quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Coriga: Delírio a Dois, de Todd Philipps



Após cinco anos do lançamento de ''Coringa'' (ler texto aqui), Todd Phillips retorna ao ''Universo alternativo da DC'' com uma continuação para a jornada humanizada do arqui-inimigo mais famoso e adorado do homem morcego. ''Coringa: Delírio a Dois'' traz Joaquin Phoenix de volta a pele do personagem Arthur Fleck, trabalho que o consagrou com seu primeiro Oscar. O aceite para estar no filme marca sua carreira por ser a primeira continuação da qual ele participa (o ator só possuía papéis originais em sua filmografia). Ao lado dele, temos a cantora e atriz Lady Gaga interpretando Lee Quinzel, uma subversão de Harley Quinn, personagem criada por Paul Dini e Bruce Timm, para a série animada do Batman, em 1992, onde era figurinha constante no grupo de Joker e que, posteriormente, foi levada para o mundo dos quadrinhos quando ganhou também mais aventuras e uma história origem.

Com uma caminhada similar ao seu antecessor, a produção também esteve no Festival de Veneza. Desta vez foi indicada ao prêmio de ''Melhor Filme'', mas não levou o ''Leão de Ouro'', prêmio principal do evento. Contudo, a trama que conta como se dá o encontro entre Coringa e Arlequina esbanja musicalidade e foi vencedora na categoria de ''Melhor Trilha Sonora'' por conta das composições de Hildur Guðnadóttir, artista também responsável pela trilha do primeiro filme. O elenco tem a participação do ator irlandês Brendan Gleeson como um dos guardas do Asilio/Prisão Arkham, Jackie Sullivan. e da atriz norte-americana Catherine Keneer como a advogada de Arthur, Maryanne Stewart. Steve Coogan vive Paddy Meyers e aparece entrevistando Arthur prestes a ser julgado. Harry Lawtey interpreta o promotor Harvey Dent e Zazie Beetz e Leigh Gill fazem pequenas participações, a primeira é a vizinha de Coringa e o segundo, o ex-colega de Palhaçaria.  

O longa, se esforça, mas não entrega um roteiro bem construído. É criativo, desde o título, no entanto, não apresenta ao espectador um real impulso na jornada do vilão atormentado que Arthur passou a ser. A adição de alguém tão louco quanto Coringa para que juntos e apaixonados vivam seus delírios não dá liga e a pouca construção de personagem que é entregue para Lady Gaga (Lee Quinzel) não convence o espectador pela falta de cuidado com este segundo arco. Ademais, o nível de amor louco e obsessivo para ''um duo com nuances parecidos'' não se evidencia.

Trailer



Ficha Técnica
Título original e ano: Joker, 2024. Direção: Todd Phillips. Roteiro: Todd Phillips e Scott Silver — baseado nos personagens criados por Jerry Robinson, Bill Finger,  Bob Kane, Paul Dini, Bruce Timm. Elenco: Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson, Zazie Beetz, Steve Coogan, Harry Lawtey, Leigh Gill, Ken Leung, Jacob Lofland, Bill Smitrovich,  Sharon Washington, Alfred  Rubin Thompson. Gênero: Musical, Drama, crime, suspense. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Hildur Guðnadóttir. Design de Produção: Mark Friedberg. Fotografia: Lawrence Sher. Edição: Jeff Groth. Figurino: Ariane Phillipes. Direção de Arte: Dan Webster. Empresas Produtoras: DC Entertainment, Warner Bros,  Joint Effort, Village Roadshow Pictures, Quebec Film and Television Tax Credit. Distribuidora: Warner Bros Pictures. Duração: 02h19min.

Apesar de querer se distanciar dos quadrinhos, o filme se inicia com uma animação poética que dá uma relembrada no que ocorreu com Coringa no último filme. Dali partimos para onde ele está, a prisão de Arkham. Seus dias são escuros e sempre seguindo as regras dos guardas. Um deles, Jackie, se afeiçoa de Coringa e o leva para cima e para baixo dentro da prisão. Seja para as ouvidorias com a advogada ou para realizar entrevistas na tevê, porém quando quer também é mal e bate no preso. Sabendo que estão fazendo ''musicoterapia'' como forma de reabilitação, Jackie inscreve Arthur nas aulas e o deixa livre para conhecer uma loura descabelada que viu passando certo dia, apenas pelo simples prazer de ter o seu momento também. Arthur a pede um cigarro e logo ele se encanta da moça, esta última diz ter um histórico de ''perversa'', pois ateou fogo na casa dos pais. Os dias passam e, enquanto o assassino de cinco civis é preparado pela advogada para dizer no julgamento que possui uma personalidade a parte que o faz ter comportamentos ruins, ele também se encontra as escondidas com Lee, a baixinha loura das aulas de música. Por todos os dias depois que a conhece, Coringa fantasia estar em noitadas dançando e cantando com ela ou até mesmo apresentando um programa de talkshow, como o de Murray Franklin, o apresentador que ele matou durante uma entrevista.

O julgamento de Arthur mobiliza a cidade de Gotham e Harvey Dent, o promotor da acusação, chama testemunhas como a ex-assistente social que atendia o assassino, a ex-vizinha, o ex-colega de trabalho e médicos que o avaliaram. O momento se torna preocupante quando o acusado decide tomar a frente e solicitar ao juiz e ao júri que ele possa se defender sozinho, já que não concorda com os argumentos da defesa no caso. Sem qualquer lucidez e fantasiando por um lugar de ''paz'' com a amada, já que a mulher o motiva a ser caótico e assumir de vez seu outro eu, ele se joga em um caminho sem volta.

