Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou, de Joanna Arnow


Ann (Joanna Arnow) tem quase quarenta anos. Vive em um apartamento pequeno e sem personalidade, é o que dá para pagar. Não tem uma boa relação com os pais. Por mais que haja afeto envolvido entre ela e os progenitores, a comunicação passivo-agressiva domina a relação. Seus únicos amigos pouco têm a ver com ela. Seus afetos sexuais não têm real interesse em partilhar uma vida com ela. Gasta seus dias em um trabalho entediante que não a valoriza. Pelo contrário, dá provas constantes de que quer que ela se torne obsoleta. Não parece haver muito motivo pelo qual continuar. Ainda assim, Ann vive dia após dia a mesma rotina desprovida de emoções. A única fonte de algum prazer parece ser o sexo casual.


O título cai como uma luva. Dada essa situação, a sensação é a de impotência, de que realmente não há mais tempo para consertar essa existência. Não só para Ann. A expectativa é a de que o espectador se identifique com o sentimento. Pelo menos em determinado recorte geracional. O fato de que a diretora desta pérola indie seja também a intérprete da protagonista acrescenta um toque a mais de autenticidade à história.


Praticante ativa de BDSM na posição de submissa, Ann tem suas aventuras sexuais retratadas em tela com quatro parceiros diferentes ao longo da película. Parte da beleza da obra está em como a prática é retratada com honestidade, diferentemente da maioria de suas representações, que descambam ou para a caricatura ou para o male gaze. Neste filme, vemos Ann praticando ações degradantes sob lentes que não aumentam nem diminuem a crueza do que acontece e vemos também as conversas claras e expositivas que ela tem com seus companheiros, desnudando para o público geral que o BDSM é construído em cima de muito diálogo e compreensão.


Crédito de Imagens: Divulgação / Synapse Distribution / Magnetic Labs, Ravenser Odd e Nice Dissolve

''Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou,'' é escrito, dirigido, estrelado e editado por  Joanna Arnow

Quando Cris é adicionado à trama, parece por um momento que a narrativa vai se trair e mostrar o quanto a submissão de Ann na verdade era falta de amor próprio ou de alguém para amá-la, que o filme vai enveredar pelo caminho da defesa do amor romântico tradicional. Nada disso. Depois dos primeiros encontros do casal apaixonado, a vida real suplanta o arrebatamento e tudo volta aos seus trilhos.


Por incrível que possa parecer, dada essa descrição, o filme é uma comédia. Uma comédia não usual, é claro, aquela que provoca constrangimento e identificação ao invés de gargalhadas estrondosas. A expressão impassível das personagens frente a situações absurdas dá o tom. A divisão em capítulos, à primeira vista sem muito motivo, ajuda a criar a sensação de rotina, de passagem de tempo e de fases da vida.


Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: The Feeling That the Time for Doing Someting Has Passed, 2023. Direção e Roteiro: Joanna Arnow. Elenco: Scott Cohen,  Babak Tifti, Joanna Arnow, Michael Cyril Creighton, Alysia Reiner, Peter Vack, Parish Bradley, Rushi Birudala. Gênero: Comédia. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Robinson Senpauroca. Fotografia: Barton Cortright. Edição: Joanna Arnow. Design de Produção: Grace Sloan. Direção de Arte: Tommy Mitchell. Figurino: Nell Simon. Empresas Produtoras: Magnetic Labs, Ravenser Odd e Nice Dissolve. Distribuição: Synapse Distribution. Duração: 01h27min.
Com distribuição pela Synapse no Brasil, Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou é o primeiro filme de Joanna Arnow com estreia no país e deixa gostinho de quero mais. O longa chega primeiramente as telas de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife e deve ganhar outros Estados em Breve.

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Escrito por Luana Rosa

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