Após quase 30 anos de espera por uma sequência de Twister, um clássico absoluto imortalizado por suas incontáveis exibições na TV e por seu sucesso de vendas e aluguel em DVD (tendo sido o 1º filme lançado no formato), Twisters chega aos cinemas com uma escolha mercadologicamente segura, mas criativamente arriscada. Não se trata de uma sequência direta do filme dirigido por Jan de Bont em 1996. A proposta é pegar emprestados elementos familiares aplicá-los numa outra configuração, para atingir um novo público. Não há participação de ninguém do elenco original para “passar o bastão” para uma nova geração. Não há sequer menção aos personagens de Helen Hunt e Bill Paxton, casal de protagonistas do primeiro filme! E este talvez seja o maior desafio que esta nova aventura precisa enfrentar: conquistar a parcela do público que ama o clássico original sem trazer de volta nenhum dos rostos responsáveis por terem tornado ele tão memorável. Ao mesmo tempo, esta desvinculação acaba por ser um dos pontos fortes da super produção, uma vez que o filme pode alcançar mais pessoas sem a necessidade de um conhecimento prévio. Ao optar por ser uma sequência isolada, o blockbuster de Lee Isaac Chung evita a obrigação de precisar agradar plateias pela nostalgia. A iniciativa se propõe a ser algo novo e é muito bem-sucedida nisso.
Os dias de caçadora de tornados de Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones) ficaram para trás. Após uma traumática experiência de campo que custou as vidas de integrantes de sua equipe, a pesquisadora trocou a adrenalina e a correria pela segurança de um centro de monitoramento climático. É então que surge Javi (Anthony Ramos), outro sobrevivente do episódio que tanto assombra Kate, com um convite para voltar à ativa. Inicialmente relutante, Kate é convencida pela possibilidade de testar uma nova tecnologia de mapeamento de tornados que poderia ajudar a salvar vidas. Os ventos atraem também o badalado e adoravelmente insuportável Tyler Owens (Glen Powell), influencer que transmite ao vivo na Internet as imprudentes estripulias que apronta com sua equipe seguindo tornados pelos Estados Unidos. Conforme a disputa entre os dois times se intensifica e interesses ocultos fragilizam alianças, tempestades inesperadamente violentas ameaçam tudo e todos que estiverem em seu caminho.
Com seu elenco jovem, bonito e reluzente, o filme mistura aventura com desastre e doses de comédia romântica. É invertida a dinâmica dos protagonistas do filme de Jan de Bont: ao invés de um casal divorciado que descobre que ainda se ama, temos aqui um flerte espinhoso entre os personagens de Edgar-Jones e Powell até perceberem que têm muito em comum. Junto com o personagem de Anthony Ramos, são os únicos que realmente possuem uma personalidade com alguma profundidade dentro da trama. Os demais estão lá apenas a serviço da narrativa, oferecendo funções bem-definidas como alívio cômico, pessoa leiga que dá deixa para falas expositivas, antagonista, etc. Não que o roteiro de Mark L. Smith exija muito mais do que isso deles. Durante boa parte do tempo, a função dos personagens é simplesmente explicar para o público de forma bastante expositiva e didática o que está acontecendo. A falação científica, com termos meteorológicos pomposos e cheios de sílabas, é tão efetiva que consegue trazer alguma credibilidade quando a trama acaba por seguir rumos que descambam para a ficção científica especulativa. Ainda que boa parte das teorias e soluções apresentadas pelos personagens não tenha o menor cabimento ou fundamento científico, convenhamos que nada disso importa. O real protagonismo de Twisters fica reservado a seu espetáculo de efeitos visuais.
Crédito de Imagens: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures; Warner Bros. Pictures & Amblin Entertainment
Assim como o filme de 1996, o longa foi rodado no Oklahoma, nos Estados Unidos
As quase três décadas que separam ambos os filmes deixam explícito o quanto a tecnologia de criação de imagens digitais evoluiu. Mesmo os efeitos competentes do período pós-Jurassic Park soam limitados e modestos frente ao espetáculo grandioso que Twisters oferece ao público. A escala de desastre impressiona por seu realismo e sua excelente integração com cenários e elementos práticos reais. Os efeitos visuais e a direção de arte competente fazem valer cada centavo dos 200 milhões de dólares investidos no longa.
Twisters tenta até mesmo flertar (mesmo que bem de leve) com temas considerados políticos, como a ação antiética de seguradoras que usam coleta de dados para lucrar em cima da tragédia alheia ou mesmo a crise climática. Neste último campo, a diferença de tom em relação do filme de 1996 fica clara pela mudança de perspectiva dos protagonistas em relação aos tornados. Enquanto os caubóis da meteorologia de Twister perseguiam tornados para estudar seu comportamento, a fim de prevê-los com mais eficácia e antecipar tragédias naturais, as metas científicas da Kate de Daisy Edgar-Jones vão mais além. Ela almeja salvar vidas também encontrando meios de diminuir ou mesmo neutralizar a força destrutiva dos tornados. Sem se aprofundar ou apontar dedos, o longa infere que fenômenos climáticos extremos vêm se tornando cada vez mais frequentes e que as tempestades testemunhadas pelos protagonistas têm ligação com uma cadeia muito maior de fatores. É bastante sintomático e tragicômico que as soluções encontradas pela ficção para lidar com os problemas ambientais beirem o fantasioso, uma vez que medidas muito mais simples e acessíveis nunca seriam colocadas em prática.
Trailer
Título Original e Ano: Twisters, 2024. Direção: Lee Isaac Chung. Roteiro: Mark L. Smith com argumentos de Joseph Kosinski — baseado nos personagens criados por Michael Crichton e Anne-Marie Martin. Elenco: Daysie Edgar-Jones, Glen Powell, Anthony Ramos, Brandon Perea, Maura Tieney, Harry Hadden-Paton, Sasha Lane, Kiernan Schipka, Nik Dodani. Gênero: Aventura, Thriller e Ação. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Benjamin Wallfisch. Fotografia: Dan Mindel. Edição: Terilyn A. Shropshire. Figurino: Eunice Jera Lee. Direção de Arte: Oana Bogdan Miller. Design de Produção: Patrick M. Sullivan Jr. Empresas Produtoras: Universal Pictures, Warner Bros, Amblin Entertainment, The Kennedy/Marshall Company, Lightnin’ Production Rentals. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 01h57min.
Agora é oficial: perseguir tornados está na moda no Cinema de novo. Só que numa nova roupagem. Enquanto Twister soava Rock and Roll, Twisters deixa claro seu espírito Country. Isso apenas sublinha sua intenção em ser diferente, único. Dito isso, não, Twisters não tem o mesmo carisma nem apelo emocional de seu irmão mais velho, nascido nos anos 1990. Mas consegue se desviar das inevitáveis comparações tirando o máximo de proveito do star power de Glen Powell e oferecendo entretenimento dos bons e efeitos visuais de encher os olhos.
HOJE NOS CINEMAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)