quinta-feira, 25 de abril de 2024

Clube Zero, de Jessica Hausner | Assista nos Cinemas


Para quem sofre com distúrbios alimentares, Clube Zero não é o filme mais indicado dentro do leque de opções que se terá esta semana nos cinemas. Brincando com muito humor negro sobre a temática, o longa-metragem pode estimular péssimas ideias a quem é suscetível. Afinal, a produção é uma associação de pessoas que não se alimentam mais, ou seja, ingerem zero calorias.
Isso é possível? Claro que não. Essa abordagem fantasiosa e satírica do tema pode prover muito desconforto nos espectadores. Cinema, porém, tem tendência a ser provocador. Em situações absurdas, essa loucura alimentícia é mostrada em detalhes, às vezes asquerosos, entre alunos de uma escola para ricos, em algum lugar da Europa. A austríaca Jessica Hausner assina a direção e o roteiro e seu texto é deveras exagerado para propositadamente criar o desconforto e o asco. Preparem-se para assistir a uma das cenas mais nojentas da história do cinema...
Mia Wasikowska interpreta a professora Ms. Novak. De semblante sereno e sorrisinho permanente no rosto, a vilã influencia os adolescentes das aulas de alimentação consciente a comerem cada vez menos. Nessa loucura de conceitos de pseudociência, filosofia oriental barata e palavras e gestos doces, ela monta um culto de fanáticos, que acabam aderindo ao Clube Zero e deixam de se alimentar. Os jovens, com suas crises de angústia características da idade, são inebriados por essa flautista de hamelin sedutora e correm em direção ao precipício.
A sátira tipifica muito os personagens, são situações artificiais, não são críveis. Esse é o problema do filme. O assunto é demasiado sério para ser tratado dessa forma. Mas, embarcando no conceito da estória, dá-se boas risadas com os absurdos apresentados. Os pais, por exemplo, vendo os filhos embarcando nesta jornada perigosa, não agem com firmeza, e ficam numa tagarelice sem fim, citando conceitos politicamente corretos, numa ironia flagrante aos ditames da vida moderna, como as conhecemos e tentamos seguir. Não há sutilezas.
Créditos: Coop99 Filmpoduktion, Coproduction Office, ARTE, Arte France Cinéma
A produção recebeu oito indicações em premiações diversas, inclusive, a Palma de Ouro em Cannes pela direção de Jessica Hausner. A Trilha Sonora recebeu prêmios nas últimas edições do European Films Awards e no Sitges - Catalonian Films Awards

Essa é a proposta da diretora, presença habitual no Festival de Cannes pelos filmes Inter-View (1999); Lovely Rita (2001), Hotel (2004) e outros. Essa linhagem de películas com viés cult pode gerar estranheza. Mas o intuito é esse: chocar, fazer pensar, bagunçar as ideias. Clube Zero consegue isso plenamente.
Os diálogos são mordazes e perturbadores. A paleta de cores da fotografia é elegante e em tons suaves, combinando entre si. O cenário da escola de elite é luxuoso e belíssimo. A beleza externa, combinando com a loucura da professora e as mentes atormentadas de seus alunos, contrastam surpreendentemente, alicerçado ainda mais pelas atitudes inconsequentes dos pais. O final fantasioso choca ainda mais e gera reflexão para muitos dias. O resultado, porém, é muito artificial; uma brincadeira em cima de um tema muito sério. Essa dualidade de sentimentos gera desconforto em quem está assistindo. É uma arte de provocação. 
Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Club Zero, 2023. Direção: Jessica Hausner. Roteiro: Jessica Hausner, Géraldine Bajard. Elenco: Mia Wasikowska, Sidse Babett Knudsen, Amir El-Masry, Camilla Rutherford, Amanda Lawrence, Sam Hoare, Elsa Zylberstein, Keeley Forsyth, Mathieu Demy, Emily Stride, Szandra Asztalos, Florence Baker, Samuel D Anderson. Nacionalidade: Alemanha, Áustria, Catar, Dinamarca, França, Reino Unido Gênero: Drama, Romance, Comédia, Suspense. Montagem: Karina Ressler. Trilha Sonora Original: Markus Binder. Direção de Fotografia: Martin Gschlacht. Desenho de Produção: Beck Rainford. Figurino: Tanja Hausner. Supervisão de Direção de Arte: Alisson Adams. Produção: Bruno Wagner, Johannes Schubert, Mike Goodridge, Philippe Bober. Distribuidora: Pandora Filmes. Duração: 110 min.

O filme teria estréia em abril, mas sofreu nova alteração para o inicio de maio.
Nota: 7/10.
02 de Maio nos Cinemas

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