“É melhor perdoar o Mal que se deixar levar por ele”…
Nos Estados Unidos da América, dentre as múltiplas tradições invernais de final de ano, está a leitura do clássico infantil “Como o Grinch Roubou o Natal”, publicado em 1957 por Dr. Seuss, pseudônimo do cartunista Theodor Seuss Geisel [1904-1991]. Na trama, uma criatura peluda e esverdeada rouba a indumentária de Papai Noel e, por detestar esta comemoração, esforça-se por estragar completamente a mesma, até ser conquistado pela simpatia da garotinha Cindy. No livro, o desfecho é feliz. Será que isso ocorreria também numa versão assumidamente aterrorizante deste enredo?
Sem poder citar diretamente esta referência, por questões de direitos autorais, o roteiro de “O Malvado: Horror no Natal” (2022, de Steven LaMorte) evita nomear o vilão titular. Mas utiliza diversos chistes para fazer com que o público reconheça os personagens literários, bem como o seu contexto de vivência. Inclusive, tal qual ocorre no livro, é adotada uma narração rimada, para demonstrar a superação de “Cindy Você-Sabe-Quem” (Krystle Martin), depois que ela testemunha o assassinato de ambos os pais pelo monstro peludo…
Na primeira seqüência, apresentada como se fosse um ‘flahsback’, há uma emulação direta do livro em pauta, quando, ao tratar o visitante natalino inesperado com carinho, Cindy faz com que o seu coração triplique de tamanho e ele desista de sabotar as festividades alheias. A fim de validar os propósitos terroríficos deste novo enredo, o narrador apresenta uma outra ação, quando a mãe de Cindy (Tina Van Berk) adentra a sala aos berros e é atacada letalmente. Atemorizada, Cindy grita que a criatura é um monstro, afastando-a com olhar colérico. É o ponto de partida para que uma maldição se instale na cidade de Newville!
Passados muitos anos, Cindy é recomendada por seu psiquiatra para voltar à sua cidade-natal, que, agora, possui leis que impedem a colocação de pisca-piscas, presentes e enfeites de dezembro. Cindy e seu pai Lou (Flip Kobler) são intimados pelo jovem detetive Burke (Chase Mullins), pois há desenhos de renas em seu automóvel. Explicada a situação, Cindy demonstra-se atraída pelo rapaz, mas percebe que há algo muito diferente na região em que cresceu. Não será fácil lidar com os seus traumas de infância, portanto.
Créditos: Divulgação / A2 Filmes
O fato de Lou e Cindy, no interior doméstico, desafiarem as leis locais, montando uma árvore de Natal, faz com que a criatura malévola (vivificada por David Howard Thornton) apareça novamente, assassinando o pai da protagonista, que é hospitalizada e desacreditada, quando insiste que quem cometeu o referido crime foi um ser peludo e verde. Para piorar, a prefeita da cidade (Amy Schumacher), ansiosa pela reeleição, fica irritada quando constata que os surtos reativos de Cindy estão prejudicando o turismo na região, famosa pela divulgação de trilhas montanhosas. Tem-se, aí, mais um reconhecível clichê pré-matança…
Atraído pelas luzes e ruídos celebrativos, o monstrengo comete uma chacina numa lanchonete, onde estava havendo uma inesperada convenção de homens fantasiados de Papai Noel. O xerife da cidade (Erik Baker), mesmo a contragosto, passa a investigar essas mortes, temendo que os assassinatos ocorridos na época em que Cindy era criança voltem a acontecer. Por ser judeu, Burke talvez esteja protegido. Mas ele apaixona-se por Cindy e, como tal, a auxiliará a enfrentar o malvado do título, sobretudo depois que ouve o relato do alcoólatra Dr. Zeus (John Bigham), que perdeu a sua esposa em condições mui violentas, esquartejada pelo mesmo monstro verde que matou os pais de Cindy. Perceberam a referência nomenclatural?
Créditos: Divulgação / A2 Filmes
Um erro de continuidade bem óbvio que o filme apresenta é como a neve continua caindo e não se acumula nas roupas dos personagens, em carros ou até mesmo pelos espaços da cidade
Infelizmente, a maior parte dos motes tramáticos que tornam essa história minimamente entretenedora, enquanto sátira, não funcionam tanto para o público brasileiro, no sentido de que o Grinch é conhecido primordialmente por quem viu as versões cinematográficas sobre o personagem, a mais famosa delas dirigida por Ron Howard, em 2000, num interessante longa-metragem protagonizado por Jim Carrey. As seqüências de esfaqueamento, enforcamento e eletrocução são espalhafatosas, pouco convincentes e involuntariamente cômicas, bem como o rápido mas intenso treinamento de Cindy para tornar-se uma justiceira implacável. As justificativas para as situações fílmicas são deveras idiotizadas (vide a motivação para a raiva que a prefeita sente de Cindy, por exemplo), mas há algo de efetivamente divertido na inversão factual do desfecho: as rimas são bem inseridas e a possibilidade de final feliz é questionada, “ao menos, até o ano que vem”. Ou até que uma cabeça decepada seja encontrada por uma figurante, na embalagem de presente que ela recebe (risos)!
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: The Mean One, 2022. Direção: Steven LaMorte. Roteiro: Steven LaMorte, Flip Kobler, Finn Kobler. Elenco: David Howard Thornton, Krystle Martin, Chase Mullins, John Bigham, Erik Baker, Flip Kobler, Amy Schumacher, Tina Van Berk, Saphina Chanadet. Gênero: Comédia,Terror. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Yael Benamour. Fotografia: Christopher Sheffield. Edição: Mathew Roscoe. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 01h33min.
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