A francesa Sylvie (Virginie Efira) é uma mãe “se vira nos 30”. Atendente em um bar à noite, tem que dar conta sozinha de cuidar de dois filhos, o adolescente musicista Jean-Jacques (Félix Lefebvre) e a criança com crises nervosas Sofiane (Alexis Tonetti). Mesmo com essas nuances desabonadoras, a família Paugam é muito feliz, até que uma noite o filho menor, sozinho em casa, se acidenta, fritando batatinhas no fogão de casa.
Nesse ponto começa o pesadelo de Sylvie. A eficiente e burocrática Sra. Henry (India Hair), assistente social do Estado francês, retira Sofiane da mãe, levando-o a um abrigo, por acreditar que a mãe está colocando a segurança do filho em perigo. O desenrolar deste filme, dirigido pela diretora francesa Delphine Deloget, trata sobre a luta desta mãe para reaver seu filho tão querido.
Nesse pesadelo kafkiano, sob a ótica feminina, as atrizes Virginie Efira e India Hair são as grandes antagonistas, cada uma com suas razões. Com atuações excelentes, ambas representam os pontos de vista diversos deste assunto social tão premente: a mãe e o Estado. Uma família imperfeita, mas muito amorosa, como muitas, pode prover a segurança dos filhos? O Estado, no interesse da segurança infantil, pode interferir nessa relação, chegando ao extremo de afastar o filho da mãe?
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Ficha Técnica
Título original e ano: Rien à Perdre,2023. Direção: Delphine Deloget. Roteiro: Delphine Deloget com a colaboração de Camille Fontaine e Olivier Demangel. Elenco: Virginie Efira, Félix Lefebvre, Arieh Worthalter, India Hair, Mathieu Demy, Alexis Tonetti. Gênero: Drama. Nacionalidade: França e Bélgica. Direção de Fotografia: Guillaume Schiffman. Direção de Arte: Edwige Le Carquet. Música: Astrid Gomez-Montoya. Montagem: Béatrice Herminie. Figurino: Bethsabée Dreyfus, Marie Meyer. Duração: 112 min
O filme não é panfletário. Os personagens não são meros símbolos de uma discussão ideológica. A família é mostrada em detalhes enquanto se esfacela e o espectador se apaixona por seres humanos tão imperfeitos, por serem reais. A mãe Sylvie não é a mulher daquelas de comercial de margarina, seu nervosismo e cansaço leva-a a situações de muito descontrole, comum a qualquer pessoa estressada e com muitas responsabilidades, mas o amor pelos dois filhos é visível e ela faz de tudo para manter a prole segura e feliz, com a ajuda dos amigos e até mesmo dos irmãos, que mais atrapalham que ajudam.
Nessa luta para trazer Sofiane de volta aos seus braços, a leoa Sylvie tanto faz, que mete os pés pelas mãos, e afasta cada vez mais o filho, que vai de um abrigo para um lar temporário. Até as visitas que eram semanais começam a ser suspensas. O menino, nervoso por si mesmo, não ajuda em nada, tendo crises repentinas de violência, por saudades e por tristeza. A mãe, igualmente desesperada, afronta os assistentes sociais, inclusive ferindo a Sra. Henry, precisando inclusive ser internada à revelia para se tratar.
Créditos: Curiosa Films, Unité, France 3 Cinéma e Canal+
Tendo passado pelo Festival de Cannes em 2023, a produção franco-belga recebeu indicações para o prêmio ''Un Certain Regard'' e para o ''Golden Camera''.
Virginie Efira é uma atriz excepcional. Essa mãe imperfeita, nos seus extremos, é um grande personagem. O filme é principalmente o estudo dessa mulher, igual a muitas outras, que faz de tudo para criar os filhos, sem ajuda de nenhum homem e às vezes até com a oposição da máquina burocrática do Estado. Esse problema social não é fácil de se resolver, nem é o propósito do roteiro. Ao espectador interessa a felicidade de Sylvie e seus rebentos. Será que teremos final feliz? Assistam o filme nas telas do cinema e descubram mais esta joia do cinema francês.
