O cinema do diretor finlandês Renny Harlin não é unanimidade. Responsável por pérolas divertidas e descompromissadas como ‘Duro de Matar 2’, ‘Risco Total’ e ‘A Ilha da Garganta Cortada’, além das farofas queridinhas de fãs do Horror ‘A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos’ e ‘Do Fundo do Mar’, também é conhecido por atrocidades universalmente odiadas como ‘O Exorcista: O Início’ e ‘Hércules’ (aquele lá com o Kellan Lutz). Harlin foi escolhido para dirigir a trilogia ‘Os Estranhos’ e seu estilo de direção neste 1º capítulo se mostra competente dentro do esperado. Porém uma falha fatal desta reimaginação do filme de 2008 é não conseguir reproduzir a atmosfera de tensão e crueza que o original trouxe. Tudo soa meio calculado e “limpo” demais, em contraste com a estética mais sóbria do filme de Bryan Bertino que iniciou a franquia. Os maiores problemas de ‘Os Estranhos: Capítulo 1’, contudo, se encontram nas escolhas um tanto quanto duvidosas de seu roteiro. A trama substitui o drama conjugal do filme original por um festival de chavões do horror que meio que infantilizam a obra. Signos óbvios do gênero e clichês baratos são usados sem o menor pudor: crianças bizarras, bombinhas de asma perdidas, personagens misteriosamente decidindo tomar banho em momentos de tensão ou subindo as escadas durante uma perseguição (ao invés de tentarem fugir pela porta da frente). Além disso, mudanças do enredo, talvez para se diferenciar do original, acabam por diminuir (ou tirar completamente) o impacto e crueldade do que é visto no filme de 2008. E as atuações de seu casal de protagonistas não exatamente garante muito mais nuances ao longa, ainda que Madelaine Petsch faça o melhor que pode com a pouca complexidade que é oferecida a sua personagem.
Título Original e Ano: The Stranger, Chapter 1, 2024. Direção: Renny Harlin. Roteiro: Alan R. Cohen e Alan Fredland - baseado nos personagens criados por Bryan Bertino. Elenco: Jeff Morell, Matus Lajcak, Olivia Kreutzova, Letizia Fabbri, Madelaine Petsch, Froy Gutierrez, Ben Cartwright, Stevee Davies, Richard Brake, Janis Ahern, Pedro Leandro, Ema Horvath. Gênero: Terror. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Justine Caine Burnett. Fotografia: José David Montero. Figurino: Adina Bucur. Edição: Michelle Harrison. Design de Produção: Adrian Curelea. Direção de Arte: Ghinea Diana e Silvia Nancu. Empresas Produtoras: Fifth Element Productions e Frame Film. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h31min.
Ainda assim, ‘Os Estranhos: Capítulo 1’ pode oferecer sustos e boas doses de tensão para o público eventual que assista o longa-metragem sem a referência do filme original. A intenção inicial da Lionsgate parece ser introduzir a história para um novo público e dar continuidade direta a ela nos capítulos 2 e 3. Desta forma, em teoria, fãs do original poderiam simplesmente considerar esta 1ª parte uma mera recapitulação do que já conhecem, para retornar ao cinema e testemunhar a continuação inédita de uma história tão familiar.
Com três filmes gravados simultaneamente em menos de dois meses, é óbvia a confiança da equipe no projeto. E com certeza a curiosidade do público, frente ao baixo orçamento dos filmes, vai garantir uma boa bilheteria. Mas as interrogações que ficam é de que ‘Os Estranhos: Capítulo 1’ não são apenas referentes aos rumos da trama ou o desempenho comercial da trilogia. Dizem respeito também à tentativa de reproduzir sentimentos tão viscerais e espontâneos do público que surgiram num contexto e numa escala distintas. O ‘Os Estranhos’ original encapsula medos muito humanos e sinceros da paranoia e incerteza dos Estados Unidos pós-11 de setembro. Num mundo cada vez mais irônico e sombrio, este remake prematuro que reflete mais um plano empresarial numa planilha do que necessariamente a necessidade de se contar uma história dilui os princípios do que era perfeita síntese do subgênero de invasão domiciliar.
Não existe ao certo uma explicação narrativa para as atitudes brutais das pessoas mascaradas que perseguem o casal de protagonistas. Mas aqui a premissa se perde um pouco, uma vez que existe uma explicação mercadológica e agressiva por trás de tais atos: estratégia corporativa.
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