Festival de Berlim 2023, não consegue ter unidade no roteiro, criando uma estória confusa e inconclusiva.

O enredo concentra-se em dois arcos realistas que colidem em um embate sangrento e se harmonizam no final em um desfecho fantástico. Primeiro acompanhamos a trajetória de Alex, interpretado pelo excelente ator alemão Franz Rogowski, um migrante bielo-russo que entra clandestinamente na França, procurando uma vida melhor. Perseguido por policiais na travessia da fronteira, Alex presencia a morte de seu amigo e, sozinho em Paris, decide alistar-se na Legião Francesa, para um dia conseguir a cidadania francesa, regularizando seus documentos. O espectador então passa a presenciar seu árduo treinamento na Legião. Aí já temos dois temas de filmes: uma peça de crítica social dos migrantes ilegais e um filme de formação de soldado numa estrutura militar.

O segundo arco é um documento etnográfico-ecológico sobre a Nigéria, onde petrolíferas estão destruindo o ecossistema de um delta de rio, prejudicando a sobrevivência de uma tribo que vive lá. O líder da aldeia, Jomo (Morr Ndiaye) resiste a esses capitalistas gananciosos e, fortemente armado, sequestra funcionários franceses, numa tentativa de parar essa exploração. Em paralelo, conhecemos sua irmã, Udoka (Laetitia Ky) que deseja ir para cidade grande. Ambos os irmãos compartilham heterocromia (cada olho com cor diferente) e são dançarinos rituais nas festividades tribais. Neste trecho do filme, num diálogo entre os africanos, Jomo revela que se tivesse nascido no ocidente, seria um disco boy, dançarino de festas eletrônicas.

Há então o embate. A Legião Francesa é convocada para libertar os sequestrados. E, numa noite de caos, Alex mata Jomo, enterrando-o na beira do rio, num ato de compaixão. Em sequências de puro terror, presenciamos a aldeia ser incendiada, para consternação do soldado, que tem empatia pelas mulheres e crianças do local.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: Discobooy, 2023. Direção e Roteiro: Giacomo Abbruzzese. Gênero: drama. Nacionalidade: França, Itália, Bélgica e Polônia. Elenco: Franz Rogowski, Morr Ndiaye, Laetitia Ky, Leon Lucev, Robert Wieckiewicz, Matteo Olivetti, Michal Balicki. Direção de Fotografia: Hélène Louvart. Trilha Sonora: Vitalic. Montagem: Ariane Boukerche, Fabrizio Federico, Giacomo Abbruzzese. Desenho de Produção: Esther Mysius. Produção: Lionel Massol, Pauline Seigland. Gênero: drama. Nacionalidade: França, Itália, Bélgica e Polônia. Distribuição:  Pandora FilmesDuração: 91 minutos. Classificação Indicativa: 12 anos.

De volta a Paris, após algum tempo, Alex passa a apresentar comportamento estranho. Essa aventura na África abalou suas convicções e certezas. Numa saída para uma boate, assiste a dança de uma mulher, onde reconhecemos Udoka, que se refugiou na Europa. Em uma guinada de realismo mágico, Alex passa a assumir comportamento errático, afastando-se dos companheiros de farda e assumindo características de Jomo, inclusive a heterocromia. No apoteótico final, após incendiar seu armário com itens pessoais no centro de treinamento na Legião Francesa, o transformado Alex reúne-se a Udoka, na boate, numa sequência de dança tribal.

                                                                                                                                           Créditos: Divulgação
A produção passou por inúmeros Festivais, além do Festival de Berlim, entre eles o Hong Kong International Film Festival, o Vilnius International Film Festival, o Crossing FilmeEurope FilmFestival, o Jerusalem Film Festival e também o Italian National Syndicate of Film Journalists.


Então temos amalgamado no mesmo filme, em hora e meia, drama de crítica social, formação militar com direito a nus masculinos gratuitos, documentário etnográfico, guerras coloniais e mutações místicas, num desfecho de realismo fantástico. Isso dá certo? Não. Essa diversidade de temas não dá unidade à estória e acaba criando um roteiro superficial, onde a temas importantes não é dada a devida atenção. Inclusive, a cena da dança é até ofensiva, comparar uma dança tribal africana milenar a sacolejos numa boate de música eletrônica européia é até indelicado, para dizer o mínimo. Uma apropriação cultural indevida, ainda mais dançada por um homem caucasiano.

Quem se esbaldou aqui foi a fotógrafa francesa Hélène Louvart que, aproveitando-se da diversidade de temas e cenários, demonstrou toda sua versatilidade nos filtros e câmeras, em sequências criativas, belas e inusitadas. Inclusive A Vida Invisível, do Karim Ainouz, mostra um Rio de Janeiro belíssimo graças ao excelente trabalho dessa fotógrafa. O prêmio no Festival de Berlim 2023 foi mais que merecido. Talvez focando o longa em um único dos vários temas apresentados, o resultado desse primeiro longa-metragem de ficção do diretor italiano Giacomo Abruzzese tivesse sido bem melhor. Assistam! Prestigiem o cinema! 

Nota: 4/10.

HOJE NOS CINEMAS