Godzilla está numa excelente fase. Completando 70 anos de idade e 10 anos desde a estreia do MonsterVerso, o kaiju ranzinza e agora oscarizado pelos efeitos visuais de Godzilla Minus One (Takashi Yamazaki, 2023) parece estar longe da aposentadoria. Sua carreira atualmente se divide em duas vertentes: a japonesa e a estadunidense. Em sua terra-natal, Godzilla é uma representação de medos e traumas do país, uma ameaça que catalisa dramas humanos e crises diplomáticas em situações que focam no senso de coletividade nacional. Nos Estados Unidos, a carreira do lagartão está mais compromissada com a diversão e a porradaria, dividindo as telas (e eventuais sopapos) com o Todo-Poderoso Kong e outros monstros gigantes, não se propondo a oferecer narrativas com muita reflexão ou profundidade emocional. Ambas perspectivas acabaram se mostrando muito bem-sucedidas, entregando ao público exatamente aquilo que era prometido dentro de suas próprias concepções. Enquanto no Japão os filmes atualmente seguem linhas narrativas independentes entre si, na terra do Tio Sam o plano acabou optando pela tendência mercadológica de universo expandido compartilhado, com uma história maior que se desdobra em diversos filmes.
Tendo apresentado novas versões de Godzilla e Kong e desenvolvido mitologias e inimigos para ambos, a intenção do chamado MonsterVerso desde o início era criar um campo de batalha no qual Godzilla e Kong finalmente pudessem se enfrentar. Tal embate veio às telas no hit pandêmico Godzilla vs. Kong (texto disponível) e provou ser a apoteose nada sublime de pancadaria digital desmiolada que prometia ser. As cifras em bilheteria provaram que ainda restava fôlego à franquia e um interesse comprometido do público em mais filmes. Mas, após o tão-aguardado conflito entre titãs, não parecia haver muito mais a ser desenvolvido. Teria o MonsterVerso então esgotado seus truques?
Com o bom desempenho de Godzilla vs. Kong, o diretor Adam Wingard e sua equipe retornam para mais uma aventura com os amados monstros gigantes. No elenco, retornam Rebecca Hall, Brian Tyree Henry e Kaylee Hottle. O ator britânico Dan Stevens foi a adição ao grupo.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Godzilla x Kong - The New Empire, 2024. Direção: Adam Wingard. Roteiro: Simon Barrett, Jeremy Slater com argumentos de Adam Wingard. Elenco: Rebecca Hall, Dan Stevens, Bryan Tyree Herry, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Fala Chen, Rachel House, Ron Smyck. Gênero: Aventura, Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Antonio Di Iorio eTom Holkenborg. Fotografia: Ben Seresin. Edição: Josh Schaeffer. Design de Produção: Tom Hammock. Supervisão de Direção de Arte: Andrew Max Cahn e Richard Hobbs. Figurino: Emily Seresin. Distribuidora: Warner Bros Pictures . Duração: 01h55min.
Kong é o último de sua espécie. Saído da Ilha da Caveira, agora reina solitário o exótico território sob a superfície chamado de Terra Oca, alheio aos mistérios que a extensão não-mapeada de seu novo lar esconde. Também desalojada da Ilha da Caveira, a última remanescente do povo iwi, Jia (Kaylee Hottle), encontra dificuldades para se inserir em outra cultura. Sua mãe adotiva, Dra. Ilene Andrews (Rebecca Hall), se divide entre a criação da filha e pesquisar os titãs com a agência Monarch. Quando Jia passa a ter visões inexplicáveis, Ilene recorre aos nada convencionais pitacos conspiracionistas de Bernie (Brian Tyree Henry) para ajudá-las. Ao lado do recém-chegado Trapper (Dan Stevens), um charmoso e excêntrico veterinário da Monarch, o time ruma em direção a regiões inexploradas da Terra Oca para investigar um intrigante pedido de socorro que revelará segredos milenares e civilizações perdidas, mas também trará à tona inimigos que ameaçarão o futuro do planeta.
Baseando-se em sua premissa genérica e seu duvidoso material de divulgação, Godzilla e Kong: O Novo Império poderia ser apenas um mero repeteco do capítulo anterior. Mas esta nova aventura é bem-sucedida em avançar a trama da franquia e desenvolver a mitologia que vem sendo construída há uma década. Com ótimos efeitos visuais e designs criativos, mantém a qualidade técnica de seu antecessor, apesar de pecar em alguns momentos no senso de escala em meio ao mundo de cenários e personagens digitais. Narrativamente, apresenta um roteiro mais refinado e despreocupado do que o capítulo anterior, se beneficiando dos absurdos introduzidos na saga anteriormente para simplesmente seguir fazendo o que a franquia faz de melhor: propor caminhos que desafiam qualquer sentido simplesmente porque é LEGAL. O roteiro sustenta este conceito até o fim, sem um pingo de vergonha da proposta fantasiosa ou soluções narrativas estapafúrdias. Ainda bem!
