Tuesday (Lola Petticrew) possui todos os estereótipos possíveis de alguém nessas condições. Além da pele pálida, cabelos curtos, olhos vermelhos, óculos enormes e aspecto franzino, sua personalidade consiste em ser madura demais para sua idade, tentar ajudar todos à sua volta com seu espírito empático e ser bem resolvida quanto à própria finitude. Em contrapartida, sua mãe (Julia Louis-Dreyfus) está em negação frente à visível piora da saúde da filha e evita contato com ela a ponto de contratar uma cuidadora e sair de casa todos os dias para um emprego que ela já não tem.
Título Original e Ano: Tuesday, 2023. Direção e Roteiro: Dainas Oniunas-Pusic. Elenco: Julia Louis-Dreyfus, Lola Petticrew, Leah Harvey, Arinzé Kene, Ellie James, Taru Devani, Jay Simpson, David Sibley, Nathan Amzi, Azalea Amzi, Justin Edwards. Gênero: Fantasia, Drama. Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Ana Meredith. Fotografia: Alexis Zabe. Design de Produção: Laura Ellis Cricks. Edição: Arttu Salmi. Figurino: Jo Thompson. Direção de Arte: Tom Coates e Daniel Draper. Empresas Produtoras: A24, BBC Films e British Film Institute, Wild Swim Films, Gingerbread Pictures. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h50min.
A parte interessante da trama surge quando a morte faz amizade com a garota cuja alma deveria levar e passa a tarde se divertindo em sua companhia, afinal, ela a ajudou a se limpar de uma sujeira de décadas e a se livrar de um ataque de pânico. Acontece que a morte não pode se afastar dos seus deveres por mais que cinco minutos. Por todo o mundo, as pessoas começam a sobreviver a facadas, tiros e overdoses, afinal, não tem ninguém para levar suas almas. O problema se agrava quando a mãe de Tuesday tenta se livrar do pássaro para que ele não leve sua filha embora e o que deveria ser uma tarde longe do dever mórbido e sagrado, tornam-se dois ou três dias.
É neste ponto que começam as incongruências do roteiro. Todos os que deveriam ter morrido nesse período apresentam uma terrível dor devido a seus ferimentos e falências múltiplas, chegando a suplicar pela morte, que seria preferível ante seu sofrimento. Contudo, isso não se aplica a Tuesday. A garota que a princípio partiria devido a uma parada cardiorrespiratória passa os dias seguintes brincando, rindo e fazendo graça, apresentando apenas uma respiração irregular aqui e ali. Além disso, a relação dela com a mãe, que até então tinha se mostrado conturbada e distante, passa por momentos que indicam uma rotina de piadas internas e pequenos rituais afetivos.
Julia Louis-Dreyfus apresenta uma performance que é um dos pontos altos do filme. Mesmo que a personagem não seja assim tão bem escrita, sua atuação convence o espectador das dores e contradições daquela mulher. Já entre os pontos mais baixos, estão a qualidade inconsistente do CGI que compõe a arara-morte e o ritmo (principalmente do primeiro ato) que entrega a direção inexperiente.
Este definitivamente não é o primeiro filme fraco produzido pela A24. Mas após seu catálogo crescer tanto, não é de se admirar que apareçam obras menores de quando em vez. Faz parte. Significa que a produtora está crescendo e tendo a oportunidade de errar sem ter que fechar as portas.
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