''O que você diria a sua filha se ela chegasse em casa e te contasse que o namorado bate nela?''
Violência doméstica não é um tema que se costumava abordar com frequência nas produções, mas com o progressismo das leis e a independência feminina ficando cada vez mais em alta, ao lado de problemáticas como o feminicídio, o tabu foi se quebrando, ou melhor, sendo amenizado e a sociedade foi se voltando para tais assuntos. O filme ''É Assim Que Acaba'', protagonizado por Blake Lively, Justin Baldoni e Brandon Sklenar, chega as telas de todo o mundo esta semana e evoca a temática dos relacionamentos abusivos a partir de violências domésticas que a personagem de Lively, Lily Bloom, sofre do marido. Com um tom de romance e um leve drama, o longa chega a ser menos impactante que o sensacional ''Nunca Mais'' com Jennifer Lopez [Michael Apted, 2002] e não apresenta a mesma força que o livro da autora norte-americana Colleen Hoover constrói nas páginas.
Justin Baldoni (A Cinco Passos de Você, 2019) assume não só a direção da película, mas vive também o charmoso neurocirurgião Ryle Kincaid, o médico sarado que começa encontrar a cheia de vida Lily Bloom por todos os cantos de Boston. A moça chega ao lugar com o sonho de ter a própria floricultura, mas esconde um passado familiar em sua terra natal que pouco gosta de lembrar. Contudo, seu pai falece e a moça precisa auxiliar a mãe com o funeral. Naquele momento, Lily trava e não consegue pronunciar muitas palavras sobre o morto. Isto se deve ao fator de que ela assistia o pai, Andrew (Kevin McKidd), abusar fisicamente e emocionalmente de sua mãe. O filme então vai buscar cenas de sua memória para que o presente faça sentido e o ''ciclo vicioso'' que o título original aborda ''It Ends With Us'' traz toda a força da história consigo - o título brasileiro é ótimo e também passa a ideia central da jornada de Lily de ''dar fim aos abusos'', todavia, o padrão de violência que a trama quer captar se torna mais cheia de significado com o título em inglês.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: It Ends With Us, 2024. Direção: Justin Baldoni. Roteiro: Christy Hall - adaptação do bestseller ''É Assim Que Acaba'' da autora Colleen Hoover. Elenco: Blake Lively, Justin Baldoni, Brandon Sklenar, Jenny Slate, Kevin McKidd, Amy Morton, Emily Bandony, Isabela Ferrer, Alex Neustdaedter. Gênero: Romance, Drama. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Duncan Blinkenstaff e Rob Simonsen. Fotografia: Barry Peterson. Edição: Oona Flaherty e Robb Sullivan. Design de Produção: Russell Barnes. Direção de Arte: Linn Gelert. Figurino: Eric Damann. Empresas Produtoras: Wayfarer Studios, Sony Pictures Television e Saks Pictures Company. Distribuidora: Sony Pictures Brasil. Duração: 02h10min.
Esse passado que Lily vai buscar nas memórias diz respeito a violência que presenciava em casa, ainda adolescente. E meio a tudo isso, belo dia, ela (Isabela Ferrer) vê de longe um jovem buscar alimento em lixos e se esconder em um prédio vazio próximo a sua casa. Junta então comida e leva para ele sorrateiramente sem que ele perceba. Na ida para escola, o garoto entra no mesmo ônibus que ela e aos poucos Lily se aproxima dele. Descobre que se chama Atlas (Alex Neustdaedter) e que ele foi expulso de casa pela mãe que prefere não o ter por perto quando está em um relacionamento. Lily e Atlas começam a passar bastante tempo juntos e nasce uma forte ligação entre eles que vai além da amizade e do companheirismo. Ela tem simpatia pela história do garoto e este percebe que as coisas na casa da menina também não vão bem. Um amor jovial e inocente cresce, mas é interrompido quando o pai de Lily descobre.