Créditos de Imagens: ⓒ Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
O primeiro trailer do filme a chegar ao público atingiu 167 milhões de visualizações em menos de 24 horas, uma marco recorde de tempo que só ''It - A Coisa'' (2017) havia conseguido quando recebeu 197 milhões de views.

Joaquin Phoenix dá um show e se entrega em demasiado ao personagem. Tem a fisicalidade transformada novamente para evidenciar um Arthur esquelético e esbelto que chega a assustar. Para o papel, tem um dever de casa a mais e precisa aparecer sapateando e cantando, algo diferente do que o ator está acostumado a fazer, e ele consegue se sair bem em todas as facetas que precisa dar a Coringa, ainda que não seja nem cantor ou dançarino profissional. O que talvez não consiga fazer Phoenix brilhar mais é realmente o texto de Scott Silver e Todd Philips que parece titubear no que havia feito no primeiro filme e não sair muito do lugar, não evoluindo o personagem em nada (ou ditando como um ''herói'' sem o ser). Outro ator que se destaca pela força performática que tem é Brendan Gleeson, o para sempre ''Olho-Tonto'', de Harry Potter. O guarda que interpreta é vil, engraçado, artístico e que lembra muito o que se viu nos desenhos. Seus momentos em cena são algumas das boas escolhas do filme, aliás. O que propicia o entender de que pessoas mentalmente instáveis merecem um tratamento adequado e não as costas do Estado, ainda que presas.

Créditos de Imagens: ⓒ Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
A produção foi rodada inteiramente nos Estados Unidos onde teve como palco os cenários dos Estúdios Warner, a cidade de Nova York e Nova Jersey e ainda Los Angeles, na Califórnia.

Quando conhecemos Harley Quinn nas animações e, logo depois, nos quadrinhos, a personagem é tida como uma ''capanga, aliada, amante'' de Coringa. Totalmente musical, Quinn é vista cantando e dançando com seu muso inspirador. Como origem, sabe-se que ela era psicóloga em Arkham e que seus encontros com Coringa a fizeram se apaixonar loucamente por ele. Arlequina, seu nome de anti-heróina, chegou a ter uma repaginada no Universo DC e passou a integrar o ''Esquadrão Suicida'' e até mesmo a deixar para trás o que sentia por Joker e iniciar um relacionamento com a amiga Hera Venenosa. Na tevê, e, mais recentemente, ganhou uma série só dela (Max, 2019) com quatro temporadas. Em 2016 e 2018, foi vista nas telas com seu grupo de vilões suicida e salvadores, mas foi em 2020 que ganhou uma produção para narrar sua jornada: ''Aves de Rapina - Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa'', narrativa que exibe a médica não ligando mais para o amor doentio que sentia por Coringa. Nos filmes, o público já estava acostumado com a maravilhosa Margot Robbie vivendo a personagem, mas para integrar a realidade alternativa deste outro ''Coringa'' foi escalada a cantora e popstar Lady Gaga, protagonista de filmes como ''Nasce Uma Estrela'' (Bradley Cooper, 2018) e '' Casa Gucci'' (Ridley Scott, 2021).

O casting parece ideal, Gaga é musicista, compõe e canta como ninguém. A escolha talvez deixasse os fãs mais árduos com aquela pergunta ''então será mesmo um musical?'' e sim, o filme tem uma pegada intensa de musicais. Assim, se assiste não só Arlequina cantar e tocar, mas Coringa é visto vocalizando que ''não está mais só, pois tem alguém agora'' ao passo que ''delirando'' canta ''For Once In My Life'', de Steve Wonder. Os dois juntos, ainda que nos sonhos, também fazem um dueto de ''That's Entertainment!'', de Judy Garland, e inúmeras outras canções dos anos 60 que enaltecem a arte daqueles tempos. Gaga tem química com Phoenix, atua bem, mas a personagem adentra a trama sem muita consistência e a construção do roteiro a faz ser rasa e sem qualquer brilho na tela. Ao passo que Quinn era uma médica e atuava em Arkham, aqui Scott e Phillips dizem que a moça é ''uma patricinha do Uper-East Side'', bairro glamuroso de Nova York, que se apaixona pela loucura de Coringa sem mais, nem menos e se interna no mesmo lugar que ele para assim o conhecer e o idolatrar. Da mesma forma, a mulher se afasta de Arthur quando não quer lidar com os problemas mentais do homem fragilizado, mas somente com sua fama e poder sobre multidões, que não ligam muito para ele quando é condenado. Os direcionamentos para Lee Quinn se tornam então frouxos e cheios de angústia ao espectador visto que há pouco ''delírio'' da parte dela e o encontro ''mental'' que poderia ocorrer entre esses possíveis amantes, não vem de forma sólida.

Filmado para IMAX, o longa tem cenas belíssimas (muitas com alto contraste de luz, escuridão e cores) e que são dignas de musicais da Broadway (até remetem a clássicos como ''Ritmo Louco'', de 1936, com Fred Astaire e Ginger Rogers). Logo, a problemática nunca foi e nunca será o entusiasmo musical que apresenta, afinal, a trilha sonora e a lista de canções usadas são de ótimo bom gosto. O que torna a experiência sem sentido é mesmo um resultado final muito aquém do que prometeu ou do que poderia ser. Um abuso total chamar para si a responsabilidade de repetir o sucesso do filme anterior e não entregar sequer um roteiro melhorado.

Avalição: Duas danças sem ritmo (2/5).

HOJE NOS CINEMAS

Um comentário:

Pseudokane3 disse...

Uma pena que o filme tenha decepcionado tanto Pessoalmente, não gosto muito d primeiro, mas estou curioso pelas sequências musicais desta continuação!

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