O público já está acostumado a filmes baseados ou inspirados em livros. Desta feita, ocorre o inverso. Raphael Montes escreveu o roteiro e o argumento de “Uma Família Feliz”, que chega aos cinemas esta semana, e posteriormente, transformou a história em livro, que também já se encontra disponível nas livrarias (veja aqui). Seguindo sua linha habitual, já pode-se esperar por grandes emoções, temas sociais polêmicos e um final surpreendente e inesperado.
A trama traz a história de um casal lindo e perfeito, daqueles típicos de comercial de margarina. Eva (Grazi Massafera), um nome já bem sugestivo, é loira, alta, com pele e cabelos bem cuidados e trabalha em casa confeccionando os chamados ''bebês newborn''. Seu mundo orbita entre bonecas perfeitamente realistas e ao mesmo tempo impressionantemente assustadoras. Seu marido Vicente (Reinaldo Gianecchini) é o protótipo da beleza grega. Alto, másculo, musculoso, o homem ideal, verdadeiro sonho de consumo. Ele trabalha em um escritório e está empenhado em conseguir a sociedade.
No luxuoso apartamento onde vivem em um condomínio de alto padrão, a felicidade está em cada detalhe da decoração. Vicente é um pai perfeito. Participativo e carinhoso com as filhas gêmeas Ângela e Sara. Mas, como nem tudo é “exatamente como parece ser”, o público é convidado a se atentar aos pequenos detalhes desta família feliz. Como o próprio autor frisou, em coletiva para a imprensa, essa é uma história sobre aquilo que “não é”, sobre o que é velado nas relações humanas e familiares.
Eva engravida e dá a luz ao pequeno Lucas trazendo à tona todas as inseguranças de uma mãe de primeira viagem. O trato com o bebê se mostra mais complicado que parece, a criança chora insistentemente e não aceita o peito na amamentação. O paraíso de Eva se transforma em seu inferno particular. Não há com quem dividir suas angústias, já que a relação desta com as demais mulheres do condomínio soa fútil e superficial. Uma única amiga tenta ajudar, mas não é suficiente.
A presença de Vicente camufla as questões enfrentadas por Eva e só faz piorar seu quadro psicótico. As pequenas frases do marido contêm a toxicidade destilada por um machismo estrutural que presume que a mulher deva dar conta de tudo sem se abalar. Ângela e Sara também apresentam sinais de desequilíbrio emocional, mas tudo é encarado como parte da idade e em decorrência da chegada do bebê. Sem contar que uma das gêmeas tem uma doença grave. A tensão cresce na família e entre os vizinhos do condomínio. A política do cancelamento exclui a família do grupo social.
Créditos: Pandora Filmes
O 15º filme dirigido por José Eduardo Belmonte tem produção da Barry Company, em coprodução com a Globo Filmes e Telecine, e distribuição da Pandora Filmes.
A trilha sonora dá o tom aterrador a cada cena. Personagens bem construídos levam o público a formar um julgamento que define quem é “do bem” e quem não é. A atuação de Grazi Massafera merece destaque. Graças a boa direção de José Eduardo Belmonte, ao jogo de câmeras e as cenas focadas em suas expressões faciais, é possível sentir as angústias e inseguranças da personagem. A narrativa se inicia com um desfecho trágico que leva o público a tirar conclusões precipitadas. O desenvolvimento inverso entrega a tensão da trama até atingir o final que irá fazer “cabeças explodirem”!
Eva estaria passando por uma severa depressão pós-parto com tendência à loucura? Vicente seria um pai abusivo e violento? O que realmente aconteceu no passado com a mãe biológica das gêmeas? Que tragédias esta família feliz acoberta?
Não se esqueça que estamos falando sobre “aquilo que não é”, portanto nada será claro e definitivo na trama. E, embora a narrativa apresente faltas que certamente são melhor abordadas no livro, ainda assim “Uma Família Feliz” vale o ingresso e até mesmo a leitura!!
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: Uma Família Feliz, 2024. Direção: José Eduardo Belmonte. Argumento, Roteiro e Diretor Assistente: Raphael Montes. Elenco principal: Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini, Luiza Antunes e Juliana Bim. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Composição de Trilha Musical: Julia Teles. Figurinista: Isabella Brasileiro. Maquiadora Chefe: Carol Suss. Delegada Curitiba: Diana Moro. Direção de Fotografia: Leslie Montero. Direção de Arte: Monica Palazzo, ABC. Técnico de Som Direto: Bruno Ito. Montador: Jota Santos. Produtores de Elenco: Agnaldo Baliza, Renata Dias. Supervisão de Edição de Som: Miriam Biderman, ABC. Desenho de Som e Mixagem: Ricardo Reis, ABC. Composição de Trilha Musical: Julia Teles. Figurinista: Isabella Brasileiro. Maquiadora Chefe: Carol Suss. Produtores: Juliana Funaro, Krysse Mello, René Sampaio. Produtor Associado: Jorge Furtado. Produção Executiva: Juliana Funaro, Ronald Kashima. Produtora Executiva Curitiba: Gianna Coelho. Produtora. Produção: Barry Company. Coprodução: Globo Filmes e Telecine. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 01h50min.
Avaliação: Três pás de terra (3/5).
EM EXIBICÇÃO NOS CINEMAS
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