O quinto filme do MonsterVerso foi rodado na Austrália e tem referências a ''Maquina Mortífera'' (Richard Donner, 1987) misturado a uma estética de realidade virtual produzida por videogames.
A beleza destes filmes talvez esteja justamente nesta inclinação pela galhofa. Blockbusters estadunidenses passaram por uma fase bastante sisuda centrada num hiper-realismo de cores dessaturadas e estética quase documental, refletindo o espírito pós-11 de setembro. Conforme o entretenimento de Hollywood se permite abraçar mais a diversão, é perceptível uma confluência com o tom absurdo quase infantil que as produções originais da Toho protagonizadas por Godzilla entre as décadas de 1960 e 1970 carregavam. Godzilla e Kong: O Novo Império é bem-sucedido em levar adiante o legado da diversão despreocupada dos clássicos japoneses no exato momento em que Godzilla Minus One, o mais recente filme japonês com Godzilla, é celebrado e premiado por sua história densa que reflete sobre a reconstrução da identidade nacional de um país destruído pela guerra. Ah, as voltas que a Terra Oca dá!
Um dos maiores acertos de O Novo Império são as cenas de interação entre os titãs em que não há interferência de personagens humanos. A falação expositiva de longas anteriores por parte do elenco de carne e osso (em especial no verborrágico Godzilla II: Rei dos Monstros) recebeu muitas reclamações de público e crítica, então é ótimo notar que os apelos para confiar mais nos monstros foram ouvidos. Dividida em 3 núcleos principais (focados em Kong, Jia e Godzilla, antes de se reunirem no último ato do filme),a trama dá o devido protagonismo ao Fantástico e deixa a falação científica como plano de fundo. Há espaço para tensão, para o deslumbramento, para comédia e, claro, para o esperado momento de catarse-catástrofe no ápice do longa. Várias cidades pelo mundo tiveram a honra de ser destruídas por Godzilla, Kong e companhia nesta nova interação fílmica. Nem o Brasil ficou de fora!
Uma grata surpresa! Godzilla e Kong: O Novo Império repete a dose do que já havia sido apresentado na franquia até então e traz um respiro a mais pro MonsterVerso, expandindo a mitologia e dando sobrevida a esta saga cada vez mais grandiosa, divertida e deliciosamente desmiolada.
Matthew J. Saville entrega muita emoção em seu longa de estreia “A Matriarca” (2021). Baseado em experiências do cineasta com a avó, de quando este ainda estava com 17 anos de idade. Assim, o diretor abre as portas da casa de parenta e escancara as relações familiares evidenciando os alicerces da alma humana.
No papel principal está a experiente atriz inglesa Charlotte Rampling, indicada ao Oscar por seu trabalho em “45 anos” [Andrew Haigh, 2015] e que está atualmente em cartaz com o aclamado Duna 2, de Dennis Villeneuve. A atriz interpreta Ruth, uma ex-correspondente de guerra, que passou por momentos incríveis e viveu experiências marcantes. Agora, aposentada, tornou-se uma idosa irascível, movida a álcool e de difícil convívio. O filho Robert (Marton Csokas) mal suporta trocar duas palavras com a própria mãe e ressente-se por ela nunca lhe ter revelado a identidade do próprio pai. A distância sempre foi a solução na relação.
Ao sofrer um acidente e fraturar a perna, a senhora decide ir com sua cuidadora Sarah (Edith Poor) para a antiga casa da família. Concomitantemente, o neto Sam (George Ferrier) enfrenta problemas no internato por mal comportamento e é expulso. O pai o mantinha na instituição também para evitar maiores contatos após a morte da mãe. É mais fácil evitar os problemas, que tentar encará-los de frente. E, de repente, todas as situações convergem para reunir aquela família disfuncional. Um imenso “divã de analista” surgirá por alguns dias. Angústias, frustrações, arrependimentos, dores não trabalhadas, fuga da realidade e doenças físicas são postas à prova.
