quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Tuesday - O Último Abraço, de Dainas Oniunas-Pusic


 
A personificação da morte já ganhou inúmeras representações na telona. O mais comum, o de um esqueleto envolto por um manto preto, já ficou demodê e deu a vez para rostos atraentes e sarcásticos - masculinos ou femininos ou ainda figuras aladas angelicais. Em Tuesday - O Último Abraço, a entidade é representada por uma arara com cicatrizes e falhas na plumagem que consegue mudar seu tamanho conforme sua vontade e imitar a voz de qualquer ser vivo.

Em sua primeira direção de longa-metragem, Daina Oniunas-Pusic entrega um drama sobre o luto e o medo da perda com um invólucro fantástico e uma perspectiva positiva. Após uma sequência destinada a mostrar como a morte opera seu papel no dia-a-dia, a diretora nos apresenta a protagonista: uma garota de quinze anos que possui uma doença degenerativa.

Tuesday (Lola Petticrew) possui todos os estereótipos possíveis de alguém nessas condições. Além da pele pálida, cabelos curtos, olhos vermelhos, óculos enormes e aspecto franzino, sua personalidade consiste em ser madura demais para sua idade, tentar ajudar todos à sua volta com seu espírito empático e ser bem resolvida quanto à própria finitude. Em contrapartida, sua mãe (Julia Louis-Dreyfus) está em negação frente à visível piora da saúde da filha e evita contato com ela a ponto de contratar uma cuidadora e sair de casa todos os dias para um emprego que ela já não tem.


Trailer



Ficha Técnica

Título Original e Ano: Tuesday, 2023. Direção e Roteiro: Dainas Oniunas-Pusic. Elenco: Julia Louis-Dreyfus, Lola Petticrew, Leah Harvey, Arinzé Kene, Ellie James, Taru Devani, Jay Simpson, David Sibley, Nathan Amzi, Azalea Amzi, Justin Edwards. Gênero: Fantasia, Drama. Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Ana Meredith. Fotografia: Alexis Zabe. Design de Produção: Laura Ellis Cricks. Edição: Arttu Salmi. Figurino: Jo Thompson. Direção de Arte: Tom Coates e Daniel Draper. Empresas Produtoras: A24, BBC Films e British Film Institute, Wild Swim Films, Gingerbread Pictures. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h50min.


A parte interessante da trama surge quando a morte faz amizade com a garota cuja alma deveria levar e passa a tarde se divertindo em sua companhia, afinal, ela a ajudou a se limpar de uma sujeira de décadas e a se livrar de um ataque de pânico. Acontece que a morte não pode se afastar dos seus deveres por mais que cinco minutos. Por todo o mundo, as pessoas começam a sobreviver a facadas, tiros e overdoses, afinal, não tem ninguém para levar suas almas. O problema se agrava quando a mãe de Tuesday tenta se livrar do pássaro para que ele não leve sua filha embora e o que deveria ser uma tarde longe do dever mórbido e sagrado, tornam-se dois ou três dias.


É neste ponto que começam as incongruências do roteiro. Todos os que deveriam ter morrido nesse período apresentam uma terrível dor devido a seus ferimentos e falências múltiplas, chegando a suplicar pela morte, que seria preferível ante seu sofrimento. Contudo, isso não se aplica a Tuesday. A garota que a princípio partiria devido a uma parada cardiorrespiratória passa os dias seguintes brincando, rindo e fazendo graça, apresentando apenas uma respiração irregular aqui e ali. Além disso, a relação dela com a mãe, que até então tinha se mostrado conturbada e distante, passa por momentos que indicam uma rotina de piadas internas e pequenos rituais afetivos.


                                                                                Crédito de Imagens: A24 / Divulgação / Paris Filmes / Kevin Baker
A produção esteve na seleção do London Film Festival em 2023

Julia Louis-Dreyfus apresenta uma performance que é um dos pontos altos do filme. Mesmo que a personagem não seja assim tão bem escrita, sua atuação convence o espectador das dores e contradições daquela mulher. Já entre os pontos mais baixos, estão a qualidade inconsistente do CGI que compõe a arara-morte e o ritmo (principalmente do primeiro ato) que entrega a direção inexperiente.


Este definitivamente não é o primeiro filme fraco produzido pela A24. Mas após seu catálogo crescer tanto, não é de se admirar que apareçam obras menores de quando em vez. Faz parte. Significa que a produtora está crescendo e tendo a oportunidade de errar sem ter que fechar as portas.


HOJE NOS CINEMAS

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