Baseado no romance homônimo da escritora brasileira Clarice Lispector, publicado em 1964, chega aos cinemas a tão esperada película dirigida por Luiz Fernando Carvalho, com roteiro adaptado por este último e Melina Dalboni. O longa teve sua estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2023, e fez parte da seleção do Festival do Rio no mesmo ano.
No elenco temos Maria Fernanda Cândido como G.H. e Samira Nancassa como Janair. A narrativa tem início quando a primeira, uma escultora bem-sucedida, parte da elite privilegiada de Copacabana, se depara com a demissão de sua empregada Janair. As vestes de cores neutras e sóbrias lhe confere um ar invisível. A mulher achava- se boa em organizar coisas, uma vocação nata. Sendo assim, arrumar a própria casa seria um deleite, uma nova experiência em sua vida. Decide, então, começar pelo quarto da empregada. Entretanto, aquele cômodo era um ambiente totalmente desconhecido para ela, como se não fosse parte da residência.
Ao abrir o guarda-roupa se depara com uma enorme barata. Ela a esmaga! A barata expele uma gosma, como uma essência de vida. A partir deste episódio até certo ponto banal para qualquer outra pessoa, inicia-se um incessante monólogo interior da personagem. A barata torna-se o objeto desencadeante da profunda viagem interior. O inseto representa o preconceito que a sociedade da época (e atual) nutre com relação aos subalternos. Como de costume nas obras da escritora, a narrativa se dá em um fluxo ininterrupto, um turbilhão de ideias. O jorro de palavras procura dar a interpretação de seu próprio mundo interior. O fato da personagem não ter um nome e apenas iniciais, lhe confere um caráter ambíguo e indefinido. Arrumar a casa vai além do ato de higiene e adquire um caráter mais amplo. G.H. procura organizar sua própria existência até então limitada pelas normas vigentes e se questiona sobre o que fez dela mesma.
Créditos: Paris Entretenimento, LFC Produções, República Pureza Filmes, Eleonora Granata e Academia de Filmes
“O que fizera eu de mim?”
O mundo fechado em que vivia abre-se como uma janela para novas descobertas e questionamentos sobre sua essência. O olhar além das paredes revela um mundo de possibilidades e desnuda o desnível social entre G.H. e Janair. Sutilmente a obra critica os privilégios das classes abastadas e as convenções sociais que cerceavam as mulheres. O uso de metáforas dá lugar a uma gama ampla de interpretações por parte do expectador.
A trilha sonora traz o clássico “Águas de Março” e abrilhanta a produção com sua beleza sonora. O resultado é um filme visceral, como a própria escrita de Clarice. Na certa, um que merece ser assistido por um público seleto e pensante. Vá com mente e coração abertos!
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: A Paixão Segundo G.H, 2024. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Roteiro: Luiz Fernando Carvalho e Melina Dalboni — adaptação da obra homônima de Clarice Lispector. Elenco: Maria Fernanda Candido e Samira Nancassa. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Paulo Mancini e Miqueias Lino. Figurino: Thanara Schönardie. Cenografia: Mariana Villas-Bôas. Caracterização: Eduardo Bellini, Luigi Custódio e Neandro Ferreira (Visagismo). Assistente de direção: Kity Féo. Desenho de Produção: João Irênio, Thanara Schönardie e Mariana Villas-Bôas. Empresa Produtora: Paris Entretenimento, LFC Produções, República Pureza Filmes e Academia de Filmes. Produção: Luiz Fernando Carvalho, Paulo Roberto Schmidt, Marcio Fraccaroli, Veronica Stumpf e Marcello Ludwig Maia. Empresa Coprodutora: Elenora Granata. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 02h06min
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