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Ficha Técnica
Titulo Original e Ano: Juniper, 2021. Direção e Roteiro: Matthew J. Saville. Elenco: Charlotte Rampling, Marton Csokas, George Ferrier, Edith Poor. Gênero: Drama, comédia. Nacionalidade: Nova Zelândia. Direção de Fotografia: Martyn Williams. Desenho de Produção: Mark Grenfell. Trilha Sonora: Mark Perkins, Marlon Williams. Montagem: Peter Roberts. Produção: Desray Armstrong, Angela Littlejohn. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 94 minutos.
Há tópicos bem sombrios, mas super reais e que permeiam praticamente todos os núcleos familiares, mas não pense que é um filme triste e pesado. Longe disso! A emoção é passada com leveza e um toque de humor. Temáticas como vida e morte e as escolhas em relação a viver ou morrer são explorados sem sentimentalismo piegas.
Créditos: Sandy Lane Productions, Fulcrum Media Finance e Celsius Entertainment
O longa iniciou sua caminhada de exibições na Nova Zelândia ainda em 2021 e passou por inúmeros festivais, entre eles, o Palm Springs Film Festival em janeiro de 2023.
Impossível assistir e não chegar a reflexões sobre as próprias relações familiares. Ruth e Sam mostram que sempre há tempo para conhecer o outro em sua essência, reavaliar atitudes e prejulgamentos e superar antigas mágoas.
Público poderá conferir itens originais da franquia e interagir com ícones que marcaram gerações
Os fantasmas invadiram São Paulo! Para comemorar os 40 anos da amada franquia Ghostbusters, a Sony Pictures e o MIS (instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo) apresentam uma exposição imersiva com espaços interativos, vídeos nunca vistos antes, itens originais usados nos filmes e personagens que cativaram gerações. Com ingressos gratuitos, a exposição acontece de 4 de abril a 5 de maio e chega a tempo da estreia do novo filme nos cinemas, “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”.
Recriando locais icônicos dos filmes, como o quartel de bombeiros, a sede dos Ghostbusters, e a porta dos elevadores do Sedgwick Hotel, o público também poderá ver itens originais usados nas gravações da franquia, como os uniformes e as mochilas de prótons. Os fantasmas mais famosos do cinema estarão prontos para dar as boas-vindas ao público: Geleia, Vigo e Os Mini Monstros de Marshmallow vão interagir com os visitantes e garantir boas fotos em espaços instagramáveis.
Criada pela Case Lúdico, a exposição celebra a chegada de “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”, que estreia em 11 de abril exclusivamente nos cinemas. O longa-metragem traz de volta o elenco original e ainda conta com Finn Wolfhard, Paul Rudd, Carrie Coon e McKenna Grace lutando contra Garraka, um poderoso fantasma que pretende trazer uma nova Era do Gelo ao redor do mundo. O MIS conseguiu prender na armadilha esse terrível vilão, e você poderá conferir de perto essa nova ameaça que só os Ghostbusters poderão enfrentar.
Assista ao trailer do filme dirigido por Gil Kenan
Para encerrar a exposição, em 5 de maio, o filme clássico de 1984 será exibido na edição de maio do Cine Kids (programa mensal do MIS que traz sessão de filme infantil seguida por oficina educativa), cativando uma nova geração com esse marco do cinema.
Serviço
Exposição “40 anos de Ghostbusters”
Local: Foyer térreo do MIS (av. Europa, 158, São Paulo)
Data: de 4 de abril a 5 de maio de 2024
Horário: terças a sextas, das 10h às 19h; sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h
Ingresso: Gratuito
Classificação indicativa: livre
Sobre o MIS
O Museu da Imagem e do Som (MIS), instituição ligada à Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, foi inaugurado em maio de 1970. Seu acervo abriga mais de 200 mil itens entre fotografias, filmes, vídeos e cartazes. O MIS é, atualmente, um dos centros culturais mais movimentados e reconhecidos de São Paulo. Além de grandes exposições nacionais e internacionais, oferece uma grande variedade de programações culturais, com eventos em todas as áreas e para todos os públicos: cinema, música, vídeo e fotografia estão presentes no dia a dia do museu. O MIS é gerido pela ACCIM – Associação Cultural Ciccillo Matarazzo, também responsável pela gestão do Paço das Artes e do MIS Experience. Mais informações no site: www.mis-sp.org.br.
“Não dá para ir ao cinema e não sentir o cheiro de pipoca quente com manteiga”!
