O plano-sequência misterioso do início do aguardado ''Longlegs'', do diretor Osgood Robert Perkins (ou apenas "Oz" Perkins), estabelece bem o tom de terror investigativo, com elementos do sobrenatural, proposto pela trama. Nesse contexto, a produção acerta na escolha pelo formato reduzido de tela (impressão 16mm) - recurso, aliás, nada novo - pois se encaixa bem na proposta visual e estética do filme, claustrofóbica e memorialista, que conta a história centrada na busca da agente do FBI, Lee Harker, a um serial killer.
O longa de Oz Perkins constrói o mistério de forma crescente, pois Harker, bem interpretada por Maika Monroe, guarda características intuitivas/dedutivas com a propriedade de uma vidente nata. Assim, na medida em que a investigação avança, as pistas ficam mais pessoais e enigmáticas para a policial. Já o ator Nicholas Cage, talvez a aparição mais aguardada aqui, não ganha tanto tempo de tela, mas desenvolve um personagem claramente afetado pela loucura (meio palhaço, meio performer).
Não há como ignorar as semelhanças de Longlegs com filmes como o clássico dos anos 90, O Silêncio dos Inocentes (Jonthan Demme), ou mesmo com obras de David Fincher, especialmente Seven (1995) e Zodíaco (2007). No entanto, ao enfatizar bastante a atmosfera de perturbação e agonia que enclausura a protagonista, Longlegs se vincula a filmes como A Bruxa (Robert Eggers, 2016) ou ainda Invocação do Mal (James Wan, 2013). Certas sequências realmente enfatizam o sensorial, dando uma dimensão de "cerco fechado" à situação de Lee Harker.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Longlegs, 2024. Direção e Roteiro: Oz Perkins. Elenco principal: Nicolas Cage, Maika Monroe, Alicia Witts e Blair Underwood. Gênero: Terror. Nacionalidade: EUA e Canadá. Trilha Sonora Original: Elvis Perkins. Direção de Fotografia: Andres Arochi. Montagem: Graham Fortin e Greg Ng. Produção: Nicolas Cage, Dave Caplan, Dan Kagan e Brian Kavanaugh-Jones. Design de Produção: Danny Vermette. Direção de Arte: Brendan Megannety. Figurino: Mica Kayde. Empresas Produtoras: C2 Motion Picture Group, Cweature Features, Oddfellowes Entertainment, Range Media Partners, Saturn Films, Traffic., Waypoint Entertainment. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 101 min.
Embora seja possível identificar tais referências, Longlegs consegue se afirmar por uma curiosa abordagem estabelecida pelo viés do diretor, além de apresentar boas atuações (especialmente da protagonista Maika Monroe e realçar as particularidades de Nick Cage). Entretanto, a película não é tão bem resoluta em alguns aspectos e o plot twist acaba por esclarecer os rumos da trama e se apresentando como um facilitador excessivamente ilustrativo. Outras saídas para o mistério encontradas pelo filme, como o vínculo com o ocultismo ou a simbologia proposta, poderiam ser mais aprofundadas.
Para quem não se recorda, Oz Perkins é filho de Anthony Perkins, o ator reconhecido pela icônica e emblemática performance no clássico Psicose (1960), Obra-prima de Alfred Hitchcock, como Norman Bates. Seguindo o mesmo gênero cinematográfico em que atuou o pai, Oz Perkins fez diversos filmes de suspense e terror, dentre os quais é possível destacar, pela sua semelhança com Longlegs, A Enviada do Mal (em inglês February), de 2014. Posteriormente, em 2020, Oz Perkins iria realizar Maria e João: O Conto das Bruxas (2020), longa que gerou reações negativas de público e crítica.
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Rodado no Canadá, entre janeiro e fevereiro de 2023, a película é dedicada as mães de Perkins e Cage
Pode-se ressaltar que em Longlegs, o mistério é criado pela expressão enigmática de Maika Monroe, fator que acaba por levantar suspeitas sobre a sua proximidade com os crimes do filme. Interessante também é a sutileza com a qual a história, na maioria do tempo, é conduzida, fugindo ao excesso de ações de perseguições e jump scares baratos.
Entre os méritos do filme está, ainda, a participação de Nick Cage, com um papel apropriado para ele. O ator, que desde 2020 já esteve em mais de 10 produções, segue numa veia menos cômica e bem mais séria desta vez. Ademais, a qualidade do filme, mesmo com problemas, é sua efetividade em produzir desconforto e perturbação. Nem sempre é a história que se deve entender, apresentar explanações e respostas, mas cabe ao espectador tirar conclusões diante das sensações e emoções geradas pela obra.
Avaliação: Três charadas e meia (3.5/5)
HOJE NOS CINEMAS
Um comentário:
Observações muito pertinentes. Vi o filme ontem, e concordo com o olhar do Bruno. Mais um para a família! :)
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