Super/Man: A História de Christopher Reeve, de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui


A tragédia que acometeu o astro de cinema Christopher Reeve, ao ficar paralisado do pescoço para baixo, após um acidente a cavalo, em 1995, acabou modificando os planos do ator e o levando a advogar por aqueles que, como ele, não mais eram donos de seus movimentos. Reeve é considerado por muitas listas e fãs o melhor Superman das adaptações para as telas e os filmes seguem sendo os mais apreciados pela cultura geek visto a época que foram produzidos, onde efeitos práticos é que estavam no comando e não o CGI. Para abordar mais desse período de vida do ator - 1995 a 2004 - os cineastas Ian Bonhôte e Peter Ettedgui entregam ao mundo ''Super/Man: A História de Christopher Reeve''. O documentário tem produção da DC Studios e HBO Documentary Films e fez sua estréia no Festival de Sudance desde ano, onde causou enorme comoção. De lá pra cá, a película foi exibida em mais seis festivais, entre eles, o Festival do Rio, no inicio do mês. 

Sem se ancorar no ''apelo emocional'' ou explorar os traumas vividos pela família, a produção é honesta e deveras excelente em sua proposta. O formato é daqueles conhecidos como ''talking heads'' e o público assiste entrevistas inéditas da família Reeve - os filhos e a ex-mulher aparecem delineando a relação com o falecido ator e todo o processo da paralisia. Susan Sarandon, Whoopi Goldberg, Glenn Close, Jeff Daniels, são alguns dos atores com quem ele trabalhou e cada um conta como se deu o encontro deles no palco. Além deles, imagens de arquivo do grande amigo de Christopher, Robin Williams, dos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama e muitos outros estão no vídeo para salientar passagens da vida do ator. A narração do filme é realizada re-utilizando os audiolivros de Christopher Reeve, ''Still Me'' (1998) e ''Nothing Is Impossible'' (2002).

O falecimento de Christopher Reeve ocorreu em 10 de outubro de 2004 e o filme foi lançado no vigésimo aniversário da data aqui no Brasil com sua exibição no Festival do Rio e comercialmente no último dia 17. Brasil, Argentina, Cingapura, Reino Unido, França e Irlanda recebem o longa com distribuição da Warner Bros. Pictures, já nos Estados Unidos o lançamento ficou por conta da Fanthom Events.

Trailer



Ficha Técnica

Título Original e Ano: Super/Man: The Christopher Reeves Story, 2024. Direção: Ian Bonhotê e Peter Ettedgui. Roteiro: Ian Bonhotê, Peter Ettedgui e Otto Burnham. Participações de: Matthew Reeve, Will Reeve, Alexandra Reeve Givens, Susan Sarandon, Whoopi Goldberg, Glenn Close, Jeff Daniels, Brooke Ellison, Gae Exton, John Kerry, Kevin, Johnson, Laurie Hawkins, Jane Seymour. Imagens de arquivo de: Christopher Reeve, Dana Reeve, Barbara Johnson, Robin Williams, Barack Obama, Johnny Carson, Bill Clinton, Hillary Clinton. Gênero: Documentário. Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original:  Ila Eshkeri. Fotografia:  Bryan Twz Brousseau. Edição: Otto Burnham. Empresas Produtoras: DC Studios, HBO Documentary Films, CNN Films, Words + Pictures, Passion Pictures,  Misfits Entertainment,  Jenco Films. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 01h44min.

O documentário apresenta ao espectador dramas pessoais de Reeve que muitos não imaginavam ser possível. Um deles, que o pai do ator era extremamente exigente e não dava a mínima para o trabalho que o filho exercia, mesmo quando este conseguiu o papel de sua vida, o de interprete do homem de aço. O jovem alto e esbelto e com perfil de modelo se dedicou ao estudo de teatro na escola de artes mais aclamada de Nova York, a Julliard, em um acordo com a Faculdade Cornell, onde ele estudava previamente a decidir encarar a vida de ator por definitivo. Sua audição para entrar no programa de teatro foi ao lado do também ator Robin Williams e os dois, muitas vezes, estavam quase exclusivamente sozinhos em aulas específicas da faculdade. Assim chegaram a desenvolver uma bela amizade que duraria por anos afim. 

Christopher conheceu inúmeras companhias de teatro na Escócia e na França, e também iniciou trabalhos na Broadway em peças com Katherine Hepburn, William Hurt e Jeff Daniels. Foi exatamente no seu deslanchar teatral que o levou para um teste em Londres para perseguir a carreira no cinema como Superman. Seus olhos brilharam pelo filme quando soube que Marlon Brando interpretaria o pai do protagonista e seu arqui-inimigo seria vivido por Gene Hackman. O resto o público viu nas telas, contudo, pouco se sabe é que durante as gravações do primeiro filme, ao final dos anos 70, a vida pessoal de Reeve também se transformou, pois foi quando ele conheceu a executiva de moda Gae Exton e do relacionamento de quase dez anos nasceu Matthew Reeve e Alexandra Reeve Givens. O casal não chegou a se casar e durante o tempo que estiveram juntos, se separaram e voltaram muitas vezes, por conta dos inúmeros indícios de ''affairs'' por parte de Reeve. Quando se puseram um fim na relação em 87, o ator tomou seu tempo para viver uma vida sem regras e todo o seu sucesso como solteiro, mas ainda naquele ano conheceu a sua segunda companheira, a cantora e atriz Dana. Quatro anos mais tarde, e depois de fazer terapia por medo de se comprometer, já estavam vivendo juntos e em 1992 o primeiro e único filho do casal nasceu, William.

