O cinema indiano de ação tem ganhado cada vez mais popularidade com o público. Com filmes carregados de cenas ambiciosamente bem-coreografadas cheias de pancadaria de qualidade, como o excelente épico de ação RRR (que levou até um Oscar de Melhor Canção Original em 2023), este filão conquistou espaço nos catálogos de serviços de streaming nos últimos anos. Hollywood não tardou a querer participar da onda. Farejando um potencial sucesso em bilheteria, a Lionsgate adquiriu os direitos de distribuição na América do Norte e no Reino Unido de ''Kill: O Massacre no Trem'', a promessa do momento. Tamanha é a expectativa com o longa, o estúdio já planeja um remake falado em Inglês co-produzido pela produtora Eightyseven North, responsável pela franquia John Wick. Agora chegou a vez do Brasil subir a bordo desta locomotiva.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Kill, 2023. Direção: Nikhil Nagesh Bhat. Roteiro: Nikhil Nagesh Bhat e Ayesha Syed. Elenco: Lakshya, Raghav Juya, Tanya Maniktal, Abhishek Chauha, Ashish Vidyarth, Pratap Verm, Harsh Chhay, Adrija Sinh, Meenal Kapoor, Mukesh Chandelia, Madhu Raj. Genero: Ação,Crime, Thriller. Nacionalidade: India. Trilha Sonora Original: Haroon-Gavi, Vikram Montrose e Shashwat Sachdev. Fotografia: Rafey Mehmood. Design de Produção: Mayur Sharm. Direção de Arte: Tushar Kapoor e Sabyasachi Misr. Figurino: Rohit Chaturvedi. Empresas Produtoras: Dharma Productions e Eightyseven North. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h45min.
O soldado Amrit (Lakshya) é mais do que um rostinho bonito: ele é um homem apaixonado. Ao descobrir que sua amada Tulika (Tanya Maniktala), filha de um poderoso magnata, foi prometida em casamento a outro homem, ele embarca num trem em direção a Nova Deli, no qual estão a bordo a moça e sua família, com intenção de impedir a união arranjada. Quando um grupo de ladrões liderados pelo violento Fani (Raghav Juyal) anuncia um assalto e torna os passageiros reféns, Amrit e seu amigo Viresh (Abhishek Chauhan) tomam à frente para interceder pela segurança das demais pessoas a bordo. Uma brutal guerra sobre trilhos se inicia, e ninguém está a salvo.
Kill: O Massacre no Trem se inicia com um tom leve e até engraçado apresentando uma história melodramática de amor impossível bastante familiar ao público ocidental. Os elementos da trama de ação são introduzidos aos poucos, enquanto a tensão se adensa e os riscos vão se tornando claros. Quando um evento definidor marca de forma nada sutil o fim do 1º ato, a agressividade animalesca do protagonista, vivido pelo ator Lakshya, é despertada e o subtítulo brasileiro, apesar de reducionista, deixa explícito que não poderia ser mais preciso.
Crédito de Imagens: © 2024 Lions Gate Entertainment INC / Dharma Productions e Eightyseven North
Inspirado numa experiência vivida pelo próprio diretor Nikhil Nagesh Bhat, Kill: O Massacre no Trem não foi batizado assim à toa: a porradaria come solta da forma mais gráfica e explicitamente violenta possível. Efeitos práticos competentes e ótimas coreografias combinadas a um design de som pra lá de responsável resultam em cenas dotadas de um senso de fisicalidade ímpar: cada soco, chute ou facada é sentido com todo seu impacto e impetuosidade. Conforme o confronto entre os personagens se desenrola entre os vagões do trem e a contagem de corpos aumenta vertiginosamente, a brutalidade do espetáculo sangrento visto em tela choca e hipnotiza na mesma proporção.
Protagonistas brucutus fazendo justiça com as próprias mãos não são novidade no Cinema. Há décadas Hollywood ganha rios de dinheiro com o arquétipo de vigilante cidadão-de-bem que opera na zona cinza onde a lei não alcança. Mas o que vemos em Kill acaba por ultrapassar a pancadaria recreativa indiferente habitual desse tipo de filme. Os atos de Amrit por vezes flertam com o sadismo e seus métodos são tão cruéis (ou até mais) do que os daqueles considerados vilões da história. Curiosamente, os bandidos que ameaçam as vidas dos passageiros a bordo do trem ganham nuances interessantes, uma vez que o filme se preocupa em apresentar o background social que os obriga a recorrerem à criminalidade e cometerem assaltos em bando ao lado de seus familiares. É palpável o pesar sentido por eles quando seus companheiros de bando são brutalmente assassinados com requintes de crueldade pelo mocinho, motivado pela vingança. Em dado momento, a figura mais próxima de um antagonista clássico, o canastrão Fani, provoca o mocinho sanguinário com uma acusação metafísica: “Você não é um protetor, é um monstro!”. Ainda que tal reflexão provavelmente vá passar batido pelo público-alvo da obra, é uma surpresa ver um filme de Ação ousar questionar, mesmo que tão timidamente, os métodos de seu protagonista. Não que o discurso geral do roteiro deixe de tratar de forma maniqueísta a barbárie perpetrada por seu mocinho. Mas existe espaço suficiente para reconhecer como estes ditos atos de heroísmo podem ser indigestos.
Abraçando a hiperviolência como escolha estética, força-motriz e filosofia, a produção impressiona por seu primor técnico e seu banho de sangue bem coreografado. A montagem ágil e trilha sonora pulsante tornam sua curta duração uma viagem de adrenalina, com respiros de impacto emocional seguidos de novas jornadas de pancadaria e punhaladas fatais. Um prato cheio para fãs do gênero de ação, com pitadas de subversão de expectativas e incontáveis litros de sangue.
HOJE NOS CINEMAS
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