Godzilla está numa excelente fase. Completando 70 anos de idade e 10 anos desde a estreia do MonsterVerso, o kaiju ranzinza e agora oscarizado pelos efeitos visuais de Godzilla Minus One (Takashi Yamazaki, 2023) parece estar longe da aposentadoria. Sua carreira atualmente se divide em duas vertentes: a japonesa e a estadunidense. Em sua terra-natal, Godzilla é uma representação de medos e traumas do país, uma ameaça que catalisa dramas humanos e crises diplomáticas em situações que focam no senso de coletividade nacional. Nos Estados Unidos, a carreira do lagartão está mais compromissada com a diversão e a porradaria, dividindo as telas (e eventuais sopapos) com o Todo-Poderoso Kong e outros monstros gigantes, não se propondo a oferecer narrativas com muita reflexão ou profundidade emocional. Ambas perspectivas acabaram se mostrando muito bem-sucedidas, entregando ao público exatamente aquilo que era prometido dentro de suas próprias concepções. Enquanto no Japão os filmes atualmente seguem linhas narrativas independentes entre si, na terra do Tio Sam o plano acabou optando pela tendência mercadológica de universo expandido compartilhado, com uma história maior que se desdobra em diversos filmes.
Tendo apresentado novas versões de Godzilla e Kong e desenvolvido mitologias e inimigos para ambos, a intenção do chamado MonsterVerso desde o início era criar um campo de batalha no qual Godzilla e Kong finalmente pudessem se enfrentar. Tal embate veio às telas no hit pandêmico Godzilla vs. Kong (texto disponível) e provou ser a apoteose nada sublime de pancadaria digital desmiolada que prometia ser. As cifras em bilheteria provaram que ainda restava fôlego à franquia e um interesse comprometido do público em mais filmes. Mas, após o tão-aguardado conflito entre titãs, não parecia haver muito mais a ser desenvolvido. Teria o MonsterVerso então esgotado seus truques?
Com o bom desempenho de Godzilla vs. Kong, o diretor Adam Wingard e sua equipe retornam para mais uma aventura com os amados monstros gigantes. No elenco, retornam Rebecca Hall, Brian Tyree Henry e Kaylee Hottle. O ator britânico Dan Stevens foi a adição ao grupo.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Godzilla x Kong - The New Empire, 2024. Direção: Adam Wingard. Roteiro: Simon Barrett, Jeremy Slater com argumentos de Adam Wingard. Elenco: Rebecca Hall, Dan Stevens, Bryan Tyree Herry, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Fala Chen, Rachel House, Ron Smyck. Gênero: Aventura, Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Antonio Di Iorio eTom Holkenborg. Fotografia: Ben Seresin. Edição: Josh Schaeffer. Design de Produção: Tom Hammock. Supervisão de Direção de Arte: Andrew Max Cahn e Richard Hobbs. Figurino: Emily Seresin. Distribuidora: Warner Bros Pictures . Duração: 01h55min.
Kong é o último de sua espécie. Saído da Ilha da Caveira, agora reina solitário o exótico território sob a superfície chamado de Terra Oca, alheio aos mistérios que a extensão não-mapeada de seu novo lar esconde. Também desalojada da Ilha da Caveira, a última remanescente do povo iwi, Jia (Kaylee Hottle), encontra dificuldades para se inserir em outra cultura. Sua mãe adotiva, Dra. Ilene Andrews (Rebecca Hall), se divide entre a criação da filha e pesquisar os titãs com a agência Monarch. Quando Jia passa a ter visões inexplicáveis, Ilene recorre aos nada convencionais pitacos conspiracionistas de Bernie (Brian Tyree Henry) para ajudá-las. Ao lado do recém-chegado Trapper (Dan Stevens), um charmoso e excêntrico veterinário da Monarch, o time ruma em direção a regiões inexploradas da Terra Oca para investigar um intrigante pedido de socorro que revelará segredos milenares e civilizações perdidas, mas também trará à tona inimigos que ameaçarão o futuro do planeta.
Baseando-se em sua premissa genérica e seu duvidoso material de divulgação, Godzilla e Kong: O Novo Império poderia ser apenas um mero repeteco do capítulo anterior. Mas esta nova aventura é bem-sucedida em avançar a trama da franquia e desenvolver a mitologia que vem sendo construída há uma década. Com ótimos efeitos visuais e designs criativos, mantém a qualidade técnica de seu antecessor, apesar de pecar em alguns momentos no senso de escala em meio ao mundo de cenários e personagens digitais. Narrativamente, apresenta um roteiro mais refinado e despreocupado do que o capítulo anterior, se beneficiando dos absurdos introduzidos na saga anteriormente para simplesmente seguir fazendo o que a franquia faz de melhor: propor caminhos que desafiam qualquer sentido simplesmente porque é LEGAL. O roteiro sustenta este conceito até o fim, sem um pingo de vergonha da proposta fantasiosa ou soluções narrativas estapafúrdias. Ainda bem!
O quinto filme do MonsterVerso foi rodado na Austrália e tem referências a ''Maquina Mortífera'' (Richard Donner, 1987) misturado a uma estética de realidade virtual produzida por videogames.
Um dos maiores acertos de O Novo Império são as cenas de interação entre os titãs em que não há interferência de personagens humanos. A falação expositiva de longas anteriores por parte do elenco de carne e osso (em especial no verborrágico Godzilla II: Rei dos Monstros) recebeu muitas reclamações de público e crítica, então é ótimo notar que os apelos para confiar mais nos monstros foram ouvidos. Dividida em 3 núcleos principais (focados em Kong, Jia e Godzilla, antes de se reunirem no último ato do filme),a trama dá o devido protagonismo ao Fantástico e deixa a falação científica como plano de fundo. Há espaço para tensão, para o deslumbramento, para comédia e, claro, para o esperado momento de catarse-catástrofe no ápice do longa. Várias cidades pelo mundo tiveram a honra de ser destruídas por Godzilla, Kong e companhia nesta nova interação fílmica. Nem o Brasil ficou de fora!
Uma grata surpresa! Godzilla e Kong: O Novo Império repete a dose do que já havia sido apresentado na franquia até então e traz um respiro a mais pro MonsterVerso, expandindo a mitologia e dando sobrevida a esta saga cada vez mais grandiosa, divertida e deliciosamente desmiolada.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS!
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