O cineasta Paolo Genovese é responsável por uma conquista inusitada para o cinema italiano: dirigiu o longa-metragem “Perfeitos Desconhecidos” (2016), que entrou para o Livro dos Recordes como o mais regravado de todos os tempos. Até agora, existem mais de vinte versões da mesma história, em países tão diversos como França, Hungria, Japão, México, Emirados Árabes Unidos, Israel e Azerbaijão, estando em desenvolvimento até mesmo uma adaptação brasileira. Se, em seu filme mais famoso, o cineasta chamou a atenção pela maneira como construiu reviravoltas cômicas e dramáticas, envolvendo vários casais que aceitam participar de um jogo que expõe os conteúdos e contatos de seus telefones celulares, em “O Primeiro Dia da Minha Vida” (2023), ele aborda uma temática delicada, o suicídio. Mas o faz com a leveza reconhecível em suas demais obras, com franco apelo popular.
Protagonizado pelo mui talentoso Toni Servillo, o argumento deste filme estende a premissa do clássico hollywoodiano “A Felicidade Não Se Compra” (1946, de Frank Capra): um protagonista não nomeado, com características angelicais, reúne pessoas que estão prestes a acabar com suas próprias vidas e lhes propõe um passeio pela cidade, ao longo de sete dias. Ao final deste prazo, poderão decidir se querem levar a cabo ou não o projeto suicida, mas, até então, ficarão privados de prazeres humanos, como comer, beber e utilizar o banheiro. Poderão observar à vontade como seria o mundo em suas respectivas ausências, entretanto.
Tal como os personagens selecionados, não sabemos nada sobre este protagonista, em sua aparição inicial. Mas pouco a pouco compreendemos as suas motivações, no afã por auxiliar aquelas pessoas. Na cena de abertura, acompanhamos a aflição de Arianna (Margherita Buy), uma policial atormentada pelo falecimento de sua filha, prestes a atirar na própria cabeça. O protagonista a retira de seu automóvel, no instante em que a arma dispara, e a reúne com mais três pessoas, que também tentaram o suicídio recentemente. Ao longo dos sete dias seguintes, eles conversarão sobre os motivos para a infelicidade que os conduziu a um ato tão extremo…
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Ficha Técnica
Título Original e Ano: , 2023. Direção: Paolo Genovese. Roteiro: Paolo Genovese, Isabella Aguilar, Paolo Costella, Rolando Ravello. Elenco: Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Margherita Buy, Sara Serraiocco, Gabriele Cristini, Lidia Vitale, Antonio Gerardi, Vittoria Puccini, Thomas Trabacchi. Gênero: Drama. Nacionalidade: Itália. Direção de Fotografia: Fabrizio Lucci. Desenho de Produção: Chiara Balducci.Trilha Sonora Original: Maurizio Filardo. Montagem: Consuelo Catucci. Produção: Raffaella Leone, Andrea Leone. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 121 minutos
Daniele (Gabriele Cristini), por exemplo, é um adolescente explorado pelo pai, que o obriga a gravar vídeos humilhantes, em que ele engole muita comida, em pouquíssimo tempo. Além de se sentir extremamente constrangido, Daniele engorda consideravelmente e passa a ser humilhado no colégio, mas não consegue a afeição de seus pais, obcecados pela fama. Diabético, o garoto decide ingerir vários doces sem tomar a sua necessária dose de insulina. Teria ele uma segunda chance de viver?
Emilia (Sara Serraiocco), por sua vez, suicidou-se após ter ficado paraplégica, num acidente supostamente acontecido durante um exercício de ginástica. Desconfortável por quase sempre ficar em segundo lugar nas competições desportivas, ela perde a motivação para continuar viva, ao perceber-se confinada numa cadeira de rodas. Porém, ela esconde alguns segredos, que serão desvendados num momento-chave, e também serão decisivos na oportunidade de escolher se quer permanecer morta ou voltar a viver…
Créditos: Lotus Production e Medusa Film
A película Italiana teve lançamento no país em janeiro de 2023 e chega ao Brasil depois de um ano
Além desses três, há Napoleone (Valerio Mastandrea), aparentemente o mais deprimido de todos, o que é paradoxal, visto que ele trabalha como ‘coach’, vendendo fórmulas comportamentais, em palestras, para que seus clientes sintam-se dispostos a enfrentar os problemas cotidianos. Ou seja, justamente aquele que passa os dias proferindo frases de autoajuda não consegue lidar com a crise emocional envolvendo a sua esposa Greta (Elena Lietti). Napoleone sente ciúmes do possível relacionamento entre ela e o seu melhor amigo. E, ao invés de dialogar, opta por uma decisão egoísta: atira-se de uma ponte, o que o protagonista angelical considera mui recorrente, no que tange às mortes das pessoas que auxilia. Calha de ser Napoleone o mais dificultoso no tratamento seletivo entre a vida e a morte, pois ele reluta em assumir as suas fraquezas, em reconhecer que é capaz de enfrentá-las. Ajudou muitas pessoas, por dinheiro, mas não consegue salvar a si próprio!
