No último ano um dos melhores filmes nacionais lançados em Festivais Brasileiros retratava o povo indígena Korubos na região amazônica e o trabalho da FUNAI para fazer acontecer o reencontro da tribo que estava separada. ''A Invenção do Outro'', documentário de Bruno Jorge, emocionou a todos pela humanidade que apresentou, além de homenagear o falecido indigenista Bruno Pereira. Neste ano, o aguardado novo longa-metragem do cineasta Martin Scorcese, ''Assassinos da Lua das Flores'', adaptação do livro de David Grann (veja aqui), também vem retratar um povo indígena que sofreu com a constante perseguição do homem branco no continente norte-americano.
A trama revela como, na virada do século XX, foi descoberto no território da nação Osage uma poço petrolífero que deixou a todos ricos, ou até milionários. A notícia correu e o lugar começou a receber pessoas que não eram da tribo para trabalhar e fazer a roda da economia girar por ali. Com estas pessoas, vieram a ganância e a ambição e muitos dos nativos acabaram mortos tragicamente por aqueles que foram àquelas terras de olho no poder econômico que o petróleo trouxe. A família Burkhart, formada pela matriarca Lizzie Q (Tantoo Cardinal) e suas filhas Mollie (Lilly Gladstone), Anna (Cara Jade Myers), Minnie (Jillian Dion) e Reta (Janae Collins) foi uma das primeiras a ser massacradas quase que inteiramente, mas um pedido de Mollie à autoridades governamentais e também aos organismos indígenas fez com que uma das primeiras investigações do FBI entrasse em cena e perfurasse a nuvem nebulosa que cercava as mortes destas mulheres.
O filme, em suas três horas e vinte e seis minutos de duração, dá ao espectador a chance de entrar em contato com ''a perspectiva do homem branco sobre ele mesmo''. O roteiro traz o idioma Osage em inúmeras falas, a tradução brasileira aparece vez ou outra nestas partes, e em sua maioria a língua inglesa é dominante. Há um cuidado enorme da direção em criticar a ação realizada por Willliam Hale, personagem de Robert De Niro, ao cooptar o sobrinho Ernest, vivido por Leonardo DiCaprio de forma voraz, para se casar com Mollie e assim planejarem a morte de todas as outras mulheres da família para que toda a sua herança chegue as mãos de Hale - um dito amigo da comunidade indígena e que reside no lugar há muito tempo.
Créditos: Paramount Pictures / Apple Studios / Divulgação
Na primeira imagem, o retrato histórico das irmãs Burkhart. Na segunda, as atrizes que as interpretaram, Jillian Dion, Lilly Gladstone, Cara Jade Myers e Janae Collins.
O longa tem palco em 1920 e se inicia com um ritual de passagem, um funeral. Ali o xamã da tribo evoca a espiritualidade presente e conduz tudo na língua Osage. Enquanto isto, Ernest está voltando da guerra para casa do tio William. Henry (William Belleau), um nativo muito amigo de Hale vai a estação buscar o homem. O irmão do recém chegado, Byron (Scott Shepherd), também está vivendo com o tio e os dois se reveem. Ernest começa a trabalhar de taxista na região e vem a conhecer Molly Burkhart por acaso durante uma corrida. Seu tio William então menciona a moça para ele como um bilhete da loteria a ser conquistado e ele corre atrás de seu prêmio. Abençoado com uma cara bonita, o homem tem sorte e a mulher também flerta com ele, apesar de seus dentes mal cuidados. Não demora e os dois se casam e iniciam sua vida juntos. Contudo, as irmãs de Mollie vem ficando doentes e morrendo uma a uma sem explicação. A tribo então se reúne e decide enviar um representante para falar com autoridades fora dali para tentarem descobrir o que está acontecendo, pois mais irmãos nativos começam a morrer misteriosamente.
Uma das irmãs de Mollie, Anna (Cara Jade Myers), rebelde, farrista e alcoólatra vem visitar a mãe acamada certo dia e após ser levada para casa pelo irmão de Ernest, some. Dias depois é encontrada morta e a perícia local serra o corpo da vítima para tentar achar resíduos da bala, mas ''diz não encontrar nada''. Não bastasse a perda das irmãs de forma repentina e cruel, Mollie inicia um tratamento para a diabetes, com o auxilio de Willian e Ernest, e fica imensamente doente tempos depois da morte da mãe e de todas as irmãs.
O caso só vira uma investigação oficial do FBI quando o texano Tom White (Jesse Plemmons) chega ao lugar e inicia uma caçada cautelosa atrás dos assassinos e cumplices.
O roteiro tem certa narração que explica com maestria o título do filme, a forma dos nativos de ver o mundo e a sua pureza fica ainda mais clara neste momento. Scorcese conduz os destinos trágicos dos personagens de forma compassada e com tempo para que todos tenham sua vez. A única e pequena problemática encontrada seja talvez a romantização na relação entre Ernest e Mollie. O personagem age conforme orientado pelo tio e continua até os atos finais tentando enganar a mulher, mas os fatos claros e na mesa conseguem dar à ela a certeza de que ali não mora afeto. Há momentos ótimos no filme que discutem ''a questão da pele'' dos índios'' e vemos o preconceito racial surgir sorrateiramente.
Ao final da trama, vem os famosos detalhes da tragédia. O terceiro ato é perpetuado por cenas no tribunal e com a aparição dos atores Brendan Fraser e John Lithgow. Um como advogado do lado petrolífero interessado na liberdade de William Hale e o outro do governo. Ambos surgem para confundir a cabeça de Ernest e até conseguem em certo momento, mas a investigação de Tom White, personagem real da história da organização mais famosa do mundo, deu inúmeras provas ao tribunal para a condenação dos responsáveis.
Trailer
Ficha Técnica
Titulo Original e Ano: Killers of the Flower Moon, 2023. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese. Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Jesse Plemons, Lily Gladstone, Tantoo Cardinal, John Lithgow, Brendan Fraser, Cara Jade Myers, JaNae Collins, Jillian Dion, William Belleau, Louis Cancelmi, Tatanka Means, Michael Abbot Jr., Pat Healy, Scott Shepard, Jason Isbell, Sturgill Simpson. Gênero: Drama. Nacionalidade: Eua. Produção: Martin Scorsese, Dan Friedkin, Bradley Thomas, Daniel Lupi. Produção Executiva: Leonardo DiCaprio, Rick Yorn, Adam Somner, Marianne Bower, Lisa Frechette, John Atwood, Shea Kammer, Niels Juul. Distribuição: Paramount Picturs Brasil. Duração: 03h2z6min.
Assassinos da Lua das Flores é um dos melhores trabalhos do diretor, e olha que nem é elogio falar isso, já que ele tem uma filmografia extensa com longas primorosos. Mas consegue abordar a temática sem soar calhorda ou racista. Pelo contrário, é afirmativo quanto aos crimes e seus culpados.
Avaliação: Cinco tiros fatais (5/5)
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