Os três filhos de Christopher Reeve contam que o pai era um esportista nato, afinal, desde criança se dedicou a isto na escola jogando Hockey, Futebol, Tênis e Baseball. E sempre que estava com as crianças os incentivava a praticar esportes, entre os quais, cavalgar. Competitivo e dedicado a mostrar excelência para assim chamar a atenção de seu pai, Reeve se colocou muita pressão a vida toda e antes ao acidente matinha uma relação com Matthew e Alexandra permeada por ausências e que cresceu e se aprofundou com o segundo casamento, muito por insistência de Dana. Matthew e Alexandra também revelam que após o acidente passaram a ter mais conversas com o pai e desenvolverem melhor a relação entre eles. Já Will, que era muito pequeno quando o acidente ocorreu, não tem memória ativa do pai sem a cadeira de rodas e todos os cuidados necessários com pessoas a sua volta. Assim, todo o seu período consciente já foi com o pai vivendo uma longa batalha para voltar a andar.

                                  Credito de Imagens: © 2024 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved
O longa recebeu seis indicações no ''Critic's Choice Documentary Awards''

O documentário toma tempo para falar da depressão que o ator sentiu ao entender o que aconteceu e também do seu retorno ao trabalho. Os incentivos dos amigos, principalmente, de Robin Williams, e até mesmo um convite muito especial da Academia que levou Christopher ao palco do Oscar dez meses após o acidente cavalgando foram essenciais. A aparição significou muito e se declarou ali a exigência de reconhecer as pessoas com deficiência física e a inclusão destas. Dali em diante, Reeve continuaria seu tratamento, mas com um olho no mundo das artes. Dirigiu dois filmes para a tevê, ''Armadilha Selvagem'' (1997), estrelado por Glenn Close e Whoopi Goldberg e com a participação do ainda garoto Will Reeve, e ''A História de Brooke Ellison'' (2004), filme biográfico de uma garota norte-americana que ficou quadriplégica muito jovem e sempre teve a mãe ao seu lado para tudo. Chegando até mesmo a ir a universidade. O papel de Brooke foi interpretado por Lacey Chabert, a Gretchen de ''Meninas Malvadas'' (Mark Waters, 2004). Christopher teve a ideia para o longa após conhecer Brooke e passar muito tempo conversando com ela sobre a vida, carreira e etc. Seu ativismo também se tornou cada vez mais forte e junto com a esposa criaram a ''Christopher Reeve Foundation'', que nasceu da união com a APA (American Paralysis Research) e anteriormente se titulava ''Stifel Paralysis Research'', em homenagem a Henry Stifel, um jovem que também perdeu os movimentos aos 17 anos. A fundação bancou inúmeras pesquisas científicas e tratamentos para que não só o ator conseguisse realizar seu grande sonho, mas muitas outras pessoas que sofrem de paralisia. Infelizmente, Christopher faleceu em 2004 vítima de uma parada cardíaca. Um ano após sua morte, Dana veio a óbito, vitima de um câncer. Assim, os filhos passaram a administrar tudo e a mãe também foi homenageada, pois seu trabalho no lugar foi muito relevante e assim seu nome passou a ser parte da fundação que hoje é conhecida como Christopher & Dana Reeve Foundation.

Em 2009, a luta do casal foi reconhecida pelo governo de Barack Obama quando este corroborou o ''Christopher and Dana Reve Paralysis Act'' (disponível aqui). O Ato, fundamentado em lei, direcionou $25 milhões de dólares para as causas de paralisia. Desde pesquisa e tratamento a suportes distintos aos que necessitavam de apoio financeiro. Hoje em dia, a sementinha que Christopher Reeve plantou já é vista em várias partes do mundo, pois tratamentos avançados estão auxiliando pessoas a se locomoverem. Além das diversas pesquisas com célula tronco que continuam em andamento e que o ator também foi um dos grandes defensores. 

Os diretores trazem um recorte fidedigno a história de Christopher Reeve e que se conduz por acontecimentos na vida pessoal, na carreira no cinema e na advocacia pela causa da paralisia. Claramente trará os espectador as lágrimas, mas de nenhuma maneira o filme é apelativo ou desrespeitoso a família Reeve. Revela sua dor, seus percalços, sua fortaleza e sua grandeza. Christopher e Dana são motivo de inspiração e estão para sempre marcados na história como um casal que lutou pela vida e pelo amor. Os fãs vão ter mais e mais incentivos para amar o ídolo.

Avaliação: Cinco voos para a eternidade (5/5).

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Bárbara Kruczyński

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