Semanas após completados dois anos da invasão da Ucrânia pela Rússia, chega aos cinemas brasileiros um documentário brutal que acompanha o início do conflito bem de perto. De dentro, mais especificamente.
Em 24 de fevereiro de 2022, foi iniciada a incursão russa em território ucraniano. Constantes bombardeios contra bairros residenciais, negados pelo Kremlin, transformaram a cidade de Mariupol em cenário de guerra. As milhares de pessoas sitiadas na região logo se viram num cenário desesperador, sem acesso a água, alimentos, internet, energia elétrica e tratamento médico adequado. Durante 20 dias, o jornalista e cineasta Mstyslav Chernov, o fotógrafo Evgeniy Maloletka e a produtora Vasilisa Stepanenko registraram diretamente do olho do furacão imagens devastadoras e brutais da violência sofrida pela população civil da cidade.
Antes de se tornar filme, o documentário 20 Dias em Mariupol foi uma série de reportagens publicadas pela Associated Press, textos relatando os episódios vividos pela equipe jornalística na Ucrânia sob ataque e vídeos curtos que eram transmitidos para fora do território ucraniano quando era possível captar algum sinal de Internet. O filme trata-se de um compilado cinematográfico do material gravado durante a cobertura. Ao se colocar na mesma perspectiva da população local, a equipe captou a confusão e o medo nos olhos de crianças que não conseguem conceber a realidade da guerra, a visceralidade do desespero e da revolta de quem, do dia para a noite, passou a viver um pesadelo.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: 20 Days In Maripol, 2023. Diretor: Mstyslav Chernov. Roteiro: Mstyslav Chernov. Narração: Mstyslav Chernov. Material Jornalistico: Evgeniy Maloletka. Participações de: Liudmyla Amelkina, Zhanna Homa, Oleksandr Ivanov, Irina Kalinina, Vasiliy Nebenzya, Volodymyr Nikulin, Vladimir Putin. Gênero: Documentário, Guerra Nacionaldiade: Evgeniy Maloletka. Trilha Sonora Original: Jordan Dykstra. Direção de Fotografia: Mstyslav Chernov. Edição: Michelle Mizner. Produção: Mstyslav Chernov, Michelle Mizner, Raney Aronson-Rath e Derl McCrudden. Produção de campo: Vasilisa Stepanenko. Distribuição: Synapse Distribution. Duração: 01h35min.
A postura de jornalismo-denúncia adotada pelo documentário usa como foco o impacto causado pelos registros violentos e devastadores dos ataques russos. Não houve economia com cenas chocantes e deprimentes de pessoas chorando sobre corpos de familiares recém-falecidos, crianças em pânico, cadáveres espalhados pela cidade ou acondicionados em salas de hospitais e posteriormente despejados em valas, sem nenhuma identificação ou dignidade (às pessoas mortas ou a suas famílias). O resultado é um documentário profundamente perturbador (e por vezes até manipulativo). Mas Chernov e sua equipe tem a seu favor a proposta de apresentar a forma como leis humanitárias e regras diplomáticas têm sido constantemente violadas nesta guerra sem sentido. 20 Dias em Mariupol acredita no potencial dramático e na relevância histórica do material que tem em mãos, usando o incômodo causado por tais registros como um desconcertante manifesto antiguerra.
Créditos: Frontline PBS / The Associated Press / Synapse Distribution
Indicada na categoria de ''Melhor Documentário'' no Oscar 2024, a produção foi também a submissão da Ucrânia a categoria de filme internacional.
O trabalho competente da montadora Michelle Mizner organiza as dolorosas imagens registradas pela equipe, de modo a trazer ritmo e coesão narrativa ao crescendo de pânico, destruição e morte vivido pela população de Mariupol. A narração letárgica de Chernov e a trilha sonora soturna de Jordan Dykstra embalam as cenas aterradoras e trazem uma dose extra de terror para cenas já aterrorizantes por si só.
O desconfortável documentário de Mstyslav Chernov foca na escala humana deste conflito, mostrando de forma dolorosa como a guerra destrói famílias e comunidades inteiras. Não se trata de uma tragédia natural, é o resultado de um ataque deliberado e planejado contra outros seres humanos. 20 Dias em Mariupol se torna ainda mais relevante frente à barbárie que tem ocorrido também na Faixa de Gaza, com o número crescente de crimes de guerra cometidos por Israel contra a população palestina em nome de uma (suposta) luta contra o terrorismo. Por trás de toda guerra existem inúmeras justificativas. Mas como se justifica o injustificável?
HOJE NOS CINEMAS
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