Back to Black, de Sam Taylor-Johnson | Assista nos Cinemas


A cantora inglesa Amy Winehouse obteve seu estouro na música no início dos anos 2000 quando o mundo ganhava um movimento surreal de bandas de indie-rock e a música pop estava fervendo com produtos comerciais de grande sucesso. Amy, vinda do Jazz, exalava o frescor e a originalidade que a indústria musical pouco vê e sua ascensão foi de uma necessidade tamanha que a colocou no topo, sendo uma das cantoras britânicas com um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. ''Back To Black'' (2006) alcançou a marca do três milhões e novecentas mil cópias. O disco é o segundo da cantora e a fez faturar ainda cinco prêmios Grammy em uma só noite na edição do evento em 2008 - ''Artista Revelação'', ''Gravação do Ano'' e ''Melhor Canção'' com o hit ''Rehab'' e ''Melhor Álbum Pop'' e ''Melhor Álbum Pop Feminino''. Também foi indicada aos ''Brit Awards'' e recebeu prêmio de ''Melhor Artista Feminina'' e indicações no MTV Europe Music Awards e no MTV Video Awards. 

Cria de Londres e residente fixa do bairro mais cool da capital inglesa, ''Camden Town'', Amy fez história com sua música, mas passou por muitos momentos conturbados ao passo que o alto abuso de drogas e um relacionamento tóxico sob o olhar dos paparazzis a deixaram instável e a atormentaram durante os anos de sucesso. Em janeiro de 2011, a cantora rodou o Brasil e se apresentou no Rio de Janeiro, Recife, São Paulo e Florianópolis. Em julho do mesmo ano, Amy veio a falecer, ainda com 27 anos, devido a um envenenamento alcoólico, após passar um período sóbria. Durante os últimos dez anos, produtores e realizadores tentaram criar um projeto ficcional para levar as telas a história de sua vida. Asif Kapadia, responsável pelo documentário ''Senna'' (2010), dirigiu ''Amy'', em 2015, e obteve ótima recepção pelo público e crítica chegando a ser indicado ao Oscar. Também existiu a idéia de um musical sobre a artista, mas só em 2022 um projeto maior foi orquestrado e o StudioCanalUK foi um dos responsáveis por movimentar a pré-produção. Com Sam Taylor-Johnson (O Garoto de Liverpool, 2009) na direção e Matt Greenhalgh (Control e O Garoto de Liverpool) no roteiro, o longa começou a ganhar forma. A atriz Marisa Abela, da série de tevê ''Industry (HBO, 2020-2022) batalhou pelo papel e conseguiu o protagonismo. Para viver o amado de Amy, Blake Fielder-Civil, Jack O'Connel (O Jogo do Dinheiro, 2016) foi chamado. O pai subcelebridade da cantora, Mitch Winehouse, ganhou a interpretação do ator renomado Eddie Marsan, da série Ray Donovan (2013-2020) e a avó de Amy, Cinthia, é vivida por Lesley Manville (Sra. Harris Vai a Paris, 2022). Janis Winehouse, a mãe de Amy, não aparece quase nada na produção, mas é interpretada por Juliet Cowan.