Aderindo a situações óbvias porém bem-intencionadas, o roteiro escrito pelo próprio diretor, em parceria com Isabella Aguilar, Paolo Costella, Rolando Ravello, contém diversas firulas, justificadas pela estrutura fabular. Por vezes, as seqüências confundem-se com vídeos motivacionais comumente publicados no Instagram, incluindo na trilha musical faixas recorrentes nestes vídeos, como “Hallelujah”, de Leonard Cohen, ou “Experience”, de Ludovico Einaudi. O enredo é imbuído dos sintomas psiquiátricos dos personagens, em vais e vens que emulam a bipolaridade típica de quem opta pelo suicídio. Há muitas simplificações espíritas na trama, direcionadas ao acolhimento espectatorial, cujas pretensões de identificação exortam a beleza da vida, através do reconhecimento do livre-arbítrio, que o filme proporciona. Uma cena maravilhosa é deveras sintética neste sentido, quando o protagonista demonstra que as luzes concernentes à felicidade dos habitantes de uma determinada região acendem-se e apagam-se de maneira frenética e inconstante. Mas é “justamente por sentirem falta da felicidade – e saberem que podem recuperá-la – que eles seguem em frente”. Em meio ao despejo de mesmices, o filme funciona ao nos cativar afetivamente. Será que os quatro suicidas serão demovidos de suas idéias auto-sabotadoras? O desfecho é uma gracinha!
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS!
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Kung Fu Panda 4 emerge como uma adição emocionante e satisfatória à amada franquia de animação estrelada por Jack Black desde 2008. A produção tem direção de Mike Mitchell e traz de volta o carisma e a magia que tornaram as aventuras de Po, em sua busca pessoal como guerreiro, tão queridas pelo público de todas as idades.
Desde o primeiro momento, a audiência é inserida em um mundo repleto de cores vibrantes, personagens bem construídos e uma história envolvente que mantém nossa atenção do início ao fim. Aqui o universo já estabelecido se expande de forma significativa, sem perder de vista os temas centrais que tornam a série de filmes sobre o pandinha afetuoso tão especial. Neste novo capítulo da história, o espectador é levado a uma exótica cidade que espelha as metrópoles atuais e apresenta ao público personagens fascinantes que enriquecem ainda mais o mundo dos mestres do Kung Fu.
A exploração de novos cenários dentro da cultura asiática soma uma camada de profundidade à narrativa. Além disso, a trama desta sequência é construída, assim como suas antecessoras, equilibrando momentos de humor com cenas de ação frenéticas e momentos de verdadeira emoção. As piadas, embora possam ser previsíveis para quem já está habituado com a franquia, ainda conseguem obter gaitadas sinceras, o que mantem o público atento e conectado ao enredo, enquanto as lutas que se assiste elevam ainda mais o grau de maestria (da animação e da luta) demonstrando uma variedade de estilos de kung fu e técnicas impressionantes.
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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Kung Fu Panda 4, 2024. Direção: Mike Mitchell. Co-Direção: Stephanie Stine. Roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger, Darren Lemke, David Lindsay-Abaire e Lilian Yu - baseados nos personagens criados por Cyrus Voris e Ethan Reiff. Dubladores originais: Jack Black, Awkwafina, Viola Davis, Dustin Hoffman, Bryan Cranston, James Hong, Ian McShane, He Huy Quan, Ronny Chieng, Lori Tan Chinn, Seth Rogen, Mr. Beast, James Murray, James Sie, Cedric Yarbrough, Vic Chao, Audrey Brooke, Lincoln Nakamura. Dubladores brasileiros: Lúcio Mauro Filho, Dannie Suzuki, Taís Araújo, Leonardo Camillo, Sérgio Fotruna, Alexandre Maguolo, Anderson Coutinho, Paulo Vignolo, Sérgio Moreno, Hércules Franco, Ricardo Juarez. Gênero: Animação, aventura. Nacionalidade: Estados Unidos da América e China. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer e Steve Mazzaro. Edição: Christopher Knights. Design deProdução: Paul Duncan. Supervisor de Animação: Laurent Caneiro,Patrick Giusiano, William Salazar. Empresas Produtoras: DreamWorks, China Film Group Corporation (CFGC) e DreamWorks Animation. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h34min.
