A Fanfarra, quarto filme do diretor Emmanuel Courcol, conta a história de Thibaut Desormeaux (Benjamin Lavernhe), que, ao ser diagnosticado com leucemia e realizar vários testes de compatibilidade com sua irmã, Rose (Anne Loiret) descobre que foi adotado recém nascido. Buscando sobreviver e conhecer mais de sua história, ele encontra seu irmão de sangue, Jimmy Lecocq (Pierre Lottin) e o choque de realidade entre os dois costura uma trama familiar que aquece o coração.
O longa se inicia com Thibaut regendo, sons tomam conta da tela, há uma movimentação muito compassada na câmera, seguindo o ritmo da música. A regência se estende até que ele se sente mal e desmaia. Nesse ponto, o filme possui uma montagem muito inteligente, escolhendo não exibir cenas de exames e em salas médicas nesse primeiro momento, explicando assim toda a situação num diálogo entre o homem e sua irmã. A edição, de forma geral, tem grande destaque pelas quase duas horas de duração, principalmente em se tratando de uma película que trata de música de forma tão pessoal, ''En Fanfare'' nunca perde seu ritmo.
A partir dessa conversa e dos exames de compatibilidade que fazem, a médica revela que Thibaut e Rose não são irmãos de sangue, o maestro confronta sua mãe (Ludmila Mikaël), que revela a adoção dele em tenra idade. O filme, neste momento, poderia optar por dois caminhos, seguir o drama de descoberta e o conflito entre a mãe e o filho nessa falta de transparência, ou deixar tudo isso de lado e focar na busca dele pela sua família biológica. Entretanto, demonstrando mais uma vez um controle de narrativa muito forte, o diretor escolhe superar esses dois pontos e já corta para o encontro de Thibaut e Jimmy Lecocq.
Crédito de Imagens: Festival Varilux de Cinema Francês | Divulgaçaõ | Agat Films & Cie
Thibaut é um grande maestro, com uma carreira consolidada, realizado profissionalmente e com uma família amorosa. Jimmy é um cozinheiro que toca trombone numa fanfarra local, ele é pai, ele também foi adotado, depois que os pais faleceram. Num primeiro momento, Jimmy parece não acreditar, mas a aproximação deles parece inevitável, os atores demonstram uma delicadeza na atuação muito tocante, a desconfiança e o desejo de acessar aquela pessoa, nesse conflito inicial, é muito crível.
Jimmy faz o transplante de medula e os irmãos passam a conviver mais, o amor pela música os une e os fascina. Thibaut se vê questionando o motivo de não terem sido adotados juntos, de Jimmy, que tem uma aptidão musical tão forte quanto ele, não teve as mesmas oportunidades que ele teve, o personagem se vê em dívida, não apenas pela medula, mas por toda a trajetória deles. Quando a trama avança, os confrontos com a mãe adotiva ficam esparsos e mal encaixados na narrativa, até mesmo com a irmã.
Thibaut emprega esforços para incentivar Jimmy a seguir treinando o trombone, seguir buscando a melhora, passa a ensinar sobre regência e presenteia o irmão com um trombone novo. Jimmy também deseja conduzir, continuar tocando, aprender e aperfeiçoar o dom que possui, mas as condições materiais o impedem de praticar durante muitas horas do seu dia. A história tem um quê de A Princesa e a Plebeia, mas sem a troca de papeis.
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: En Fanfare, 2024. Direção: Emmanuel Courcol. Roteiro: Khaled Amara, Oriane Bonduel, Emmanuel Courcol, Iréne Muscari, Marianne Tomersy. Elenco: Benjamin Lavernhe, Pierre Lotin, Sarah Suco, Jacques Bonnafé, Clémence Massart-Weit, Anne Loiret, Mathilde Courcol-Rozès. Gênero: Comédia, Drama. Nacionalidade: França. Trilha Sonora Original: Michel Petrossian. Fotografia: Maxence Lemonnier. Edição: Guerric Catala. Design de Produção: Mathé. Direção de Arte: Mathé, Rafael Mathé. Empresas Produtoras: Agat Films & Cie, Indéfilmes 12, France 2 Cinema, Entourage Sofica 2, Canal+. Distribuição: Bonfilm. Duração: 01h43min.
O maestro ensina sobre o que sabe, enquanto aprende com Jimmy mais sobre a história dos dois, como era a mãe deles, onde moravam, o que aconteceu depois que ele foi adotado, como foi a vida dele, as suas dificuldades, seus medos e anseios. O filme fica muito poderoso quando os irmãos estão juntos, mesmo que não estejam conversando, há uma química muito grande entre os atores.
E, nessa dinâmica, a narrativa avança até uma breve ruptura entre eles, quando as condições materiais de ambos são exarcebadas. Jimmy vê a Fanfarra acabar, perde seu emprego por ajudar os funcionários grevistas da fábrica da cidade, está irritado por não conseguir ser tão bom quanto gostaria. Thibaut não está completamente alheio a isso, mas sua vida agitada o impede de intervir, mas ele decide o fazer para mostrar ao irmão um comprometimento. Algumas subtramas são pouco desenvolvidas, muito por opção da direção, mas que ganham peso no momento certo.
O elenco de apoio da fanfarra é excelente, tem um tempo de humor bem cronometrado. A história em si é bem simples, mas com um ritmo empolgante, conseguindo dosar humor e drama de forma competente, desenvolvendo as situações e os personagens de forma sólida. A montagem deixa o filme enxuto e objetivo, mas não sem coração, há uma ebulição de sentimentos em tela que envolve o espectador na história numa conexão forte. Ao fim, a música une e fortalece os laços, tanto para a luta de classes, quanto para a família.
AVALIAÇÃO: Quatro abraços apertados (4/5).
SERVIÇO
Festival Varilux de Cinema Francês
De 07 a 20 de novembro
Nas salas de cinemas de 60 cidades ao redor do país
Apoio: Embaixada da França, Aliança Francesa, Câmara do Comércio França-Brasil, CCBB, UNIFRANCE.
De 07 a 20 de novembro
Nas salas de cinemas de 60 cidades ao redor do país
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Para informações sobre o festival, basta acessar: https://variluxcinefrances.com/2024/
O Festival Varilux de Cinema Francês é realizado pela produtora Bonfilm e tem como patrocinadores principais a Essilor/Varilux, Pernod Ricard/Lillet, Axa, Michelin, além do Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Estado de Cultura e Economia Criativa, Lei Estadual de Incentivo à Cultura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura. Outros parceiros importantes são as Alianças Francesas, a Embaixada da França no Brasil, as empresas Edenred, Air France, Fairmont (grupo Accor), além das distribuidoras dos filmes e os exibidores de cinema independente/de arte e as grandes redes de cinema comercial.
Sobre a Bonfilm
Além de distribuidora de filmes, a Bonfilm é realizadora do Festival Varilux de Cinema Francês que, nos últimos 14 anos, promoveu mais de 35 mil sessões nos cinemas em todo o Brasil e somou um público de mais de um 2 milhões de espectadores. Desde 2015, a Bonfilm organiza também o festival Ópera na Tela, evento que exibe filmes de récitas líricas em uma tenda montada ao ar livre no Rio de Janeiro, e com uma edição também em São Paulo em 2024. Visite: www.bonfilm.com.br
Um comentário:
Excepcional a leveza do humor, do sentimento de fraternidade e da generosidade nas doações. Emocionei - me às lágrimas!
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