MOSTRA BRASIL
Exibido nos Festivais de Berlin, Guadalajara, Rio e no Malaysia Golden Global Awards
“Aquilo piscando, lá na cozinha, é a internet?”
Nos créditos finais deste filme, há um letreiro entusiástico: “viva o Bumba Meu Boi do Maranhão!”. É a culminância de um percurso sobremaneira errático, mas de incontida paixão pela Unidade da Federação homenageada pelo diretor estreante em longas-metragens Marcelo Botta. Goste-se ou não de “Betânia” (2024), é mister admitir que a experiência de assistir a esta obra é sumamente peculiar, no sentido de que montagem e roteiro obedecem a uma cadência ímpar, de valorização dos elementos culturais dos lugares em que a trama foi filmada…
O título do filme possui dupla significação: é tanto o nome de um povoado no município de Santo Amaro do Maranhão quanto de uma sexagenária que realiza partos desde que tinha doze anos de idade. Interpretada por Diana Mattos, Betânia lamenta o falecimento de seu marido, “levado pelo sal”, como ela costuma dizer. Juntos, tiveram quatro filhos, sendo que a mais nova também é falecida. A despeito do que sofreu, Betânia valoriza a proximidade com seus entes familiares.
Construído através de vinhetas, que se organizam como um filme-painel, “Betânia” conta diversas estórias paralelas, em torno desta matriarca que, a princípio, relutava em morar na localidade homônima. Irritada pela proliferação de comidas industrializadas nos supermercados da região, Betânia tem a intenção de, nalgum momento, erigir o seu próprio restaurante. A mudança para a cidade de Santo Amaro do Maranhão será definitiva para a consecução de seus intentos.
Crédito de Imagens: © Salvatore Filmes
''Betânia'' recebeu 11 indicações a prêmios nos Festivais por quais passou (Berlim e Malaysia Golden Awards). No Festival do Rio, recebeu ''Menção Honrosa'' para a perfomance de Diana Mattos.
Uma das filhas de Betânia, Irineusa (Michelle Cabral) converteu-se radicalmente a uma igreja evangélica recém-chegada e, por conta disso, tornou-se bastante preconceituosa e proibitiva. Não permite que a sua filha Vitória (Nádia D’Cássia), que é lésbica e sonha em ser DJ de ‘reggae’, vista-se da maneira que quer e use o batom vermelho que ela tanto gosta. Mas Betânia, do jeito dela, também fará o possível para garantir o bem-estar de sua neta, torcendo para que ela consiga se destacar num ambiente que é extremamente machista, conforme atesta uma artista transexual (interpretada por Enme Paixão), de quem Vitória é fã. E é bastante interessante o modo como a trilha musical desta obra combina cantigas regionais com versões remixadas de canções como “Voyage, Voyage”, da francesa Desireless; “Chandelier”, de Sia; e “Summertime Sadness”, de Lana Del Rey, que é executada num instante no mínimo inusitado!
Enquanto senhoras idosas comentam a rudeza das características climáticas dos Lençóis Maranhenses, na cidade de Barreirinhas – em que as dunas mudam o curso dos rios e “onde há água durante a época chuvosa, crescem lagos floridos, durante a época seca” –, o genro de Betânia, Tonhão (Caçula Rodrigues), esforça-se para aprender inglês e francês e, assim consolidar as suas atividades enquanto guia turístico. Porém, num determinado passeio, acompanhado pelo casal estrangeiro Bernard (Tim Vidal) e Sofie (Anouk Mulard), ele perder-se-á em meio às dunas, carecendo da intervenção resgatadora de Antônio Filho (Ulysses Azevedo), neto querido de Betânia, e dos companheiros de profissão de seu pai.
Crédito de Imagens: © Salvatore Filmes
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Betânia, 2024. Direção: Marcelo Botta. Elenco: Diana Mattos, Tião Carvalho, Ulysses Azevedo, Nádia d'Cássia, Caçula Rodrigues, Michelle Cabral, Rosa Ewerton Jara, Vitão Santiago, Anouk Mulard, Tim Vidal e Caiçara Vibration. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Bruno Graziano. Arte: Mariana Cristal Hui. Montagem: Marcio Hashimoto. Som: Raoni Gruber, Caio Guérin, Armando Torres Jr e Martin Grignaschi. Trilha sonora: Marcelo Botta, Tião Carvalho, Boi da Betânia, Edivaldo Marquita, Misael Pereira, A Barca, Henrique Menezes, Black Roots, entre outros. Produção: Salvatore Filmes. Produção: Gabriel Di Giacomo, Marcelo Botta. Coprodução: Canal Brasil. Produção associada: Marcio Hashimoto, Marcelo Campaner e Ventre Studio. Produção: Gabriel Di Giacomo, Marcelo Botta. Produção executiva: Maria Isabel Abduch, Luciana Coelho. Distribuição: O2 Play. Duração: 121min.
Outros segmentos se imiscuem em meio às estórias supracitadas, como as frustrações de pescadores que lidam com a pletora de lixo internacional nas zonas reservadas ao seu ofício ou a própria saga de Antônio Filho para encontrar uma escola onde possa concluir o Ensino Fundamental. Apesar de ultrapassar as duas horas de duração, o ritmo deste filme é quase videoclipesco, denunciando as experiências prévias do realizador com as narrativas televisivas (ele teve uma passagem marcante pela emissora MTV, por exemplo). Mas a edição de Márcio Hashimoto merece um elogio pela audácia com que conjuga tantos nucléolos de convivência, todos em torno da protagonista Betânia, que declara que “a sua internet é a memória”…
Irregular em mais de um aspecto, “Betânia” consegue converter este apanágio numa demonstração de vigor, sendo mui exitoso na valorização das belezas regionais (para a qual, a fotografia de Bruno Graziano é assertiva) e no respeito pelas pessoas envolvidas neste projeto. As filmagens aconteceram na primeira metade do ano de 2022 e, como tal, representaram um esforço inaudito na consolidação da filmografia local, visto que Maranhão ainda é um Estado com pouca tradição em longas-metragens cinematográficos. Através de elipses temporais e ‘flashbacks’ recorrentes, esta produção abarca convenções de mais de um gênero fílmico: é cômico, por vezes; dramático, em sua maior parte; possui uma ou outra seqüência de aventura; e, em seu conjunto, é uma declaração de amor pelos habitantes maranhenses. Fazemos questão de aplaudi-lo, portanto!
Vinheta da Mostra
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Horários de exibição
17/10
19:30
CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS
24/10
15:00
CINESYSTEM FREI CANECA 1
Para adquirir ingressos do filme, clique aqui.
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