sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Tipos de Gentileza, de Yorgos Lanthimos


Um Yorgos Lanthimos em seu estado mais alucinante e provocativo debuta nos cinemas esta semana em quase toda a América Latina (Argentina, Brasil, Peru, Venezuela e México) com o aguardado e ilustre ''Tipos de Gentileza''. O filme conta com performances de Emma Stone, Willem Dafoe, Jesse Plemons, Hong Chau, Margaret Qualley, Joe Alwyn, Ja'Quan Monroe-Henderson, Hunter Schafer, Merah Benoit e apresenta três atos totalmente distintos um dos outros e que se conectam pela presença de um único personagem, este vivido por Yorgos Stefanakos. O elenco, por sua vez, é o mesmo em todos os seguimentos, porém reaparecendo com novos enredos. As temáticas são as mais curiosas e inusitadas possíveis como canibalismo, relações matrimoniais, seitas religiosas, e etc. As cenas são pinceladas a momentos sexuais entre os personagens, justificando ainda mais a classificação recebida de ''obra para maiores de 18 anos''.

Indicado a cinco prêmios em festivais de cinema ao redor do mundo (Cannes Film Festival, Munich Film Festival, Sidney Film Festival, Cinefest - Miskolc International Film Festival e Brussels International Film Festival) e ganhador do prêmio de ''Melhor Ator'' para Jesse Plemons em um deles, o renomado Festival de Cannes, o roteiro tem assinatura de Lanthimos e seu parceiro de longa data Efthimis Filippou. Os dois trabalharam juntos também nos magistrais e profundos ''Dente Canino'' (2009), ''A Lagosta (2015) e ''O Sacrifício do Cervo Sagrado'' (2017) e aqui retornam com o mesmo sabor e tom único que a parceria apresentou no passado. 

O longa, que foi rodado quando o oscarizado ''Pobres Criaturas'' ainda estava sendo editado, é produzido pela Searchlight Pictures e também Element Pictures, FILM4 e TGM Entertainment. A distribuição fica por conta da 20th Century Studios / The Walt Disney Company. Emma Stone abrilhanta um filme de Lanthimos pela quarta vez e já está alinhada para o seu próximo longa, ''Bugonia''.

Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: Tipos de Gentileza, 2023. Direção: Yorgos Lanthimos. Roteiro: Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou. Elenco: Emma Stone, Willem Dafoe, Jesse Plemons, Yorgos Stefanakos, Hong Chau, Margaret Qualley, Joe Alwyn, Ja'Quan Monroe-Henderson, Hunter Schafer, Merah Benoit. Gênero: Comédia, Drama, Dark Comedy. Nacionalidade: Irlanda, Estados  Unidos da América, Rreino Unidoe Grécia. Trilha Sonora Original: Jerskin Fendrix. Fotografia: Caroline Champetier. Edição: Yorgos Mavropsaradis. Design de Produção: Anthony Gasparro. Direção de Arte: Chris Cornwell e Andrew Carnwath. Figurino: Jennifer Johnson. Empresa Produtora: Element Pictures, FILM4, Searchlight Pictures e TGM Entertainment. Distribuição: 20th Century Studios. Duração: 02h44min.  
A primeira parte da narrativa se inicia ao som do clássico ''Sweet Dreams (Are Made Of This)'', do duo britânico Eurythmics, como uma forma de encantamento para que o espectador se atente ao que vem por ai e tente perceber que está descendo as escadas de um universo de histórias que causará estranheza por serem um pouco absurdas. Assim, um assassinato é encomendado de patrão a subordinado e este último, Robert (Jesse Plemons) não necessariamente consegue seguir em frente com o pedido do poderoso Raymond (Willem Dafoe). Robert tem levado, aliás, uma vida regrada por comandos de Raymond. Desde a escolha da esposa, Sarah (Hong Chau), que o abandona quando descobre, até a necessidade de que o homem fale ao chefe o que come, onde vai, o que faz. Logo, a relação fica tumultuada quando solicitações não são cumpridas. Robert, contudo, sentindo o afastamento do chefe, dá seu jeito e consegue finalizar suas tarefas, pois ele não se vê sem a presença de Raymond em sua vida e tem uma ligação muito afetiva a este. O nome do homem que Raymond solicita o extermínio é R.F.M (Yorgos Stefanakos) e sua presença será percebida nos outros dois seguimentos. 

