Conduzindo Madeleine, de Christian Carion | Assista nos Cinemas


“O que são dez minutos na vida?”… 

No início de “Conduzindo Madeleine”, de Christian Carion, somos apresentados ao rabugento Charles (Dany Boom), um motorista de táxi endividado e prestes a perder a sua Carteira de Habilitação, tamanha a quantidade de multas acumuladas. Teimoso, entretanto, ele continua a praticar pequenos delitos de trânsito, quase involuntariamente, como ultrapassar o sinal vermelho ou falar ao telefone enquanto dirige. Precisa de um milagre para conseguir se recompor financeiramente!

Numa determinada manhã, ele recebe a notícia de “uma boa corrida” (título original do filme), uma convocação para percorrer toda a cidade de Paris com uma passageira, o que lhe renderá um pagamento volumoso. Entusiasmado, mas ainda desconfiado, ele dirige-se ao endereço indicado. Após buzinar muitas vezes, é abordado por uma senhora de noventa e dois anos de idade, Madeleine Keller (Line Renaud), que operará uma verdadeira transformação em sua vida… 

Sem evitar os clichês sentimentais e/ou melodramáticos, o roteiro – escrito pelo próprio diretor, em parceria com o dramaturgo Cyril Gély – destacará as conversas entre a passageira e o taxista, ao longo do percurso. Ela fala bastante, enquanto ele demonstra-se calado, taciturno. A fascinante história de vida da primeira enternecerá o segundo, o que culminará num desfecho previsível e positivamente emocionante. O tipo de catarse lacrimal esperada em tramas como essa, com pitadas benfazejas de empoderamento feminino temporão. 

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Une Belle Course, 2022. Direção: Christian Carion. Roteiro: Christian CarionCyril Gely. Elenco: Line Renaud, Dany Boon, Alice Isaaz, Jérémie Laheurte, Gwendoline Hamon, Julie Delarme, Thomas Alden, Hadriel Roure. Gênero: Drama. Nacionalidade: França. Direção de Fotografia: Pierre Cottereau. Desenho de Produção: Chloé Cambournac. Trilha Sonora: Philippe Rombi. Montagem: Loïc Lallemand. Figurino: Agnès Noden. Distribuição: Califórnia Filmes. Duração: 91 min.

Na adolescência, pouco após a II Guerra Mundial, Madeleine (então interpretada por Alice Isaaz) apaixona-se por um soldado norte-americano, mas ele volta para o seu país, três meses depois de um inesquecível idílio romântico. Tal situação aparece em ‘flashback’, à medida que a idosa Madeleine relata os eventos de sua juventude para o empedernido Charles. Pouco a pouco, ele se demonstrará muito interessado naquilo que ela tem para contar. Principalmente, depois que ela revela que foi presa… 

Criando sozinha o seu filho, Madeleine casa-se com um homem violento, Ray (Jérémie Lahuerte), numa década, a de 1950, em que as mulheres são judicialmente subjugadas aos seus maridos. Ray a espanca freqüentemente, mas ela suporta a violência relacional, pelo bem de seu filho, a quem Ray tacha de “bastardo”. Quando o garoto pergunta à mãe o que quer dizer esta palavra, Madeleine constata a toxicidade de sua relação. Como ela terminou solteira, na velhice? Ainda há muito a ser contado… 

Créditos: Une Hirondelle Productions, Pathé e TF1 Films Production
A co-produção franco-belga ''Conduzindo Madeleine'' chegou a ser indicada a prêmios em festivais no Japão e em Beijing.

A intervenção protetoral de Madeleine, quando Charles é interrogado por policiais, faz com que ele se sinta irreversivelmente próximo a ela. Comem juntos, passeiam por lugares que ela visitara na juventude, compartilham experiências e lembranças. Uma amizade sincera é construída, num filme que se parece com tantos outros, mas que também possui um charme discreto e singular. Não há sobressaltos na direção ou nos demais elementos técnicos do filme, exceto pelas interpretações dos dois atores principais, que são ótimas. É um filme que, em sua simplicidade, nos comove. Como não se apaixonar pela força de Madeleine? 

Em determinado momento, sabemos que ela está indo para um asilo, onde ficará internada, visto que mão possui nenhum parente vivo. O espectador começa a imaginar como será o desenlace dessa viagem, sendo que, muitas vezes, acompanhamos a contagem do taxímetro no automóvel de Charles. Teria ele coragem de cobrar à adorável velhinha a alta conta associada à corrida? Será que eles possuem algum parentesco? Charles compreenderá a relevância das viagens e das lembranças, conforme insiste Madeleine, em seus conselhos benevolentes? São perguntas um tanto óbvias, mas que funcionam bem na cadência leve e discreta desta narrativa entremeada pela carência afetiva, afinal solucionada pela graça fortuita de um encontro. São noventa minutos de duração que compensam a entrega espectatorial: uma fofura de filme! Sem arroubos autorais, mas terno naquilo que propõe, em meio às variegadas convenções do gênero dramático. Vale o preço da corrida! 

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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