Após Chame a Bebel (2023), filme voltado para o público infanto-juvenil, o diretor e roteirista Paulo Nascimento volta sua atenção para a audiência adulta novamente com Ainda Somos Os Mesmos. A parceria de anos do diretor com Edson Celulari garante um papel para o ator como o rico empresário Fernando. Porém, a presença do famoso interprete de novelas globais é uma faca de dois gumes. Enquanto seu nome pode chamar atenção e atrair espectadores, a participação não ajuda o desenvolvimento do filme. Ainda mais quando ele leva na cabeça uma peruca que salta aos olhos pela falta de realismo e um ar de ''canastrão'' é o que se revela.
Peça chave na trama, Fernando é o pai do protagonista Gabriel (Lucas Zaffari) e o motivo pelo qual o rapaz sobrevive a duas ditaduras militares - a brasileira e a chilena. Com seu dinheiro e sua influência no governo, o homem mexe os pauzinhos para que o filho consiga sair do seu próprio país quando está sendo procurado e, depois, para que o jovem estudante de medicina consiga deixar o Chile logo após o golpe que depôs o presidente Salvador Allende, em 1973.
Entre flashbacks e cenas que mostram Fernando no Brasil, o enredo se dá principalmente dentro da embaixada da Argentina no Chile, onde centenas de brasileiros se refugiam do regime sanguinário. Estima-se que sejam quinhentos aqueles que se espremem no prédio em condições precárias, sem espaço para dormir, sem comida suficiente e sem remédios. Os pontos altos do filme se passam nessa locação, onde o diretor consegue segurar a tensão ao retratar algumas situações-limite, como um parto de risco que Gabriel tem que conduzir e uma negociação com os soldados, que pedem pela cabeça de um dos refugiados em troca da vida de todos os outros presentes.
Crédito de Imagens: Divulgação / Paris Filmes
A produção participou do Festival de Cinema Independente de Montreal e foi vencedora de ''Melhor Filme Independente'', em 2023.
Mesmo com esses destaques, a condução do longa-metragem é fraca. O roteiro por várias vezes usa soluções bobas para problemas sérios, que não conseguem alcançar a suspensão de descrença do espectador. Além disso, tenta retratar uma pessoa em processo de enlouquecimento (Clara, vivida por Carol Castro) de forma ultrapassada e estereotipada. A fotografia e trilha sonora trabalham aliadas à direção de forma piegas e novelesca, tentando forçar um sentimentalismo, como se a história já não fosse emocionante por si só.
O título, que referencia diretamente a música consagrada na voz de Elis Regina, é evocado não só pela temática da ditadura militar, mas também por traçar um paralelo ao final da película entre esta e a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. O tom otimista de vitória que é exibido em letreiros dizendo frases como “a democracia venceu” soa infantil, reducionista e pouco crítico. Mesmo após dez longas, Paulo Nascimento ainda não encontrou seu tom.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Ainda Somos Os Mesmos, de Paulo Nascimento. Direção, Roteiro e Produção: Paulo Nascimento. Elenco: Edson Celulari, Carol Castro, Lucas Zaffari, Nestor Guzzini, Nicola Siri, Carlos Falero, Rogério Beretta, Alvaro Rosacosta, Evandro Soldatelli, Pedro Garcia, Gabrielle Fleck, Jurema Reis, Juan Tellategui, Néstor Monasterio e Liane Venturella. Gênero: Drama histórico/Suspense Político. Nacionalidade: Brasil e Chile. Direção de Fotografia: Renato Falcão. Direção de Arte: Eduardo Antunes. Figurino: Carol Scortegagna. Trilha Musical: Sílvio Marques. Canção tema: “Como Nossos Pais” de Belchior interpretada por Thedy Correa. Montagem: Marcio Papel. Videografismo, Design e Efeitos Gráficos: Aline Bastos D’Ávila. Desenho de Som: Walther Nunes. Produtores Associados: Edson Celulari e Carol Castro. Produção Executiva: Marilaine Castro da Costa, Flavio Barboza. Direção de Produção: Mônica Catalane. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h30min.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS
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