A infância do pequeno Peter (Woody Norman) é marcada pela solidão. Seus dias se resumem à relação com sua família controladora e ao bullying sofrido por ele na escola. O isolamento emocional do garoto é logo notado por sua nova professora, Srta. Devine (Cleopatra Coleman), que passa a interceder por ele. A já complicada vida do garotinho ganha ares de mistério quando batidas vindas do outro lado de uma das paredes de seu quarto o acordam certa noite, causadas por uma entidade chamada Sarah. A presença passa a se comunicar com Peter e conquista sua confiança, revelando que as paredes antigas daquela casa escondem muito mais segredos do que ele imagina.
Em Toc Toc Toc: Ecos do Além, o diretor estreante em longas-metragens Samuel Bodin constrói uma fábula macabra e aterrorizante, cheia de momentos de gelar o sangue e pular da cadeira. Mas não se tratam apenas de sustos vazios: a construção da atmosfera opressiva e do contexto emocional desesperançoso no qual o protagonista está inserido é o segredo para a efetividade da execução desta história. Partindo de medos e inseguranças muito reais, o longa toma o cuidado de desenvolver uma trama bastante palpável antes de levar o público pelos cabelos em direção ao absurdo. Contextualmente, é uma sopa de elementos já familiares do gênero do Horror. Parece um livro de Goosebumps ou um episódio de Clube do Terror, com ares de o Telefone Preto, um pouco de Noites Brutais e uma pitadinha de Skinamarink. Mesmo assim, estabelece uma narrativa honesta que subverte expectativas e, por fim, resulta em algo que cheira e soa como algo próprio, único.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Cobweb, 2023. Direção: Samuel Bodin. Roteiro: Chris Thomas Devlin - levemente inspirado no conto '' O Coração Delator'', de Edgar Alan Poe. Elenco: Lizzy Caplan, Anthony Starr, Woody Norman, Cleopatra Coleman, Luke Busey, Aleksandra Dragova, Jay Rincon, Anton Kottas, Steffanie Sampson. Gênero: Suspense, Terror. Nacionalidade: EUA e Bulgária. Trilha Sonora Original: Drum & Lace. Fotografia: Philip Lozano. Design de Produção: Alan Gilmore. Figurino: Anna Gelinova. Edição: Kevin Greutert e Richard Riffaud. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01hr28min.
Samuel Bodin combina um design de produção competente com uma ótima direção de fotografia (obra do francês Philip Lozano) para trazer um senso inesperado de movimento e profundidade às cenas. Por vezes, as escolhas de ângulos e movimentações de câmera dão um clima de ilustração de livro pop-up, aumentando a aura de conto de fadas sombrio da história. Estas escolhas criativas interessantes fazem Toc Toc Toc se destacar em meio a um mar de obras genéricas que ganham as salas de cinema e infestam os streamings por aí. Mas talvez o maior diferencial do longa de Bodin seja simplesmente o fato de soar genuíno. Por mais que diversas outras histórias compartilhem semelhanças com as desventuras de Peter em sua casa decrépita, Toc Toc Toc não parece se esforçar para se encaixar no que o público espera, permitindo-se abraçar sua própria bizarrice, sem dar muitas explicações ou pedir perdão.
Este sentimento se reflete também nas atuações de Lizzy Caplan e Antony Starr, como a família ameaçadoramente superprotetora do protagonista. Ambos parecem estar num tom ligeiramente acima do resto do elenco, sempre um passo adiante. Quando a insanidade toma conta da trama, Caplan e Starr roubam os holofotes e fazem valer cada segundo que aparecem em tela. Woody Norman também é uma grata surpresa como o protagonista Peter. Sua atuação evita cair em armadilhas maniqueístas esperadas deste tipo de papel e consegue convencer mesmo quando o personagem adota posturas consideradas antagônicas.
Créditos: Lionsgate
Toc Toc Toc não parece almejar ser uma unanimidade com o público. A intenção desta narrativa quase infantil que bebe do Gótico é surpreender com a beleza de sua violência ao construir algo original e aterrorizante a partir da familiaridade. O desconhecido é assustador, assim como a violência vinda de lugares que deveriam ser seguros, o trauma não curado. Certos medos não precisam do escuro pra se esconder. Certos medos simplesmente não vão embora.
HOJE NOS CINEMAS
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