O desenvolvimento dos personagens também merece destaque neste longa animado. Po (voz de Jack Black no original e de Lucio Mauro Filho na versão dublada) tem agora a missão de encontrar um novo guerreiro dragão, pois se tornará em breve o líder espiritual do Vale da Paz. Contudo, mal sabe ele que uma nova vilã Camaleoa (voz de Viola Davis no original e de sua grande amiga Taís Araújo na versão Brasileira), que é feiticeira e perversa, está recolhendo todo o poder que pode para o enfrentar. Assim, o nosso adorado dragão defensor terá de lutar até consigo mesmo e receberá a ajuda de Zhen (Awkwafina/Danni Suzuki) nessa jornada. O filme ainda reserva um espaço especial para os cinco furiosos: Tigresa, Macaco, Víbora, Louva-Deus e Garça, que continuam a crescer e evoluir de forma espetacular como personagens coadjuvantes. Também estão no time de dubladores Dustin Hoffman, Bryan Cranston, James Hong, Ian McShane, He Huy Quan e Seth Rogen. Alguns deles retornando aos seus papéis domo Hoffman, Hong, McShane e Rogen e outros iniciando trabalhos.
Além disso, os novos personagens introduzidos são igualmente interessantes e bem elaborador, trazendo assim uma dimensão a mais à dinâmica do grupo e proporcionando momentos de grande empatia e identificação. A mensagem subjacente de autoaceitação, amizade e determinação que permeia toda a franquia é mais uma vez reforçada. A jornada de Po para se tornar o melhor guerreiro que ele pode ser, aprendendo que o maior guerreiro é aquele que diz não ao conflito, enquanto enfrenta seus medos e inseguranças, ressoa profundamente com o público e serve como um lembrete inspirador de que todos são capazes de superar obstáculos e alcançar sonhos, desde que se tenha coragem e determinação.
Mike Mitchel (Trolls) ganhou total controle criativo da produção e, apesar de não termos o retorno de diretores anteriores, o roteiro conta com a volta de Jonathan Aibel e Glenn Berger que são responsáveis pelo texto dos outros filmes. Darren Lemke é adicionado ao time.
Visualmente, a película é um verdadeiro espetáculo para os olhos. A animação é deslumbrante, com traços de paisagens igualmente lindas, movimentos fluidos e uma atenção meticulosa aos detalhes que eleva cada cena. A trilha sonora original, composta por Hans Zimmer e Steve Mazzaro, também merece elogios, pois complementa perfeitamente as imagens na tela e intensifica a emoção de cada take. Desde àqueles que são repletos de suspense até as cenas de triunfo. Zimmer e Mazzaro nos guiam pela jornada de Po e seus amigos com a estridência e elegância que só ele tem. Ademais, o compositor trabalhou em versões junto a banda do ator Jack Black, o Tenacious D. Juntos gravaram a canção ''Crazy Train'', do inenarrável Ozzy Osbourne, e Jack ainda teve chance ir atrás de mais uma versão e escolher ''...Hit Me Baby One More Time'', da princesa do pop, Britney Spears (escute aqui). Esta última ganhou um videoclipe direto da pré-estréia em Los Angeles.
Kung Fu Panda 4 é uma adição digna à franquia. Vem repleta de humor, ação e coração. Com sua narrativa bem desenvolta, personagens carismáticos e traços dignos de receber o nome de Kung Fu Panda. A animação tem tudo para ser um sucesso e agradar tanto os fãs de longa data, sejam eles crianças e adolescentes ou ainda os adultos, quanto aos mais novos espectadores. É uma aventura cheia de afeto que nos lembra do poder da amizade, da superação pessoal e da importância de acreditar em nós mesmos. Definitivamente, uma ótima pedida para todos os amantes do gênero.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS
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Nicholas Winton, corretor da bolsa em Londres nos anos 30 levava uma vida confortável. Nascido de pais judeus-alemães recebeu uma educação que fez nascer dentro dele o compromisso quase incontrolável de ajudar o próximo e fazer aquilo que para muitos soaria como impossível.
