“Um matemático não pode ter emoções”!
Em linhas gerais – e a sinopse não deixa dúvidas quanto a isso –, “O Desafio de Marguerite”(2023, de Anna Novion) é uma comédia romântica que segue uma fórmula bastante tradicional, com um desenvolvimento tramático previsível e inúmeras simplificações enredísticas, a despeito de seu tema aparentemente pouco acessível: as questões referentes à complexidade matemática. Porém, o roteiro co-escrito pela própria diretora demonstra-se continuamente divertido, ao acumular os anticlímaces necessários ao desenvolvimento emocional da protagonista…
Na verdade, os aspectos cômicos do filme são discretos, relacionados sobretudo ao comportamento estereotipado da protagonista Marguerite (Ella Rumpf), apresentada inicialmente como “uma universitária de chinelos”, visto que esta peculiaridade indumentária é enfatizada numa entrevista que ela concede ao jornal do campus. Sem perceber a malícia da entrevistadora – e estando acostumada às humilhações de outros colegas –, ela apenas contemporiza: “é que eles são confortáveis”!
Extremamente insegura, Marguerite tem uma relação dependente com o seu orientador, o arrogante Laurent Werner (Jean-Pierre Darroussin), não obstante ela demonstrar-se mais inteligente que ele nalgumas
oportunidades. Ambos se interessam pela resolução de um complicado teorema matemático, de modo que pesquisam a progressão aritmética dos números primos. Porém, a relação entre eles é contrabalançada quanto Laurent resolve orientar outro estudante, Lucas (Julien Frison), que pesquisa o mesmo assunto que Marguerite.
oportunidades. Ambos se interessam pela resolução de um complicado teorema matemático, de modo que pesquisam a progressão aritmética dos números primos. Porém, a relação entre eles é contrabalançada quanto Laurent resolve orientar outro estudante, Lucas (Julien Frison), que pesquisa o mesmo assunto que Marguerite.
Créditos: Divulgação / Festival Varilux
O coprodução franco-suíça passou por mais de cinco Festivais de Cinema na França, incluindo, o Festival de Cannes e estreou comercialmente no último 01 de novembro nos cinemas franceses.
Como não poderia ser diferente, no escopo genérico ao qual este filme é filiado, Marguerite apaixonar-se-á por Lucas, por mais que relute em admitir isso. Desacostumada a perceber-se atraente, ela decide experimentar os prazeres do orgasmo ao ouvir os gemidos de uma companheira de quarto, a dançarina Noa (Sonia Bonny), e persegue um rapaz ao sair de uma boate, depois que causa estardalhaço entre seus conhecidos ao abandonar o Doutorado em Matemática. Lidando com problemas cotidianos – como trabalhar numa loja de calçados esportivos e precisar encontrar dinheiro às pressas, para pagar o aluguel –, Marguerite começa a refletir sobre o percurso que a levou a ficar obcecada pelas relações entre os números…
Segundo ela, isso ocorreu desde a infância, quando ajudava a sua mãe professora (Clotilde Courau) a corrigir as provas do Ensino Fundamental. Nos intervalos de suas atividades infantis, ela depara-se com a constatação da infinitude do Universo, e decide compensar isso através de um mergulho progressivo nos cálculos matemáticos. Entretanto, isso faz com que ela se torne uma pesquisadora tão abnegada quanto antissocial, chegando ao momento em que seu orientador testemunha que “isso nos consome por inteiro”. A partir daí, até mesmo os rolos de papel higiênico da residência em que ela vive serão riscados por cálculos!
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Le théorème de Marguerite, 2023. Direção: Anna Novion. Roteiro: Agnès Feuvre, Marie-Stéphane Imbert, Philippe Paumier, Mathieu Robin, Sara Wikler e Ana Novion. Elenco: Ella Rumpf, Jean-Pierre Darroussin, Clotilde Courau, Julien Frison, Sonia Bonny, Xiaoxing Cheng, Camille de Sablet, Ava Baya e Karl Ruben Noel. Gênero: Drama. Nacionalidade: França e Suiça. Trilha Sonora Original: Pascal Bideau. Fotografia: Jacques Girault. Edição: Anne Souriau. Figurino: Clara René. Distribuidora: Bonfilm. Duração: 01h52min.
A trilha musical de Pascal Bideau, fascinante em sua sobreposição de côros, adiciona um charme peculiar ao amadurecimento humano de Marguerite, que, mesmo não sendo efetivamente simpática, conquista-nos gradualmente, fazendo com que os estudantes acadêmicos projetem nela algumas de suas angústias pessoais e coletivas. Em muitos sentidos, essa trama atualiza para a idade adulta – e para o contexto feminino – as aflições que marcaram o protagonista infantil de “Mentes que Brilham” (1991, de Jodie Foster), com o qual Marguerite possui vários traços comuns de personalidade. Até mesmo os ‘insights’ gráficos na tela são semelhantes!
Algo que parece repetitivo é o modo automático com que Marguerite e Luca resolvem, conjuntamente, proposições matemáticas que antes pareciam inatingíveis, engendrando uma competição severa entre eles e o orientador Laurent. O corolário sóbrio desse embate merece ser reproduzido aqui: “tudo isso deve priorizar a evolução da Matemática, e não o orgulho pessoal”. A descoberta do Mahjong como possibilidade (ilegal) de obtenção emergencial de recursos financeiros é outro traço formulaico do enredo, mas faz sentido na lógica associativa da trama. No desfecho, um abraço esperado e apaziguador, que reitera a perspectiva cíclica do amadurecimento da “primeira da turma”, inexperiente em múltiplas instâncias. Nestes aspectos, “O Desafio de Marguerite” é parecido com tantos outros filmes, mas, ainda assim, é muito, muito bom!
Avaliação: Quatro hipotenusas apaixonadas (4/5).
Vinheta
Serviço:
Festival Varilux de Cinema Francês
De 09 a 22 de Novembro
Em cinemas de 47 cidades
Visite: https://variluxcinefrances.com/2023/
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