Golpe de Sorte em Paris, de Woody Allen


Golpe de Sorte em Paris, novo longa-metragem escrito e dirigido por Woody Allen, é um acontecimento no mundo do cinema. Estreando em todo o país esta semana é o quinquagésimo filme deste grande diretor, assolado por suspeitas e processos criminais relacionados a sua vida íntima. Esta questão pessoal há décadas destrói sua imagem pessoal, mas o seu trabalho continua o mesmo, praticamente todo ano lançando uma obra. E este workaholic contumaz de oitenta e oito anos lança mais uma de suas misturas de comédia e drama divertidas, irônicas e com personagens extremamente bem construídas, um deleite para seus atores.
Dessa vez quem brilha com seus diálogos machadianos, irônicos e sarcásticos até dizer basta, são os franceses. Com palco em Paris, estrelado por atores nativos, o desnudamento dos europeus assemelha-se em muito a analise minuciosa dos americanos, feita pelo diretor premiado em grandes filmes da sua carreira. Entre neuroses e quiproquós diversos, grandes verdades são ditas em um roteiro charmoso, com uma fotografia deslumbrante e uma trilha sonora permeada por jazz.
Com tal fórmula repetitiva, Woody Allen, que para muitos é um ícone, dirigiu grandes obras-primas como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977); Manhattan (1979); Hannah e Suas Irmãs (1986); Meia-noite em Paris (2011) e  muitos outros. São quatro os Oscars na estante do diretor e sua carreira já lhe rendeu vários louros tanto em direção como em roteiro, sendo o ápice o filme estrelado por Diane Keaton e o próprio, a produção arrebatou os prêmios de Melhor Filme, Diretor, Atriz Principal e Roteiro Original na temporada de 1978.
Trailer

Ficha Técnica
Titulo Original e Ano: Coup de Chance, 2023. Direção e Roteiro: Woody Allen. Elenco: Lou de Laâge, Mevil Pouaud, Anna Laik, Niels Schneider, Yannick Choirat, Guillaume de Tonquédec, William Nadylam, Elsa Zylberstein, Arnaud Viard, Jeanne Bournaud. Gênero: Comédia. Nacionalidade: EUA, França e Reino Unido. Fotografia: Vittorio Storaro. Edição: Alisa Lepselter. Direção de Arte: Gilles Boillot. Figurino: Sonia Grande. Design de Produção: Véronique Melery. Empresas Produtoras: Gravier Producionts, Dippermouth e Perdido Productions. Distribuição: O2 Play Filmes. Duração: 01h33min
A marchand de arte Fanny (Lou de Laâge), casada com o ricaço Jean (Mevil Poupaud), encontra na rua um conhecido do tempo de escola Alain (Niels Schneider). Mesmo que não tenham sido amigos na juventude, em Nova York, Alain era apaixonado por Fanny e aproveita essa trombada fortuita para seduzi-la. Cansada de ser esposa troféu do Jean, a bela jovem embarca na aventura e entre encontros amorosos, cogita até mesmo abandonar o marido. Até que algo acontece com o sedutor e a mãe da mulher, a detetive amadora Marie (Anna Laik) começa a suspeitar do genro.
Em paralelo com a trama de adultério, uma teoria do escritor Alain é debatida no instigante roteiro. O rapaz acredita que a sorte é quem dita os destinos das pessoas. Desde aquele espermatozóide afortunado que, entre milhões, fecunda o óvulo até todos os fatos incríveis que possam ocorrer. Essa tese filosófica o seduz tanto que vai ser o tema do seu próximo livro, que escreve entre seus compromissos e os momentos românticos com Fanny no seu aconchegante apartamento parisiense. Esse leitmotiv, inclusive, vai gerar uma inusitada virada na trama.

Crédito de Imagem: Divulgação / O2 Play Filmes / Gravier Productions, Dippermouth, Perdido Productions
Este é o primeiro filme de Woody Allen inteiramente falado em outro idioma que não o inglês 

Um roteiro bem construído, cenários encantadores, fotografia cheia de requinte, um elenco comprometido, uma trilha deliciosa e que acerta por ditar bem o ritmo das cenas, Woody Allen não faz feio no seu último filme, ainda que apresente uma certa repetição temática de outros expoentes de seu passado magistral. Ademais, não se compara, porém, a suas obras primas, que mudaram a história da sétima arte, mas é sempre bom acompanhar sua trajetória e presenciar os milagres de um cinema bem feito, sempre competente e de bons resultados. Allen revelou em entrevista, recentemente, ''que ainda não fez sua obra de maior valor'', mas o público espera que o cineasta continue realizando bons filmes e quem sabe a sua genialidade possa nos entregar o melhor de seu trabalho.
Nota: 8/10.
19 de Setembro nos Cinemas

Escrito por Marcelino Nobrega

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