Em Pedágio, temos pela segunda vez consecutiva a parceria entre Carolina Markowicz na direção e Maeve Jinkings como protagonista. Depois do controverso Carvão (2022), o resultado dessa nova colaboração é mais palatável, menos incômodo e, talvez por isso, também menos potente.
No longa-metragem que estreia nesta quinta (30/11), Maeve vive Suéllen, mãe solo do adolescente Antônio e é trabalhadora de uma estação de pedágio na cidade de Cubatão. Tiquinho, como é chamado o rapaz de 17 anos, vive sua homossexualidade de maneira aparentemente bem resolvida. Além de não esconder sua orientação sexual, posta na internet as performances de lip sync que grava em casa usando as maquiagens de sua mãe.
O filme foge das obviedades. Suéllen gostaria que o filho não fosse gay. Mas não tem aquela homofobia raivosa ou um ódio que vem de seu âmago. Já estamos cansados de histórias de pais que expulsam os filhos de casa ou os agridem. Seu preconceito vem da ignorância e do senso comum. Ela não deseja que o filho sofra, não quer ser alvo de piadas e comentários maldosos em seu trabalho e tem o conceito de que isso é errado e pronto. Mas não lhe falta amor pelo garoto e sua decepção não chega a tornar a convivência dos dois infernal. Há momentos de carinho e ternura.
Tiquinho, por sua vez, apesar de querer “ser uma diva” e gostar de dançar, não é a figura afeminada e magrinha que estamos acostumados a ver retratadas nas obras. Ele é um garoto real, que usa gírias LGBTQIA+, mas também fala grosso, parte para a violência e tem um jeitão introvertido. Enfim, é um personagem complexo, que não pode ser descrito com apenas um adjetivo.
Créditos: Divulgação / Paris Filmes
A produção arrebatou cinco prêmios no Festival do Rio (Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Direção de Arte).
As aulas de “cura gay” que sua mãe o obriga a frequentar foram criticadas por alguns por serem retratadas de forma cômica e jamais levadas a sério pelo protagonista. Ora, todos sabemos que este é um assunto sério e que torna a vida de centenas de jovens em um inferno, despedaçando sua autoestima e saúde mental. Mas isto não apaga que também existem aqueles que conseguem enfrentar este obstáculo sem se abater. E ainda não ouvimos a história destes.
Vários aspectos do filme recaem no absurdo por adotarem o tom de comédia e caricatura. É o caso do pastor gringo afeminado e seus métodos de “curar” os jovens, mas também o da empresa de entretenimento em que Tiquinho passa a trabalhar, ou alguns dos conselhos de Telma (Aline Marta Maia), amiga de trabalho de Suéllen. No entanto, na mesma medida em que são absurdos, são muito reais. Eles dialogam com vários dos relatos esdrúxulos que ouvimos cotidianamente e pensamos: “não pode ser”!
O final dúbio é mais um desses elementos que fogem do óbvio. Ele não garante que vai ficar tudo bem. Mas também não é catastrófico ou pessimista. Apesar de não fornecer soluções, há um tom de que a vida continua. De que tudo se ajeita. De que tudo continua do mesmo jeito, mas diferente. Pequenos ciclos de mudança, sem grandes arroubos. Como na vida real.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Pedágio, 2023 | Direção e Roteiro: Carolina Markowicz | Elenco: Maeve Jinkings, Kaua Alvarenga, Aline Marta Maia, Tomás Aquino, Isac Graça | Nacionalidade: Brasil | Gênero: Drama | Fotografia: Luís Armando Arteaga | Direção de Arte: Vicente Saldanha | Edição: Lautaro Colace e Ricardo Saraiva | Trilha Sonora original: Felipe Derado | Som Direto: André Bellentani | Figurino: Marcia Nascimento | Empresas Produtoras: Bionica Filmes e O Som e A Furia | Produção: Karen Castanho, Luís Urbano, Bianca Villar, Fernando Fraiha, Sandro Aguilar | Produtor Associado: Jorge Furtado | Co-produção: Carolina Markowicz, Mario Peixoto, Thalita Zaher | Produção Executiva: Chica Mendonça, João Macedo | Empresas Co-Produtoras: Globo Filmes e Paramount Filmes | Distribuição: Paris Filmes | Duração: 102 minutos.
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