MOSTRA BRASIL
Exibido no FIDMarseille
“Quebrar o brinquedo é mais divertido”…
A abertura de “Parque de Diversões”, de Ricardo Alves Jr., é sedutora: alguém lê o poema “Ludismo”, de Orides Fontela [1940-1998], enquanto reconhecemos a prodigiosa artista Bramma Bremmer caminhando pelos ambientes noturnos onde ocorrem os encontros sexuais deste filme. Na verdade, reencontramos o quarteto que protagonizou o ótimo “Tudo o que Você Podia Ser” (2023), trabalho anterior do diretor, naquelas caminhadas gozosas. O resultado não é tão bem-sucedido, infelizmente: o filme não se decide entre o ‘soft porn’ e a instalação audiovisual, ficando no meio-termo entre ambas as impressões…
Não é um trabalho desprezável, obviamente: por mais que as intenções sejam melhores que a execução em si, há instantes inspirados, como aquele em que um jovem negro descreve os contatos eróticos entre dois homens para um cego, mais velho, antes que este seja beijado por um dos homens em pauta. Mas, na maior parte dos setenta minutos de duração, a indecisão supracitada enfada o espectador. Principalmente, se ele não for praticante/simpatizante dos atos homossexuais!
Em mais da metade da projeção, irrita, no filme, o que parece ser uma incondizente pudicícia: a nudez é parcial, a pouca iluminação dos cenários não permite que vejamos adequadamente o que acontece, em diversos momentos. Se, por um lado, isso é verossímil, no que tange às ocorrências simuladas, por outro, isso entra em confronto com o maneirismo da encenação. Há influências de Kenneth Anger, Tsai Ming-Liang e Yann Gonzalez nas elaborações imagéticas, mas sem o mesmo “feitiço”…
Crédito de Imagens: Cajuína Audiovisual / Divulgação
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Parque de Diversões, 2024. Direção: Ricardo Alves Jr.. Roteiro: Germano Melo. Elenco: Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Will Soares e Igui Leal. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Ciro Thielmann. Direção de Arte e Figurino: Luiz Dias e Luiza Palhares. Montagem: Henrique Zanoni. Edição de Som: Delani Lima. Trilha Sonora Original: Dellamud. Produção: SanTelmo + Entre Filmes + Quarta Feiras Filmes. Coprodução: Thiago Macêdo Correia. Produção Associada: Nabis Film Group. Produzido por: Julia Alves e Ricardo Alves Jr.. Distribuição: Cajuína Audiovisual. Duração: 70min.
Conforme antecipado, um dos aspectos mais interessantes deste filme é reconhecer alguns dos intérpretes, mas eles falam pouco, seus personagens não chegam a ser efetivamente delineados. Investe-se, claro, em emulações fetichistas (o homem que molha as mãos na urina de outro, por exemplo), mas estas soam quase burocráticas, sem a paixão requerida, tanto quanto a dança ao som de “Atomic”, da banda inglesa Sleeper. É quase tudo excessivamente ensaiado, inespontâneo, enfadonho!
O que não quer dizer, insistimos, que o filme não instaure desejos (mais teóricos que práticos, aliás): a cena em que um rapaz maquiado pede que outro se dispa, lentamente, possui um charme peculiar, que perde um pouco do impacto quando a cueca “sensual” difere da indumentária sóbria. Como lemos, à frente, que houve alguém creditado pela escolha dos figurinos, lamenta-se que estes tenham investido mais no exotismo que na circunstancialidade. É um julgamento de valor o que estamos fazendo aqui, de modo que fazemos questão de declarar que a nossa desapreciação não deve, jamais, inibir a curiosidade de outrem em relação à obra. Para quem conhece a região de Minas Gerais onde se desenrolaram as filmagens, ou pratique sexo casual, as deambulações mostradas no filme são mui convidativas!
Abrindo um necessário parêntese – pensado pelo diretor –, produções cinematográficas que utilizam imagens de sexo (quase) explícito obrigam a platéia a confrontar os seus próprios pré-conceitos (e preconceitos) quanto à sexualidade. Como tal, o trecho final, em que várias ejaculações são montadas, em paralelo, atinge o elã erotógeno até então ausente. Anunciado diversas vezes, mas ausente. Tal qual uma transa demorada e mui coreografada, “Parque de Diversões” converte em imagens aquilo que aparece na primeira estrofe do poema utilizado como epígrafe: “Os cacos são outros reais/ Antes ocultos pela forma/ E o jogo estraçalhado/ Se multiplica ao infinito/ E é mais real que a integridade: mais lúcido”!
Podendo ser apreendido como uma delirante continuidade do documentário anterior, esta obra há de encontrar o seu público cativo e proporcionar masturbações refletidas, em relação aos gozos mostrados em tela e à vontade de conhecer o Outro, nem que seja através de encontros fortuitos, tanto física quanto animicamente. Independente de termos apreciado ou não o filme, que ele faça côro à necessidade de sensualizar o cotidiano, de não obliterar que, no dia a dia, há quem não reprima seus anseios, quem não se furte à coragem de se desnudar. Podemos nos encontrar na pista de choque, mais tarde?
Vinheta da Mostra
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Horários de exibição
25/10
21:45
RESERVA CULTURAL - SALA 2
27/10
15:50
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO
29/10
18:15
CINESYSTEM FREI CANECA 6
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