Na velhice, ainda fazia campanhas de caridade na pequena comunidade de Maidenhead. Mas, em seu íntimo, carregava a angústia de achar que não havia feito o suficiente. “Se alguma coisa não é impossível, deve haver algum meio de fazê-la.”
Em flashbacks, o público será levado ao início da trajetória daquele que ficou conhecido como o “Schindler britânico” e conhecerá a história verídica que ficou guardada por mais de cinco décadas em uma pasta de couro dentro de uma gaveta. E foi assim que, em dezembro de 1938, um simples telefonema mudaria sua rota de férias, transformando totalmente sua vida aos 29 anos e alterando o destino de 669 crianças judias da Tchecoslováquia.
Ao visitar Praga, Winton foi exposto à dura realidade da guerra e viu os horrores que enfrentavam os refugiados, amontoados como escória nos abrigos sem estrutura para enfrentar o inverno que estava próximo. A morte daquelas pessoas viria invariavelmente, ou pelas mãos dos nazistas ou pelo frio implacável. Era preciso fazer algo. Urgentemente!
Nicky retornou a Londres decidido a ajudar, mesmo ainda não tendo um plano consistente. Ingênuo, queria salvar o mundo. E pelo dito de um provérbio hebraico: “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro.” - a frase também aparece em ''A Lista de Schinlder'' (Steven Spielberg, 1993).
Com a ajuda de sua mãe Babi Winton (Helena Bohan-Carter) e os amigos Trevor Chadwick (Alex Sharp) e Doreen Warriner (Romola Garai) do Comitê Britânico para Refugiados na Tchecoslováquia, o jovem encara uma corrida contra o tempo para reunir o maior número de vistos, fundo financeiro e lares adotivos temporários para aquelas crianças. A narrativa vibrante e comovente levará o expectador as lágrimas.
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Ficha Técnica
Titulo original e ano: One Life, 2023. Direção: James Hawes. Roteiro: Lucinda Coxon e Nick Drake — baseado no livro de Barbara Winton. Elenco: Anthony Hopkins, Lena Olin, Johnny Flyn, Helena Boham Carter, Jonathan Pryce, Romola Garai, Alex Sharp, Matilda Thorpe, Daniel Brown, Tim Steed, Jiri Simek. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Volker Bertelmann. Fotografia: Zac Nicholson. Edição: Lucia Zuchetti. Design de Produção: Christina Moore. Figurino: Joanna Eatwell. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 110min.
Em 1980, Winton organiza objetos acumulados durante anos. A pedido da esposa Grete Winton (Lena Olin), ele deve arrumar espaço para receber a família e acolher o neto que irá nascer em breve. Aquela pasta de documentos o leva de volta ao passado. No íntimo, ele deseja saber o que aconteceu na vida daquelas crianças longe dos pais e do país de origem. A pasta com os documentos, que para muitos não tem o devido valor, chega até um programa de tevê da BBC – That’s Life. E a história, enfim é revelada ao mundo! Cenas emocionantes!!!
O filme tem direção de James Hawes e o roteiro de Lucinda Coxon e Nick Drake se fundamenta no livro (veja aqui) escrito pela filha de Nicholas, Barbara Winton. A obra é baseada nos registros retirados de cartas, diários e anotações pessoais do homenageado. Winton jovem é interpretado por Johnny Flynn (Emma e Stardust), enquanto a versão mais velha tem o magnífico Anthony Hopkins no papel. Só esse aviso e já vele o ingresso!
Créditos: See-Saw Films, BBC Films, MBK Productions
Nicholas Winton é interpretado pelos atores Anthony Hopkins e Johnny Flynn na produção. Em 2003, a rainha Elizabeth o concedeu a honraria de ''Sir'' por seus ''serviços a humanidade''. Após sua morte, em 2015, os jornais no Reino Unido o nomearam de ''O Schindler Britânico''.
O homem, que morreu aos 106 anos de idade, em 2015, assumiu quando rapaz uma missão de resgate que muitos dispensaram por julgarem desnecessária, arriscada ou muito difícil. Mas, para aquele jovem obstinado, nada parecia impossível. Seu feito extraordinário só veio a público décadas depois. Winton escolheu a ação no lugar do comodismo e ainda assim, passou toda sua vida com o incômodo de não ter feito mais diante das injustiças do mundo.
A produção é um relato necessário, que mostra ser sempre possível fazer a diferença no mundo. E ainda que os salvadores não o façam com intenção de reconhecimento, a visibilidade é merecida!