Palimpsesto, de Hanna Marjo Västinsalo | 47ª Mostra SP


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Na Idade Média, quando o papel ainda era de difícil confecção e, portanto, muito caro e raro, era comum raspar-se os pergaminhos para poder reescrevê-los. A essa reciclagem se dava o nome de palimpsesto. O primeiro longa-metragem da diretora finlandesa Hanna Marjo Västinsalo, Palimpsesto, dá a esse termo uma conotação mais filosófica. E se a ciência permitisse que pudéssemos reescrever nossa existência, nesse mesmo pergaminho que é nosso corpo?

Ambientado numa Finlândia do futuro, onde cientistas conseguiram criar uma técnica genética de rejuvenescimento do corpo através da manipulação do dna, somos apresentados a dois idosos: Tellu, uma simpática mulher sozinha no mundo, e Juhani, um rabugento idoso que está com a mulher no hospital e tem uma filha e um neto.

Dividindo o mesmo quarto na clínica de rejuvenescimento, os dois criam um inesperado vínculo de companheirismo, enquanto seus corpos rejuvenescem. O ápice dessa cumplicidade é quando a Tellu pega o carro de outro paciente da clínica e leva Juhani para uma visita à sua esposa doente que, logo depois, virá a morrer.

O viúvo e a solitária suportam essa intervenção genética de maneiras diferentes. Tellu consegue a façanha ''Benjamin Button'' de vida. Juhani estaciona na fase balzaquiana, saindo da clínica e voltando à universidade, correndo atrás do seu sonho de ser astronauta, enquanto suporta o desprezo de sua única filha, que não aceita a juventude artificial do seu pai.

                                                                                         Créditos: Divulgação 47ª Mostra SP

Ficha Técnica
Título original e ano: Palimpsest,2022. Direção e Roteiro: Hanna Marjo Västinsalo. Elenco: Krista Kosonen, Leo Sjöman, Johana Ruonala, Riita Havukaneinen, Antti Virmavita, Milo Tamminen, Emma Kilpimaa, Kaisu Mäkelä. Gênero: Drama Fantiasia, Scifi. Nacionalidade: Finlânia, EUA. Som: Petri Kärkkäinen. Design de Produção: Jonathan Maxwell. Fotografia: Henry Dhuy. Edição: Tarek Karkoutly. Produtora: Thinkseed Films. Duração: 109mi. Classificação Indicativa: 16 anos.

Entre sofrimentos e redescobertas, acompanha-se o suicídio voluntário de Tellu, interpretada por várias atrizes em suas diferentes fases até chegar a ser um bebê, sem memórias, com a existência anterior completamente apagada. Esse apagar da vida pregressa remete a algo que aconteceu com o filho da personagem; é um trauma tão angustiante que Tellu aceita desaparecer. Nesse descer cronológico desta mulher com passado tão conturbado, entre bebedeiras, drogas e sexo anônimo, Juhani a ampara enquanto reconstrói sua vida. Essa amizade entre os dois perdura até o final e o recomeço.

Excelente trabalho para um ponta pé inicial na indústria. Aliás, a diretora e roteirista Hanna Marjo Västinsalo demonstra muita segurança na condução do filme. Não apela para o sentimentalismo e conduz os personagens de maneira sóbria a destinos diferentes, onde não se julga mas se aceita reescritas ou conclusões. As ideias filosóficas que permeiam a estória fazem o espectador pensar sobre a condução de sua vida. A fotografia do filme, muitas vezes focando em apenas um personagem, enquanto desfoca o outro, é uma alegoria de que escolhas são individuais, o foco está no eu, as trajetórias são pessoais.

O filme ganhou o Prêmio Especial da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood na seção Biennale College Cinema do Festival de Veneza. Västinsalo convence pela competência e talento e é com certeza para ficar olho no que apresentará nos próximos anos. logo, vai deixar muito cinéfilo com seu nome anotado na caderneta para não perdê-la de vista.

Nota: 8/10. 
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Escrito por Marcelino Nobrega

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