Ao mudar de cidade, correr atrás do seu sonho e, repensar o passado, Lily inicia um relacionamento com Ryle. O homem a principio só estava em busca de uma transa casual, afinal, não é de se abrir e muito esconde sobre quem é. Lily tem uma beleza doce e floral, assim como seu nome, e ao tentar viver seu presente atrai algo do passado que não tinha conhecimento, pois aos poucos o médico vai externando seu eu ''violento'' e causando danos físicos, e por consequência, emocionais a moça. De toda forma, ela não tem muita ideia do que acontece após alguma violência, mas com o tempo e as ações do amado, os ferimentos ganham destaque e exibem um relacionamento tóxico e perigoso. A irmã de Ryle, Allysa (Jenny Slate), é uma das amigas mais próximas de Lily em Boston. Inclusive, é responsável por ajudar a floricultura a sair do papel quando invade o lugar todo sujo e pede um emprego para a dona que ainda iniciava o projeto. Certo dia, Allysa, Ryle, Lily e Marshall (Hasan Minhaj), marido de Allysa, vão a um bar gourmet nas redondezas e um dos garçons os atende com extrema gentileza. Lily então visualiza o que viveu e reconhece Atlas no homem. Acaba desconversando durante o jantar e foge uns minutinhos para tentar por o papo em dia. Atlas a falou sobre o sonho de ir para Boston e também de se alistar na Marinha. E fez tudo isso. Dentro de minutos trocam contatos e parecem felizes em se ver. E Lily deixa óbvio que ela está na cidade por conta das palavras dele de que ali a magia fazia tudo melhor. Mas ela está com Ryle agora e Atlas também parece estar em um compromisso com outra mulher, ou ao menos diz estar. Ainda assim, os dois ficam encantados com o reencontro e uma esperança bonita surge para o futuro (talvez?!).
Crédito de Imagens: ©2024 SONY PICTURES DIGITAL PRODUCTIONS, INC. ALL RIGHTS RESERVED.
O livro apresenta uma Lily e um Ryle com menos idade e o filme corrige o erro, reconhecido pela própria autora. Afinal, ''um neurocirurgião renomado geralmente está quase na casa dos quarenta'' justifica Hoover.
A trama, apesar de ter um tema ultra forte a guiando, é leve e o contexto sexual também é ainda menor do que o que se vê na obra literária já que as imagens conseguem construir momentos com mais rapidez. O trio de protagonistas tem química para qualquer lado que se busque, a amiga da vez é daquelas maluquinhas e super fofas e também conquista. O elenco, aliás, abraça a diversidade, e vemos rostinhos que fogem do padrão ''branco'' sempre visto nas comédias românticas e dramáticas. A participação de Kevin McKidd, mais conhecido pelo perturbado Dr. Owen Hunt de Grey's Anatomy, é quase um easter egg para quem é fã de séries e, apesar de curtinha, tem seu valor. O figurino de cada um dos personagens é acertado com suas características e definições. Lily ganha muitas roupas floridas e coloridas ou em tom pastel que realçam seu cabelo ruivo e volumoso (Blake já era linda loura e ruiva ficou ainda mais mulherão e sua versão jovem, Isabela Ferrer também arrasa). Ryle é aprumado e requintado e tem o toque de galã necessário nas blusas de manga apertadas. Atlas, vivido na fase adulta por Brandon Sklenar, que estava na série do Paramount+ ''1923'', recebe um guarda-roupas mais simples, contudo cheio de charme com casacos e botas. Um dos cenários mais cheios de vida é a floricultura de Lily. A vemos nascer e se torna entoada de adereços antigos e amadeirados. Não esquecendo que o design todo da produção é repleto de bom gosto.
O roteiro de Christy Hall (Daddio, 2023) entrega uma construção previsível da trama com escolhas medianas para apresentar a vilania de Ryle e soluções rápidas para os conflitos. No entanto, como o enredo também tem uma continuação literária e esta prevê um recomeço com flores mais belas e resistentes, a certeza é de que Atlas e Lilly ainda terão mais tempo para ficar juntos e Ryle atrapalhar tudo com seus traumas e ciúmes também.
Crédito de Imagens: ©2024 SONY PICTURES DIGITAL PRODUCTIONS, INC. ALL RIGHTS RESERVED.
O ponto alto do filme é na certa a trilha sonora que sintetiza sentimentos com canções que ressoam em momentos específicos da trama. Birdy com ''Skinny Love'' e Taylor Swift com ''My Tears Ricochet'', por exemplo, aparecem em cena simbólicas como as que Lily faz amor com Atlas ou descobre estar grávida de Ryle. Uma versão folk de ''Everytime'', canção original da princesa do Pop, Britney Spears, aparece nos créditos finais declarando como é difícil se curar de amores tóxicos.
Lançado em 2016, o livro de Colleen Hoover não foi um sucesso imediato, mas chamou a atenção. Em 2018, foi publicado no Brasil, pela Galera Record, e traduzido também para outras tantas línguas ao redor do globo. Lá por 2019, a obra bateu o recorde de vendas de um milhão de cópias, mas foi com o TIKTOK, em 2022, que o livro virou sensação de resenhas e comentários, quando atingiu o bestseller do New York Times. Por fim, no ano seguinte se iniciavam as filmagens do longa. Que caso ganhe um bom público terá chance de ter mais tempo para que o espectador conheça o final feliz e florido de Lily e Atlas.
Avalição: Dois Lírios sem perfume (2/5).
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