Esta adorável família alemã, formada por um casal, cinco adoráveis filhos e um cão brincalhão, vivia em uma bela casa na Polônia, com todo conforto possível, um lindo jardim, uma piscina e vários empregados. Em plena 2ª Guerra Mundial, todo esse bem-estar foi conquistado graças à eficiência de Hoss como oficial nazista. Comandante de Auschwitz e implementador da Solução Final com as mais avançadas técnicas químicas da época, sua eficiência rendeu a morte de milhões. Até o seu breve afastamento do posto de comandante de Auschwitz serviu apenas para que difundisse aos outros campos suas técnicas eficientes de extermínio, o perfeito trabalhador.
Esse homem era um monstro? Um psicopata tipo Jason ou Freddy Krueger? Não. Era um homem comum que, ambicionando uma boa vida e apoiado pela carinhosa esposa, servia sua organização e seu chefe Hitler com muita eficiência. Esse sonho da vida perfeita da burguesia era um desfile de piqueniques, passeios nos campos, festas na piscina, presentes e amabilidades. Mas sub-repticiamente, o espectador entreouve os sons de tiros, de gritos; percebe o ruído constante das fornalhas. Vê as camadas de cinzas que caem sobre as lindas flores do jardim, o terror constante dos agregados judeus que conseguem postergar seu fim, servindo aos nazistas.
Os detalhes técnicos deste longa-metragem são um assombro de realização. Glazer realmente é um diretor genial. A fotografia, montagem, figurino, cenário, som, tudo vai se somando para dar uma noção de realismo cruel ao roteiro, contrapondo a normalidade burguesa ao horror do genocídio. A casa inclusive é quase um personagem em si, esquadrinhada nos mínimos detalhes, seus corredores, quartos e jardins são a prova definitiva do sucesso da família Hoss. Essa dualidade é muito perturbadora, apresentando o campo de concentração e o que lá era feito como se fosse um trabalho normal. Mata-se três mil judeus hoje à tarde e vai-se para casa jantar... O som onipresente e alguns lampejos de prisioneiros vão se somando nessa sensação de sobressalto e horror. A angústia vai se instalando no coração de quem está assistindo; a percepção do Mal que estava sendo perpetrado inquieta e faz sofrer.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: The Zone of Interest, 2023. Direção: Jonathan Glazer. Roteiro:Jonathan GLazer - adaptação do livro de Martin Aramis. Elenco: Sandra Hüller, Christian Friedel, Johann Karthaus, Lilli Falk, Nele Ahrensmeier, Luis Noah Witte, Anastazja Drobniak. Gênero: Drama, Guerra, História. Nacionalidade: França. Trilha Sonora Original: Mica Levi. Fotografia: Lukasz Zal. Edição: Paul Watts. Design de Produção: Chris Oddy. Figurino: Malgorzata Karpiuk. Direção de Arte: Joanna Kus e Katarzyna Sikora. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 01h45min.
Esse contraste de uma família solar, de comercial de margarina, com os terrores do campo de concentração, exemplifica perfeitamente a loucura do genocídio. A raça perfeita com o extermínio das pessoas inferiores é sentida em cada cena desse filme, em cada pequena ou grande crueldade do casal e seus filhos. Os atores Christian Friedel e Sandra Huller estão perfeitos nos seus papéis. Um sorriso, um olhar, um gesto, vão criando esses personagens reais, que são exemplos perfeitos da banalidade do Mal. Alguns lampejos de bondade ou normalidade são mostrados de vez em quando, a dualidade é a principal característica desse roteiro magnífico. Mas a sensação de inquietude perdura após os créditos finais. Como nós, como raça humana, conseguimos fazer isso?
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