A Música Natureza de Léa Freire, Lucas Weglinski | Assista nos Cinemas

 

O documentário é um tipo de filme que se propõe a realizar um recorte do que que convenciona chamar de realidade. Obviamente que essa realidade pode ter várias nuances e nem mesmo ser factualmente crível, mas cabe ao diretor dar a essa peça da sétima arte essa noção realística, de quase jornal. Essa amplitude subjetiva dá a essa objetividade milhares de possibilidades, podendo gerar verdadeiras obras-primas ou malogros risíveis.
A Música Natureza de Léa Freire é um desses êxitos absolutos na arte documentarista. O seu recorte de realidade é a trajetória pessoal da musicista paulistana Léa Freire, desde sua infância na década de 50 até a atualidade. Uma compositora jazzística, imprescindível aos olhos do mundo, e praticamente desconhecida no Brasil, sua vida é uma inspiração e um exemplo claro de como a música brasileira é fantástica, rica em diversidade, ritmo, melodia e o que mais se imaginar.
 Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: A Natureza da Música de Léa Freira, 2022. Direção e roteiro: Lucas Weglinski. Protagonistas: Léa Freire, Alaíde Costa, Amilton Godoy, Silvia Góes, Filó Machado, Arismar do Espírito Santo, Joana Queiroz, Erika Ribeiro, Tatiana Parra, Jane Lenoir, Keith Underwood. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Edição: Joaquim Castro e Lucas Weglinski. Fotografia: Louise Botkay, Joaquim Castro e Lucas Weglinski. Produtores: Carolina Kotscho e Clara Ramos. Produção Executiva: Heloisa Jinzenji, Fernando Nogueira e Lucas Weglinski. Empresa Produtora: Agalma Produções. Distribuição: Descoloniza Filmes. Duração: 99 min.
 
Diretor e roteirista, Lucas Weglinski metamorfoseia essa vida em um verdadeiro estudo de gênero, raça e desigualdade no país. Essa riqueza temática é solidamente construída por um roteiro engenhoso que mescla imagens de arquivo, depoimentos da Léa e as peças musicais que ela compôs. A natureza do título é belamente exemplificada na música maravilhosa que ecoa por todo o filme, numa interpretação jazzística de todo nosso histórico musical, com espaço para muito improviso e inspirada por nossa natureza tropical exuberante e seus sons.
Os parceiros musicais também dão suas impressões e aí vemos um desfile de grandes figuras da música brasileira instrumental que, infelizmente, são desconhecidas do grande público, mas que demonstram com seus sons serem de grande qualidade, amados e reverenciados no mundo todo. Léa Freire, com seu selo musical próprio, até que tenta iluminar essa ignorância do nosso público interno, mas é uma tarefa ingrata. A falta de incentivo à arte e à educação contamina essa tentativa de trazer conhecimento. As falas e ações da Léa, porém, dão grande esperança de que isso um dia mudará. Sua atuação em projetos sociais é uma calorosa inspiração em várias cenas do documentário, um lembrete de que esforço constante pode alterar esta realidade.
 
Créditos de Imagêns: Descoloniza Filmes / Divulgação 
A produção venceu prêmio no LABRFF de ''Melhor Documentário''
Lucas Weglinski foi o responsável também pelo documentário Máquina do Desejo – 60 Anos do Teatro Oficina (2021). Sua revisitação à grande arte paulistana revela ao público o quanto a metrópole de São Paulo também é rica em sua arte e sua procura pelo belo. Seu recorte desta realidade urbana, às vezes difícil e estressante, é mostrar que é possível extrair luz do aspecto cinza da cidade. Os sons urbanos que Léa extrai da Paulicéia desvairada e transforma em música natureza são um grande exemplo disto.
A montagem do filme, com sua alternância entre depoimentos, imagens de arquivo, apresentações musicais, dão um toque jazzístico ao filme: aquele improviso que de gratuito não tem nada, amplamente pensado para dar um ritmo ao filme. A equipe técnica que criou essa música cinematográfica interna está de parabéns, casa perfeitamente com o tema musical abordado. Léa Freire está viva e produtiva, logo, o filme não acaba com o término da exibição, pode-se acompanhar os desdobramentos de suas cenas nos jornais diários. Sua obra é motivo de orgulho para nós, seus contemporâneos. No nível de Tom Jobim, Pixinguinha e outros, é um diamante que mesmo, ainda desconhecido, brilha muito, enchendo de beleza e luz os cantos mais escuros da realidade.   
Nota: 9/10.
HOJE NOS CINEMAS 

Escrito por Marcelino Nobrega

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1 comments:

Pseudokane3 disse...

Não tem como não querer ver o filme é conhecer mais sobre a artista, depois de um texto tão empolgado. Uau!

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