O Paraíso, de Zeno Graton | My French Film Festival

 
“Hoje, eu sei que, quando um peixe fica preso no gelo, ele não ressuscita: ele morre”! 

Nas primeiras sequências de “O Paraíso” (2023), do cineasta belga estreante em longas-metragens Zeno Graton, acompanhamos um passeio do protagonista Joe (Khalil Ben Gharbia, belíssimo) pela cidade. Ainda não sabemos que ele é interno numa espécie de reformatório para menores infratores, mas logo descobriremos: abandonado pela família, ele cresceu rebelde, e está ansioso para gozar a suposta liberdade associada à vida adulta. Mas, a cada nova fuga impensada da instituição – como este passeio inicial que testemunhamos –, ele é obrigado a passar mais algum tempo no reformatório. E, como tal, lida com um paradoxo elementar: “a liberdade depende da existência de regras”!
Joe não é um rapaz propriamente iracundo, mas sua rebeldia causa-lhe problemas, não obstante ele ser simpático e talentoso. A educadora Sophie (Eye Haidara) se esforça para direcionar a sua energia criativa para a poesia, além dos trabalhos de marcenaria que ele eventualmente executa. Joe é obcecado por música, mas tem seu aparelho de rádio frequentemente apreendido, por causa de sua desobediência eventual. Até que ele conhece um novo interno, recém-chegado ao lugar...
Advindo de ambientes agressivos, William (Julien de Saint Jean) precisou tornar-se arredio, a fim de se proteger: sua chegada à instituição é acompanhada por boatos sobre o seu caráter introspectivo, acerca de sua indisposição em fazer amigos. Joe fica fascinado pela maneira como ele se expressa através de desenhos, incluindo as tatuagens que ele exibe no corpo. Um exercício escolar envolvendo a simulação de uma câmera escura, utilizando papel, faz com que eles se aproximem ainda mais – e terminam se apaixonando torridamente! 
Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Les Paradis, 2023. Direção: Zeno Graton. Roteiro: Zeno Graton e Clara Bourreau em colaboração com Maarten Loix. Elenco: Khalil Ben Gharbia, Julien De Saint Jean, Eye Haidara, Jonathan Couzinié, Matéo Bastien, Samuel Di Napoli, Amine Hamidou, Nlandu Lubansu, Terry Ngoga, Audrey D'Hulstère. Nacionalidade: Bélgica e França. Gênero: Drama. Trilha Sonora Orignal: Bachar Khalifé. Fotografia: Olivier Boonjing. Edição: Arnaud Bellemans e Nobuo Coste. Design de Produção: Guillaume Orain Audooren . Figurino: Tine Deseure. Onde Assistir: MyFrenchFilmFestival. Duração: 01h23min.
Permeado por uma excelente trilha musical – com destaque para a linda canção “Holm”, interpretada pela cantora tunisiana Emel Mathlouthi - , “O Paraíso” parece atualizar o entrecho de “Uma Canção de Amor” (1950), única incursão cinematográfica de Jean Genet [1910-1986], para as novas gerações: da mesma maneira que acontece naquele curta-metragem, e na quase integralidade das tramas literárias deste escritor, os internos apaixonados comunicam-se através de gestos sutis e de ruídos através das paredes de suas respectivas celas. E os encontros entre eles são os mais eróticos possíveis... 
Malgrado o fascinante ponto de partida, o romance entre os dois rapazes é cerceado por um roteiro com muitos problemas de definição situacional e construção dos caracteres dos personagens. Vide o descaso na maneira com que os internos lidam com objetos perigosos, como maçaricos e objetos cortantes, ou a maneira como se manifestam os pantins de William, depois que sabe que Joe está prestes a atingir a maioridade – e, por conta disso, sair do reformatório –, que soam excessivamente melindrosos, em contraste com a rudeza do personagem até então elaborado.
                                                                                                         Créditos: © Tarantula, Silex Films, Menuetto Film
A produção está em cartaz no ''My French Film Festival'', Festival de Cinema Online da Unifrance que se iniciou em 19 de Janeiro e segue até 19 de fevereiro gratuitamente
Os diálogos do filme não são muito inspirados e a beleza física dos dois intérpretes não é suficiente para escamotear que, em conflitos dramáticos importantes, eles reajam de maneira desenxabida ou inexpressiva. O que só piora com as aparições dos demais colegas de internamento, idiotizados em suas reinvindicações. Talvez isso seja decorrente da origem possivelmente autobiográfica do enredo, que justifica uma excessiva idealização dos encontros entre os rapazes, constante no título do filme, mencionado diretamente por William, quando ele explica para Joe a origem de um de seus desenhos recorrentes... 
Para além de seus problemas de concepção, “O Paraíso” é um filme que fascina as audiências, que projetam na paixão urdida na tela as suas próprias insatisfações quanto à frieza burocrática da vida em sociedade, sob o controle das instituições estatais e/ou do Capitalismo. Resta ao protagonista evadir-se através da música e da possibilidade dos encontros com quem ama. Enquanto ode à crença nos bons sentimentos, o filme cumpre o seu papel estimulador: é um trabalho com falhas evidentes, mas sem receio de assumir-se apaixonado!
Clique aqui e assista!

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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