O longa ganhou o mesmo título do segundo álbum de Amy e não remonta em tela a trajetória completa da cantora, faz apenas um recorte tabloidiano do momento em que a jovem está compondo as canções para ''Frank'', em 2003, suas primeiras apresentações, a relação com a avó, que ela idolatrava, com o pai e com o amado Blake. Na sequência, o público assiste um pouco do que foi sua escalada para o sucesso bem como sua decaída com as drogas. Cada um dos momentos de sua vida é marcado pelas famosas Tattoos que a cantora vai inserindo em seu corpo.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Back to Black, 2024. Direção: Sam Taylor-Johnson. Roteiro: Matt Greenhalgh. Elenco: Marisa Abela, Jack O'Connell, Eddie Marsan, Lesley Manville, Juliet Cowan, Sam Buchanan, Harley Bird, Ryan O'Doherty. Gênero: Biografia, Drama, Música. Nacionalidade: França, Reino Unido e Eua. Trilha Sonora Original: Nick Cave e Warren Ellis. Fotografia: Polly Morgan. Edição: Laurence Jonhson e Martin Walsh. Figurino: PC Williams. Design de Produção: Sarah Greenwood. Empresas Produtoras: StudioCanalUK, Monumental  Pictures e Canal+. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 02h02min. 
As cenas iniciais nos trazem Marisa Abela interpretando algo que Amy escreveu em seu diário no tempo de adolescente em que estudava música e teatro: ''eu quero que as pessoas esqueçam seus problemas ao ouvir minhas músicas, mesmo que seja por cinco minutos'' enquanto esta corre freneticamente por uma Londres cinzenta. Dali o espectador é levado a uma noite de comemorações na casa da avó de Amy, Cinthia (Lesley Manville). Amy revê fotos da matriarca, lê recordações que esta última tem dela, canta para os familiares e deixa o pai, Mitch (Eddie Marsan), que também se atreve a cantar, orgulhoso. O homem a leva em casa e a garota pede que ele entre para falar com a mãe, mas Mitch não dá ouvidos. Os dois até chegam a ter um arranca-rabo, mas logo se abraçam e se despedem. 

Amy tem um dia a dia agitado, pois compõe suas músicas, sai por ai com os amigos para fumar e beber, encontra garotos e tem uma vida sexual ativa, seja com o atual namorado, ou não. A primeira vez que a vemos no palco ela está soltando o verbo em ''You Should Be Stronger Than Me'', mas antes disto, os produtores da 19 Management, empresa do criador das Spice Girls, Simon Fuller, já estão malucos atrás dela para a promoverem como artista deles. A principio, Amy se recusa a entrar para o time deles, pois a empresa tem fama de ''moldar'' os talentos como eles querem vender e Amy não se vê naquele nicho. Contudo, ela acaba fechando com a agência para conseguir então lançar seu primeiro disco. A crítica aplaude de pé o álbum e ela chega até a aparecer no renomado talk show britânico ''The Jonathan Ross Show''  - imagens de Maria Abela são recolocadas no lugar de Amy, mas a entrevista realizada por Jonathan é mantida.

O sucesso estrondoso não vem com seu surgimento na indústria e os empresários e produtores tentam rever o conceito do primeiro trabalho para apresentar um segundo ainda mais forte. Durante esse intervalo, Amy conhece Blake Fielder-Civil (Jack O'Connell) e inicia um relacionamento conturbado de idas e vindas - a dramatização do encontro inicial entre eles não é nada atraente e o próprio Blake afirmou em entrevistas '' que muito do que o filme apresenta não tem veracidade ou relação com a realidade''. Com o coração partido, ainda com a parceria de Salaam-Remi, produtor do seu primeiro disco, e com a adição de Mark Ronson, ela então pari no mundo ''Back To Black'', um disco com referências ao Jazz, que ela tanto ama, mas com uma pegada soul, pop e r&b. Nas letras, Amy joga todo o seu amor por Blake e começa a falar que não precisa de ''reabilitação'', pois ela está bem. O processo criativo do álbum não é exibido no filme, afinal, as câmeras se voltam para como foi o recebimento do disco por Blake e como ele decidiu voltar para a amada após o sucesso profissional da mesma. 

As drogas estão sempre presente. Seja o uso da maconha por Amy ou o vicio de Blake em substâncias mais pesadas. O texto afirma algo que é mundialmente conhecido, a ''narrativa'' de que foi o marido que a levou a experimentar mais que um baseado, mas também propõe que ela estava consciente do que fazia, pois se dizia ter opiniões próprias. O ato é repleto de cenas do casal. Desde o seu casamento após um tempo separados, brigas, e os dois andando sem rumo com machucados pelo corpo nos bairros londrinos até o momento em que Blake é preso por agressão e Amy ainda tem esperanças de mais um retorno com ele e faz shows totalmente fora de si. A trama não toma tempo para falar exclusivamente da depressão da personagem ou dos distúrbios alimentares - no inicio até se assiste ela vomitando no banheiro e uma colega de flat reiterando que ela ''sempre fica vomitando'' e fazendo barulho, mas não exibe a mudança no corpo dela como foi visto na realidade. A não ser os momentos finais onde vai aparecendo cada vez mais magra, descabelada e sem dentes. As fases finais são remetidas por uma Amy já com as famosas mechas louras, contudo, assim como o desenvolvimento, o encerramento da história parece solto e abrupto. 

