Napoleão, de Ridley Scott | Assista nos Cinemas


O estadista e comandante francês Napoleão Bonaparte ganha jornada biográfica pela ótica Hollywoodiana de ninguém mais, ninguém menos que Ridley Scott, diretor responsável por Gladiador (2000) e inúmeros outros clássicos como Alien - O Oitavo Passageiro (1979), Blade Runner (1982), Thelma & Louise (1991) e muitos outros. Scott não necessariamente entrega o melhor épico de sua carreira, talvez já o tenha feito e ganho Oscar por isto, mas apresenta uma figura muito adorada mundialmente e que foi responsável por estratégias de guerra que são estudadas em escolas militares ainda hoje. Com produção magnânima da Apple Studios e distribuição da Sony Pictures, o longa falado em inglês, traz Joaquin Phoenix na pele do pequeno grande imperador e Vanessa Kirby como Josefina, a primeira esposa de Napoleão.

Mesmo datando quase todos os períodos e eras em que o filme perpassa, o mesmo sofre alterações históricas. A película se inicia com a França em total ebulição pelas revoluções populares. Maria Antonieta (Catherine Walker) caminha para execução e ali aguardando tudo acontecer está Napoleão - cena mais simbólica do que exatamente verídica. Aliado aos poderosos da corte, não só continua a travar batalhas com países imponentes na Europa - Reino Unido, Áustria, Itália, Rússia, Espanha, Turquia (alguns deles ainda separados por Reinos) - para defender a nova República francesa como quer se manter forte e a frente de tudo. E assim o filme vai trazendo a tona as guerras napoleônicas com as nações já citadas. As baixas nos exércitos vão aumentando a cada nova incursão e os êxitos vão se transformando em fracassos. A vida particular do protagonista também tem destaque e retrata como ele conhece e desposa de Josefina, uma dama viúva que aguarda dias melhores. Aborda-se a relação como algo intenso muito mais para Napoleão e que a união seria a salvação para esta mulher perdida sem marido. Se casam e Napoleão espera muito por um herdeiro que não vem. Josefina é pega no pulo diversas vezes e deixa o esposo fulo da vida já que tais histórias chegam ao olhar do público e dos inimigos. Contudo, ele que também teve amantes e filhos bastardos, não é estigmatizado. O casamento é dissolvido para que o Imperador possa unir seu sangue ao Reino da Áustria e assim formar alianças mais poderosas com um herdeiro vindo do ventre de Marie-Louise (Anna Mawn), o que acontece, mas que não necessariamente significa muito já que os ''Reis'' mudavam de lado toda hora. 

O primeiro reinado de Napoleão se dá entre 1804 e 1814, quando é exilado para a Ilha de Santa Elba e forçado a abdicar de tudo. Retorna no ano seguinte por um breve período e ao travar batalha com os britânicos e aliados (Batalha de Waterloo) é deposto novamente e enviado a Ilha de Santa Helena onde morre cinco anos depois. Scott evidencia todos os recortes das lutas com grandiosidade, um detalhe seu muito abundante. Assim, o espectador é levado a ver o Egito sendo atacado, o exército francês caminhar até a Rússia e ser pego de surpresa por um inverno horrendo e ainda as guerras políticas acontecerem dentro da corte francesa. Tudo para validar os eventos ocorridos a Napoleão e em volta deste.

Trailer



Ficha Técnica

Título original e ano: Napoleon, 2023. Direção: Ridley Scott. Roteiro: David Scarpa. Elenco: Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Rupert Everett, Riana Duce,  Miles Jupp, Edouard Philipponnat, Mark Bonnar, Ben Miles, Sinéad Cusack, Harriet Bunton, Charlie Greenwood, Audrey Brisson, Matthew Needham, Catherine Walker, Ian McNeice, Paul Rhys, Riana Duce, Anna Mawn, Sam Crane, Ludivine Sagnier, Scott Handy, Youssef Kerkour, Abubakar Salim, John Hollingworth, Jannis Niewöhner. Gênero: Drama, Guerra, Biografia. Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Martin Phipps. Fotografia: Dariusz Wolski. Edição: Claire Simpson e Sam Restivo. Design de Produção: Arthur Max.  Direção de Arte: Denis Schnegg.  Figurino: Janty Yates e David Crossman.  Distribuição: Sony Pictures Brasil. Produção: Apple Studios e Scott Free Productions. Duração: 02h38min. 

O roteiro por vezes pode vir a confundir e fazer o espectador se perguntar se realmente ''certo evento'' aconteceu daquela forma, mas a licença poética pode muito bem  vir a calhar e entrar em cena fazendo as nuvens cinzas se deslocarem. Para um super épico, o que falta ao filme é um verdadeiro clímax e/ou um levante do personagem. Phoenix é um excelente ator e seu perfil se encaixa perfeitamente com o deste ícone de estatura mediana, ainda assim, Napoleão era visto como um comandante extremamente autoritário e a performance do ator vem mais cordial, romântica até. Josefina vira o alicerce de suas motivações e ao mesmo tempo que o enredo a demoniza, também a faz vítima - algo estranho para um diretor com tantas produções que humanizam as mulheres. 

                                                                                                                     Créditos: Sony Pictures
Está previsto o lançamento da versão com corte do diretor na Apple Tv+. A mesma tem mais de três horas de duração.

Napoleão Bonaparte foi responsável por uma transformação de grande magnitude na França. O filme não consegue exibir tal força da sua aura governante e foca muito mais nas batalhas e em sua vida pessoal. A partir do golpe que auxilia e protagoniza. Toma plenário para realizar sessões de pesquisas, redige códigos civis e constituições e está sempre presente como ''governante'' quando se auto coroa imperador. No longa de duas horas e trinta e oito minutos de Scott, a real inteligência do imperador não é muito bem transmitida. Até se entende as táticas de guerra - surpreender o inimigo no fronte - mas o recorte fica ai. É dito que Napoleão se frustrava muito com os fracassos e a parte é reproduzida com veemência, mas para além disso, não há uma investigação comportamental ou anterior para falar dos seus complexos de inferioridade.

Visualmente, Napoleão é deveras fascinante. Cenas que provocam êxtase pela teatralidade. Algo super dentro da cadência também e a orquestração das pinturas clássicas. Jacques Louis David (Sam Crane) aparece em diversas cenas enaltecendo o imperador - e este era seu pintor oficial. Para destaque em cena, a presença de Rupert Everett como Duke de Wellington é de um primor enorme - ainda que aparentemente os britânicos tenham sido ainda mais carrascos do que o exibido.

Em hipótese alguma deve-se deixar de ir ver o filme na maior sala possível, contudo, a contenção da expectativa para algo mais bem desenvolto, como outros filmes do diretor, é necessária. Afinal, o mediano ainda é algo muito compensador. E por hora este aqui não chega nem perto da tenebrosidade que a Casa Gucci (2021) entrega.

Avaliação: Dois cavalos sangrando e meio (2,5/5)

See ya!
B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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