Neste contexto, encontramos o casal Min-Seong (Park Seo-Joon) e Myeong-Hwa (Park Bo-Young), que vive no sexto andar. Ele é servidor público e ela é uma enfermeira que enfrentou um aborto espontâneo, recentemente. Ao se depararem com a paisagem urbana destruída e amplamente calamitosa, eles fazem uma averiguação rápida de quanta água e comida ainda possuem e se esforçam para não sucumbirem à malevolência das pessoas que os circundam, que chegam a decidir em votação a expulsão dos desabrigados que imploram para ficar no vão do único prédio que permanece firme na cidade…
Depois de abrigar uma senhora e uma criança, após a insistência benevolente de sua esposa, Min-Seong testemunha a formação de uma comissão de controle e vigilância no prédio, em que o imperioso Yeong-Tak (Lee Byung-Hun) é eleito delegado e, de maneira violenta, não apenas expulsa os desabrigados – a quem ele chama de “baratas” – como recruta esquadrões de busca entre os homens de dezesseis a sessenta anos de idade, para que saqueiem as áreas devastadas circunvizinhas, em busca de algo que possa ser aproveitado entre os moradores do prédio. Temos uma primeira crítica social através do roteiro (co-escrito pelo diretor), baseado na ‘webtoon’ “Pleasant Bullying”, de Kim Sung-Nyung.
Numa sacada bastante inventiva, Geum-Ae (Kim Su-Young), a presidenta da Associação de Mulheres do prédio onde estão confinados os personagens, expõe as principais normas da comissão de controle e vigilância, olhando diretamente para a câmera e, assim, fazendo com que o espectador se torne cúmplice (e, ao mesmo tempo, juiz) das decisões tomadas em grupo. A partir daí, somos levados a imaginar como nos comportaríamos frente a acontecimentos semelhantes. E, obviamente, as tendências à corrupção logo serão detectadas, bem como a desconfiança quanto aos caracteres daqueles que alegam zelar pelo bem-estar coletivo.
Através de ‘flashbacks’, conhecemos as motivações escusas de Yeong-Tak, além de descobrirmos como ele tornou-se morador daquele luxuoso apartamento, o que faz com que a chegada de uma inquilina até então desaparecida, a jovem de cabelo rosado Hye-Won (Park Ji-Hu), configure uma ameaça aos seus desígnios controladores. Os atos deste delegado, na insistência pela entoação de ‘slogans’ e gritos de guerra, emula os determinismos fascistas, na maneira como conclama os seus asseclas a considerarem-se melhores que os demais habitantes, por estarem reunidos numa área em que gozam de direitos de propriedade. E, curiosamente, algumas das pessoas que aparecem como mendicantes são justamente moradores de outros ambientes ainda mais privilegiados que, em momentos anteriores ao desastre, tratavam com rispidez os sobreviventes. As críticas sociais são abundantes e muitas vezes direcionadas a personagens que pareciam inicialmente simpáticos, mas que revelam-se progressivamente pérfidos.
Título original e ano: Konkeuriteu yutopia, 2023.Direção: Tae-hwa Eom. Roteiro: Tae-hwa Eom e Lee Shin-ji - baseado no webtoon ''Pleasant Outcast - Part II'', de Kim Soong-nyung. Elenco: Park Seo-joon, Lee Byung-hun, Park Bo-young, Kim Sun-young, Park Ji-hu, Na Chul, Kim Do-yoon, Kim Hak-sun, Nam Jin-bok, Kwak Min-gyu, Kim Dong-gon. Gênero: Drama. Nacionalidade: Córeia do Sul. Fotografia: Cho Hyoung-rae. Edição: Han Mee-yeon. Som Direto: Kim Hyun-sang. Trilha Sonora Original: Kim Hae-won. Design de Produção: Cho Hwa-sung. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 02h10min.
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