“Não lembrar quer dizer que nunca aconteceu?”
Aguardemos os seus próximos trabalhos, portanto!
Obedecendo rigorosamente à cartilha dos clichês que validam o fascínio pelas tramas românticas, “Grandes Hits” (2024) é um filme que possui traços em comum com diversas obras: em relação a “Alta Fidelidade” (2000, de Stephen Frears), por exemplo, compartilha a importância das canções enquanto acessório/impulsionador afetivo, e, da mesma forma que “P.S. Eu Te Amo” (2007, de Richard LaGravenese), aborda a questão do luto, como algo a ser enfrentado, a despeito da pletora de ‘flashbacks’ com a pessoa amada e ausente. Em apenas seu segundo longa-metragem, o diretor Ned Benson consegue chamar a atenção pela maneira como valoriza o apelo emocional advindo das preferências cancionais de seus personagens.
Da maneira similar ao que ocorre nos enredos adaptados de livros de Nick Hornby, este filme alia um senso descolado de humor a um ótimo gosto musical: a protagonista Harriet (Lucy Boynton) sonha diuturnamente com o seu namorado Max (David Corenswet), que faleceu durante um acidente de carro. Ela desenvolveu, de maneira involuntária, uma habilidade que lhe permite voltar no tempo, sempre que ouve alguma canção que curtiu ao lado dele. Porém, isso traz consigo alguns empecilhos cotidianos: geralmente, ela desmaia quando essas “viagens” acontecem, de modo que precisa utilizar fones de ouvidos para bloquear os alto-falantes urbanos. A fim de que ela se sinta plenamente segura, freqüenta ambientes onde se toca música contemporânea, já que se passaram dois anos desde que Max faleceu...
O melhor amigo de Harriet, Morris (Austin Crute), é um DJ que sabe de sua condição específica e tenta ajudá-la a encontrar o disco definitivo, aquele que supostamente permitirá que ela impeça o acidente automobilístico que causou a morte de Max. Porém, ele insiste que sua amiga deve abrir-se para o mundo novamente, encontrar outro amor. Ela recusa-se, infelizmente: faz terapia com a dra. Evelyn Bartlett (Retta), num grupo de apoio ao luto, cujo lema é “as perdas são para sempre, mas a dor é temporária”. E é precisamente neste grupo que ela encontrará David (Justin H. Min), que lida com o falecimento de ambos os pais.
Ao conhecer David e perceber que possui o mesmo gosto musical que ele – adquirem um disco raro de ‘remixes’ da banda Roxy Music, em esquema de “guarda compartilhada” –, Harriet sente-se tentada a prosseguir com a sua vida, o que ela define como uma característica peculiar dos seres humanos. Mas, enquanto ela se sentir culpada pelas condições que levaram ao acidente que vitimou Max, não conseguirá desfrutar adequadamente do que esse novo amor tem a lhe oferecer. Então, ela tem o ‘insight’ que faltava: ela já vira David anteriormente, num instante em que ainda estava com Max!
Créditos: Far Hills Pcitures, Groundhounds Procuctions, Searchlight Pictures / HULU / Star+
''Grandes Hits'' tem uma um enredo similar a coprodução entre Coréia do Sul e Estados Unidos ''Press Play'' (2022) estrelado por Lewis Pullman e Clara Rugaard. Ademais, O filme Brasileiro ''Evidências do Amor'', com Sandy e Fábio Porchat, lançado este ano, também entrega enredo sobre um casal que volta no tempo por conta de canções que ouviram juntos.
Conforme se percebe através desta sinopse estendida, “Grandes Hits” possui um extraordinário ponto de partida, com inúmeros chamarizes para quem aprecia boa música. A cantora Nelly Furtado faz uma breve aparição, além de emprestar uma de suas canções mais famosas à banda sonora: “I’m Like a Bird”, cantarolada por David e Harriet durante um passeio. Para que o filme seja devidamente apreciado, é necessário ceder a algumas concessões tramáticas, visto que o roteiro é bastante falho em justificativas físicas e teleológicas. Exemplo: Harriet reclama que, quando volta no tempo, não consegue convencer as pessoas a deixarem de fazer algo e, por isso, as situações ocorrem sempre da mesma maneira. Por motivos óbvios, isso infringe um princípio elementar da causalidade, pois tudo o que fazemos influencia nos destinos de outras vidas e da humanidade em geral.
Os atores são simpáticos e, claro, as canções aproveitadas na trilha musical são mui aprazíveis. A montagem do filme precipita-se em sua meia-hora final, no afã por possibilitar um final feliz para todos os personagens envolvidos. Às custas da perda de mais um quinhão de lógica interna, lamentavelmente: por mais gracioso que seja, o desfecho soa deslocado em relação à cadência melancólica do restante da narrativa. E, não duvidemos, o clímax ocorre justamente num concerto da banda Roxy Music!
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Greatest Hits, 2024. Direção e Roteiro: Ned Benson. Elenco: Lucy Boynton, David Corenswet, Justin H. Min, Austin Crute, Retta, Andie Ju, Jenne Kang, Tom Yi, Nelly Furtado. Gênero: Drama, Romance, Fantasia, Música. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Ryan Lott. Fotografia: Chung-hoong Chung. Edição: Saira Haider. Design de Produção: Page Buckner. Direção de Arte: Sarah M. Pott e Carol Uraneck. Figurino: Olga Mill. Decoração de Set: Kimberly Leonard. Produção: Far Hills Pcitures, Groundhounds Procuctions, Searchlight Pictures. Disponível no Star+. Duração: 01h34min.
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