quinta-feira, 2 de maio de 2024

Verissimo, Ângelo Defanti | Assista nos Cinemas


“Se me escolherem como candidato a algo, eu desisto antes; se eu for eleito, a Lúcia governa em meu lugar”! 

Quem já teve a oportunidade de ler “Ed Mort e Outras Histórias” (publicado inicialmente em 1979), “O Analista de Bagé” (1981), “Sexo na Cabeça” (1982), “Comédias da Vida Privada” (1994) e “As Mentiras que os Homens Contam” (2000), entre tantos outros títulos, reconhece o octogenário Luis Fenando Verissimo como um dos mais engraçados autores brasileiros. Inteligente e irreverente, ele é também muito tímido em sua vida privada, sendo a sua introspecção destacada em várias de suas biografias. É o que acontece aqui, mais uma vez! 

Diferentemente do que foi feito no documentário “Luis Fernando Verissimo – O Filme” (2023, de Luzimar Stricher), este novo longa metragem sobre ele não possui depoimentos de terceiros nem faz um inventário cronológico acerca de sua carreira. O cineasta fluminense Ângelo Defanti, que já adaptara o autor – muito bem, por sinal – em “O Clube dos Anjos” (2020 – resenhado aqui), prefere uma abordagem mais intimista, quase camerística, respeitando a tendência do escritor ao recolhimento doméstico. 


Filmado em setembro de 2016, quando se comemorava justamente os oitenta anos do biografado, o diretor utiliza este ponto de partida celebratório para permear a sua narrativa documental: acompanhamos o cotidiano do escritor das duas semanas anteriores à data do seu aniversário até o dia seguinte à festa, quando ele retorna às suas atividades habituais. E conhecemos bastante sobre a sua rotina…


Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Veríssimo, 2024. Direção: Angelo Defanti. ParticipaçõesFamília Verissimo - Luis Fernando, Lucia Helena, Clarissa, Fernanda, Mariana, Pedro, Lucinda, Davi, Andrew, Ricardo, Mafalda (in memoriam) e Erico (in memoriam). Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Angelo Defanti e Bruno Polidoro. Montagem: Eduardo Aquino. Desenho e Edição de Som: Felippe Mussel. Mixagem: Bernardo Adeodato. Coordenação Executiva: Veronika Berg. Produtor Associado: Daniel Ribeiro. Produção Executiva: Bárbara Defanti e Diana Almeida. Produzido por: Bárbara Defanti, Diana Almeida, Angelo Defanti. Empresas Produtoras: Sobretudo Produções, Lacuna Filmes, Canal Brasil. Distribuidora: Boulevard Filmes. Co-distribuição: Vitrine Filmes e SP Cine. Duração: 90min.

Muitíssimo bem casado, há mais de sessenta anos, com Lucia Verissimo (nascida Lúcia Helena Massa), o casal reside em Porto Alegre e é continuamente visitado por seus filhos e netos. No filme, vemo-lo digitando algumas de suas crônicas contemporâneas, além de realizar exercícios de fisioterapia e brincar com as crianças. Sons de relógios, campainhas e telefonemas são freqüentes. Mas Luis Fernando fala pouco: gosta de assistir aos jogos de futebol de seu time do coração, o Internacional, que não estava numa boa fase na época em que o filme foi gravado. Quando o time faz um gol, ele comemora de maneira discreta, quase como se estivesse sussurrando. 


Filho do célebre romancista gaúcho Érico Veríssimo [1905-1975], Luis Fernando constata que está prestes a ficar dez anos mais velho que ele. Sempre simpático, apesar de sua extrema discrição, ele aceita diversos convites interestaduais, por conta do lançamento de uma nova obra, de caráter infantil, “As Gêmeas de Moscou” (2016). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, ele participa de inúmeras entrevistas, e, quando lhe perguntam “como é completar oitenta anos de idade?”, ele sempre responde da mesma maneira: “a gente se distrai e, de repente, estamos com oitenta anos”! 


Créditos: Boulevard Filmes, Vitrine Filmes e SP Cine
O filme esteve na seleção de competição da 29° Edição do Festival "É Tudo Verdade" este ano e chega agora aos cinemas de Aracaju, Belo Horizonte, Brasilia, Caxias do Sul, Cruz Alta, Cuiabá, Fortaleza, Niteroi, Poços de Caldas, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo


Espirituoso, Luis Fernando Verissimo demonstra que as tiradas chistosas de seus personagens são aproveitadas no seu dia a dia. Vide o instante em que, ao ser questionado sobre qual livro ele levaria para uma ilha deserta, ele dispara: “um livro sobre como construir uma canoa para sair dali”. Um gênio, indubitavelmente, mas que não é efetivamente apresentado, neste filme, para quem não o conhece – caso ainda haja alguém nesta situação: ele não compartilha muitos causos, não fala sobre o período em que foi músico de jazz, não lista as suas obras. Ele é apenas ele mesmo, diante da câmera, movimentando-se com dificuldade, por causa do envelhecimento. O que não deixa de ser uma proposta arriscada, por parte do diretor. 


Terminada a sessão, mui reverente, fica-se com a sensação de que falta algo, de que o escritor não foi suficientemente explorado, quanto à multiplicidade de interesses despertados. Já que a abordagem é datada (setembro de 2016, conforme mencionado acima), este recorte temporal – ainda que justificado pelo importante aniversário do autor – soa contingente, por mais que se cantem parabéns, muitas vezes, ao longo dos noventa minutos de duração. É sobremaneira válido assistir às sutis movimentações do escritor, feliz e merecidamente homenageado em vida, mas, enquanto filme, não acrescenta muito ao que já foi realizado sobre ele. Algo foi modificado no projeto original, talvez? Da maneira como ficou, decepciona quem alimenta expectativas a partir da menção sobrenominal titular… 


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