                                                                                                                      Créditos: © 2024 Focus Features, LLC.
Amy Winehouse chegou a receber 23 prêmios e 60 indicações, em grande parte pelo álbum ''Back To Black''. A cantora ganhou quatro ''Ivor Novello Awards'' que diz respeito a composição e letras.

Matt Greenhalgh escreveu dois roteiros incríveis sobre músicos ingleses -  ''Control'' (2007) sobre o vocalista da banda de pós-punk inglesa ''Joy Division'', Ian Curtis, e ''O Garoto de Liverpool'' (2009), sobre John Lennon, mas com ''Back To Black'' não conseguiu alcançar o mesmo patamar. Vemos um recorte que até faz sentido, mas que é confuso, sem respeito, e repleto de alternâncias dramáticas que não agregam a trama. As personagens tem características embasadas na realidade e ainda assim destoam do próprio direcionamento. Também se sente falta da presença de personagens como a mãe de Amy ou de amigos que estavam a sua volta. A direção de Sam foca em parte da história, somente o relacionamento de Amy e Blake, e tal escolha fere o legado da artista. O único momento importante da carreira apresentado no filme é o evento do Grammy Awards. As polêmicas com as drogas, traições, ou a relação com o pai ganham mais foco do que a crítica ao tratamento que a artista recebeu dos Paparazzis ou da mídia como um todo. Aliás, não se tem crítica alguma. 

A própria trajetória de Amy ou como ela foi educada musicalmente e sempre conviveu no meio da arte, pois os tios são músicos e avó também era, é um pouco esquecida. Sequer é evidenciado que três anos antes de lançar Frank ela fazia parte da Orquestra Nacional de Jovens do Jazz como vocalista feminina. Para quem não tem o conhecimento da importância de algumas apresentações da artista, a avó mencionar ''ela está cantando no pub do Ronnie'' não faz diferença alguma, quando, na verdade, tal pub era um lugar muito cultuado pelos amantes do Jazz e leva o nome do Saxofonista Ronnie Scott, músico que até chegou a namorar Cinthia Winehouse.

                                                                                                          Créditos: © 2024 Focus Features, LLC.
       Montagem de Marisa Abela como Amy Winehouse e a cantora durante momento de vitória no Grammy awards em 2008

As atuações no filme estão corretas e não há sátira ou desleixo dos atores para evidenciar quem vivem. Marisa Abela apresenta todos os trejeitos de Amy. O mexer da boca, o sotaque forte, as mãos, as dancinhas. Fez sim um tremendo trabalho e ganhou uma caracterização imensamente semelhante. Não há como dizer que não vemos a Amy nela. Aliás, a atriz canta as músicas no filme - ainda que esta passem por sonorização e mistura com a voz original da homenageada. Jack O'Connell está um londrino malucaço e que, talvez, só quem conheça Blake possa identificar mais os trejeitos. Ainda assim se percebe a geração ''Skins'' na sua performance. Eddie Marsan consegue apresentar um Mitch no ponto e até menos canastrão do que se viu na realidade. Lesley Manville nos dá uma avó tão calorosa e artística que fica fácil entender o porquê Amy tinha a mãe de seu pai como ícone fashion e inspiração.

É uma pena que todos os pontos técnicos e a interpretação dos atores não elevem a obra por conta de talvez uma leitura mais superficial de quem a cantora foi e o que significou. Aos mais novos, fica a chamada de atenção para assistirem ao documentário de 2015 (disponível na Apple TV) e a dar o play sem parar na obra magistral que o disco é.

Avaliação: Dois baseados mal enrolados (2/5).

HOJE NOS CINEMAS 

Escrito por Bárbara Kruczyński

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1 comments:

Wesley PC> disse...

Curioso para ver por causa da Lesley Manville agora! :)

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