''Vermines'', de Sébastien Vanicek, em um primeiro momento, aparenta ser um filme de terror com aranhas como protagonistas. Na trama, Kaleb, vivido pelo jovem Théo Christine, é um colecionador de insetos de todos os tipos inimagináveis e vive com sua irmã Manon (Lisa Nyarko) em um prédio velho localizado na parte ''feia'' de Paris, a pobre. Por inocência, o garoto leva para casa uma aranha altamente venenosa e que ganha condições perfeitas para rapidamente botar centenas de ovos e contribuir para o crescimento de sua espécime no local, o que coloca a todos no edifício em risco. Quando as primeiras mortes por contaminação com os ataques começam a acontecer, o governo coloca o lugar em quarentena e ninguém mais consegue sair dali. O dia agitado em diversos andares faz os moradores não perceberem o que está acontecendo e apenas uma pessoa terá a resposta para o enorme número de aranhas rondando as escadas e corredores, além dos apartamentos de todos.
A tradução literal para ''Vermines'', no bom português, é 'vermes'. E para o diretor a narrativa apresenta uma forma criativa de abordar uma temática muito relevante na França: o racismo que pessoas pretas de origem árabe sofrem e que acontece há séculos (no país mulheres mulçumanas são atacadas constamente e muitos jovens franco árabes são mortos por grupos de extrema direita). Para Vanicek o papel ''das aranhas'', os insetos malditos que nunca são bem vindos, representa o forte simbolismo de como uma parte da população sofre perseguição por serem que são, não exatamente por representarem perigo, já que qualquer individuo em auto defesa, ataca o outro para se defender. O longa não escancara seu ideal político, mas aqui e ali temos varias deixas convincentes que se conecta a mensagem que o diretor quer passar. No Brasil, o filme recebeu o título de ''Infestação'' levando a cabo a ideia de que uma proliferação em massa dos aracnídeos causa horror e saindo para um lado menos ativista da ideia original, já que o resultado final da produção, permite.
Com inicio de estreias em festivais em setembro de 2023 e estreias comerciais em dezembro daquele ano, o Brasil é a penúltima janela de estreia do filme, que chega aos cinemas na Alemanha só em novembro. A distribuição ficou por conta da Paris Filmes.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Vermines, 2023. Direção: Sébastien Vanicek. Roteiro: Sébastien Vanicek - com argumento em diálogos e cenários de Florent Bernanrd. Elenco: Théo Christine, Lisa Nyarjo, Sofia Lesaffre, Finnegan Oldfield, Marie-Philomène Nga, Jérôme Niel, Emmanuel Bonami, Ike Zacsongo. Gênero: Terror, Drama. Nacionalidade: Estados Unidos e França. Trilha Sonora Original: Xavier Caux e Douglas Cavanna. Fotografia: Alexandre Jamin. Design de Produção: Arnaud Bouniort. Edição: Thomas Fernandes e Nassin Gordji Tehrani. Figurino: Marlene Herve e Marie-Lola Tever. Empresas Produtoras: My Box Proctions, Tandem, Netflix, France Télévision. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h46min.
A tela se abre e o espectador contempla um deserto ensolarado e carros se dirigindo a um lugar de rochas e muita, muita areia. Um dos homens que os veículos transportava inicia uma espécie de procura quando chega ao local, enquanto os outros se preparam para ajudá-lo. Quando o individuo encontra um buraco que parece abrigar habitantes do solo, joga uma fumaça verde que imediatamente chama um punhado de aranhas ao solo. Um dos bichos é rápido e logo ataca um deles, exatamente quem jogou o gás no espaço delas. Os outros conseguem fugir dali com inúmeras caixas repletas de ''exemplares'' dos animais, mas não antes de dar fim ao sofrimento do colega gravemente ferido.
