Enquanto grandes diretores estão se voltando ultimamente para produções de muitas horas, o diretor finlandês Aki Kaurismäki nos apresenta mais do mesmo, metragem curta, oitenta e um minutos apenas, poucos atores, estórias mínimas, o arroz com feijão que ele sempre tem na panela. Mas que prato feito maravilhoso! Essa utilização parcimoniosa de recursos cresce na mente do espectador, esquenta o coração e faz ver que a vida vale a pena! Isso não é pouco, numa época de tão grande desesperança, com tantas guerras!
Aki Kaurismäki ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2023 com esse filme tão encantador e singelo, do qual ele também é roteirista. Figurinha carimbada nos festivais de cinema, sua carreira notabiliza-se por filmes como O Outro Lado da Esperança (2017), ganhador do Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim, e Nuvens Passageiras (1996), vencedor do Prêmio do Público na 20ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do qual é participante habitual.
Ansa (Alma Pöysti) é uma solitária atendente de supermercado, que mora sozinha em uma casinha na periferia da cidade e que tem poucas colegas no trabalho. Holappa (Jussi Vatanen) é um solitário operário que mora no alojamento da empresa e que tem um único colega no serviço. Essas almas solitárias se encontram em um karaokê e trocam olhares, mesmo sem falar uma única palavra.
O espectador acompanha então os encontros e desencontros destes dois fracassados na tela e a conclusão dessa história esbanja beleza quando faz uma homenagem certeira ao filme ''Tempos Modernos'', de Charles Chaplin. Nesta trajetória cheia de percalços, torce-se pelo casal, tão simpático em sua humanidade, desorientação e falta de sorte na vida. O diretor, em nenhum momento, foge aos problemas da vida real. Alcoolismo, subemprego, pobreza, exploração patronal, tudo é abordado, mas com a verve cômica que sempre o acompanha e é marca registrada de todos os seus trabalhos.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Kuolleet Lehdet, 2023. Direção e Roteiro: Aki Kaurismäki. Elenco: Alma Pöysti, Jussi Vatanen, Martti Suosalo, Alina Tomnikov, Janne Hyytiäinen, Sherwan Haji, Sakari Kuosmanen, Nuppu Koivu, Maria Heiskanen. Gênero: Comédia, Drama, Romance. Nacionalidade: Finlândia e Aleamanha. Fotografia: Timo Salminen. Edição: Samu Heikkilä. Direção de Arte: Ville Grönroos. Figurino: Tiina Kaukanen. Distribuidora: O2Play. Duração: 81 min
Coadjuvantes adoráveis pululam em todas as cenas. Tão fracassados como os protagonistas, esses ajudantes de cena rodeiam o casal, também com seus problemas e soluções. Não é uma película pessimista, todos dão seus jeitos para resolver seus conflitos. Essa visão otimista deixa o espectador mais leve ao final da projeção. É uma obra “feel good” inteligente, que não subestima o raciocínio de quem está assistindo. Não há fantasismo romântico em nenhum momento. A visão de que pessoas comuns cheias de problemas e defeitos também podem amar e ser felizes é sublime e encorajadora!
Entre notícias terríveis sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, ouvidas ininterruptamente na rádio vintage de Ansa, o casal adorável, totalmente disfuncional e sem jeito, dá um show de interpretação em todas as cenas. Como um par pode ser tão desagradável às vezes e ao mesmo tempo tão fofo, só assistindo para se ter uma ideia do que se tenta-se ''vender'' aqui. Quando eles se decepcionam um com o outro, o espectador se magoa também. No final, todos estão torcendo para que eles fiquem juntos.
A película chega aos cinemas no fim do mês comercialmente e, assim como embalou o público da Mostra, tem chances de divirtir muito o resto do Brasil com essa abordagem do cinema romântico! Todos vão sair com o coração quentinho e prontos para dar mais uma chance ao amor!
Nota: 8/10.
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