A segunda história diz respeito ao policial Daniel (Jesse Plemons agora sem bigode) e o desaparecimento de sua esposa Liz (Emma Stone), após um passeio para mergulhar. Os colegas de trabalho acreditam que ele talvez tenha esperança do retorno da mulher, mas que não seria bom continuar acreditando que ela está bem. Recebe Neil (Mamoudou Athie) e Martha (Margareth Qualley) para um jantar e cenas dos quatro em outros momentos vem a tona enquanto conversam sobre a mulher desaparecida. O grupo de amigos se conecta por uma intimidade sem igual e o momento entrega detalhes da relação que os quatro tem. No entanto, certo dia, do nada, Liz retorna ao lar deixando a todos menos infelizes, mas assustados por seu comportamento contraditório. Daniel até a questiona o que ela estava comendo enquanto estava perdida e a resposta vem rapidamente ''frutas, animais, peixe'', mas cenas emergem e deixam a entender de que talvez tenha sido algo a mais. Os conflitos surgem a partir desta chegada. Assistimos o comportamento de Daniel mudar bruscamente e fazer pedidos a esposa que ela atende sem qualquer racionalidade. O homem começa a se questionar então se realmente ela é a Liz que ele conhecia. Há muito contexto sexual, violência e até de canibalismo no recorte e tudo se finaliza com fantasia, deixando mais perguntas que respostas a quem assiste.

O terceiro arco narrativo gira em torno de uma seita moderna que está em busca de seu messias. Fala-se que este, ou melhor, esta seria uma jovem com poderes de cura e que teria nascido gêmea, mas a irmã não estaria mais viva. O lider da seita, Omi (Willem Dafoe), solicita que seus seguidores deixem suas famílias e vivam somente para o grupo. O que fica claro que é feito por Emily (Emma Stone) que abandona a filha pequena (Merah Benoit) e o marido Joseph (Joe Alwyn). Emily tem como parceiro Andrew (Jess Plemons) e os dois tem buscado de todas as formas encontrar esta líder religiosa. Todavia, o marido e a filha de Emily pedem a ela que venha jantar com eles, pois sentem sua falta e ela, mesmo contra a indicação do líder de não ter mais contato familiar, retorna a sua casa para passar alguns momentos com eles. A mulher acaba sendo levada inconsciente e a força para cama pelo marido, pois ele a droga. Ao acordar, Emily percebe o erro, mas já é tarde demais. Quando retorna a seita, é posta à prova se está ''contaminada'' e se poderá continuar vivendo em comunidade e infelizmente seu mundo desmorona. O ato é um dos maiores e que lida com temáticas religiosas, abusos dos mais diversos tipos, sexualidade e que delineia características profanas dos personagens. O longa chega aos créditos com R.M.F retornando a cena sentado em um fast food deixando mais duzentas mil perguntas na cabeça do público. 

                                        Crédito de Imagens: © 2024 Searchlight Pictures All Rights Reserved.
''Tipos de Gentileza'' é o filme mais longo de Yorgos Lanthimos, com duração de 2h44min.

O roteiro vem em contraposição aos últimos trabalhos em que Yorgos dirigiu como ''Pobres Criaturas'' e ''A Favorita''. Ainda assim, a estranheza, o choque e a maluquice que se evoca é algo muito conhecido de obras anteriores dele (Dente Canino ou até O Sacrifício do Cervo Sagrado). Há desabor, agonia, medo, horror, e muitos sentimentos que surgem a partir do absurdo que os atos apresentam. Para um público mais conservador, a criatividade que a trama busca passar não terá nenhum sentido, mas para o cinéfilo que é aberto a pensar e digerir com mais calma o filme, mesmo não sendo o melhor do diretor, será ainda um tempo muito rico e proveitoso.

É glorioso o trabalho do elenco quando este interpreta três ou mais personagens em cada ato. O que Yorgos expurga de cada um de seus colaboradores artísticos é sim de tirar o fôlego. Nos dois primeiros momentos principais do filme, Jesse Plemons talvez tenha mais importância em todos os cenários e sua atuação é espectacular. Quando no terceiro, Emma Stone toma a frente da narrativa e é maravilhosa, por sua vez. Os coadjuvantes como Willen Dafoe, Hong Chau, Mamoudie Athie e Margareth Qualley somam sempre que estão em cena e também conseguem se desvencilhar de personagens e vestir outros com facilidade. 

A trilha sonora é permeada de sons de piano em notas graves, ou que dão o tom para ambientes de classe alta. Também ouve-se aqui e ali sons de vozes femininas e masculinas, como um coral paralelo, sintetizando momentos de tensão. O figurino vai se adequando a cada quadro e enredo, cabelo e maquiagem vão se alternando e também se modificam. Os takes são emblemáticos por focarem em mãos e corpos e, muitas vezes, não evidenciar os rostos dos personagens. A fotografia brinca com a própria trama e intercala o colorido com o PB.

Avaliação: Três orgias cerebrais (3/5).

Em Exibição Nos Cinemas

Um comentário:

Pseudokane3 disse...

Muito boa a observação sobre o enfoque nos corpos. Pois o diretor - um antigo jogador de basquete - disse que o que mais o interessa é justamente a fisicalidade das situações. Também adorei a trilha musical!

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