Algumas dessas aranhas desconhecidas acabam indo parar em um ''inferninho'' cheio de bugigangas que o jovem Kaleb (Theo Chistine) costuma visitar. Conversando com o vendedor, logo fica maluco pelo animal de inúmeras patas, que demonstra estar imóvel, mas não morto. Ao chegar em casa, um prédio antigo que Kaleb reside com a irmã Manon (Lisa Nyarko), vai para o seu quarto e coloca o bicho em uma caixa de papelão onde costuma por os sapatos importados que vende. As cenas seguintes apresentam o circulo de amigos dos dois irmãos. O boxeador Mathys (Jérôme Niel), o amigo de infância Jordy (Finnegan Oldfield) e namorado de Manon, além da amiga do grupo Lila (Sofia Lesaffre), e também alguns dos vizinhos como Toumani (Ike Zacsongo), Claudia (Marie-Philomène Nga) e etc. Após essa apresentação dos personagens no local, a câmera se volta para o interesse de Kaleb na aranha e quando ele vai a procurar, ela não está mais no local que foi deixada. A cena da fuga do bicho, claro, é exibida em tela e provoca arrepios, afinal, ela pode estar em qualquer lugar do quarto bagunçado do rapaz. Sem saber o que fazer, ele apenas tranca o lugar e vai dormir na sala. Os próximos momentos vão se voltar para a reforma do apartamento dos dois irmãos e a entrega de um sapato ao vizinho Toumani. É neste momento que os ataque de aranhas se iniciam e teias começam a infestar o local. Com o passar das horas, Kaleb confessa o que houve, após muitos pedidos do grupo de amigos, e quando todos já estão correndo um risco absurdo. Assim, por muitos minutos, o filme faz o espectador acompanhar os ataques, que não são lá tão assustadores, e o grupo tentando sair vivo do prédio.
Crédito de Imagens: Paris Filmes / Divulgação / My Box Productions, Tandem, Netflix, France Télévision
A produção do filme utilizou cerca de 200 aranhas da espécie ''Sparassidae'', chamadas de ''Aranhas Caçadoras'. Os aracnídeos são os maiores já encontrados e apesar de serem venenosos às presas, aos seres humanos a picada só causa dor e inchaço.
O mais intrigante no filme é que as aranhas são retiradas do deserto em um tamanho normal, apesar de já bem grande, mas é no prédio antigo, na periferia parisiense, e sem exatamente ter contato com nenhum tipo de liquido ou algo que mude seu DNA, que elas chegam a tamanhos exorbitantes. A ideia de que todas elas vão atacar as pessoas e adentrar seus corpos lembra bastante o livro de Ezekiel Boone, ''A Colônia'' (veja aqui). A trilogia, publicada no país pela editora Companhia das Letras, aborda uma espécie de aranha carnívora encontrada na América do Sul e levada aos Estados Unidos que ou come seres humanos o usa seus corpos para botar ovos e depois morrer. No entanto, o tamanho das aranhas não se altera. E vira uma epidemia global. O texto de Vanicek, contudo, é mais contido ao território francês e com leves semelhanças a obra de Boone. Ademais, ele usa o personagem de Kaleb como causador da situação, mas muito porquê ele alimentava carinho e admiração pelos bichos. Vê-se isto na cena em que ele não demonstra medo de uma aranha gigante e pede que os colegas façam o mesmo.
Para o bom fã do thriller, são quase duas horas de teste de agonia. Mas os ataques não causam muitos sustos. O uso do drama com o arco do passado dos irmãos é dosado a jornada deles para saírem vivos. Há também uma briga de amigos no meio e eles também precisam assistir vizinhos queridos serem achados mortos com aranhas em suas cabeças e bocas. A policia francesa faz a contenção do local, mas acaba também sendo vitima e no fim só um destino poderá salvar a cidade inteira do alastramento dos bichos.
Algo que se destaca no filme é o uso do Hip Hop. Do inicio ao fim da película, músicas de rap dão o tom de uma população a margem e vivendo como pode. A escolha de uma fotografia mais escura e esverdeada vai se alongando durante o filme devido a falta de recursos que o prédio recebe como o corte de energia e o total lacramento do local. O grupo de Kaleb acaba passando por muitas provações para sair vivo, mas nem todos são vencedores, algo que diz muito da realidade de pessoas perseguidas, o que nos leva a ideia por trás da narrativa de horror apresentada.
Sébastien Vanicek tem uma carreira ainda em construção, é ator, roteirista e diretor. ''Vermines'' é seu primeiro longa-metragem e ganhou três prêmios em festivais diversos, um deles o ''Fantastic Fest''. O diretor já aparece listado para um possível spinoff de ''Evil Dead'', então é guardar seu nome naquela listinha de ''promete muitos bons filmes no futuro''.
Avaliação: Três mordidas de criatividade. (3/5)
HOJE NOS CINEMAS
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